segunda-feira, novembro 22, 2004

"A VILA" de M. Night Shayamalan

O Rei do Suspense está vivo. Depois de “O Sexto Sentido”, “O Protegido” e “Sinais”, Shayamalan tem em “A Vila” o seu filme mais complexo e mais técnico.
Para quem estiver à espera de um filme de terror com monstros a saltar em tudo o que é plano, que tire o seu cavalinho da chuva e poupe o dinheirinho do cinema, mas quem quiser ver uma obra surpreendente de um génio realizador e argumentista, “A Vila” é sem dúvida uma grande escolha.
As emoções do filme não deixam de ser muitas entre elas o medo, mas esse medo passa ao lado de qualquer um, pois acima de tudo este filme mostra-nos os limites e até onde vamos por amor... até enfrentar o desconhecido!?!
Em termos de argumento este é o mais complexo de todos os “Shayamalan”, o mais elaborado e o que mais riscos teria ao ser transportado para a tela, pois o ritmo do filme não podia ser muito, havia muito para as imagens dizerem e Shayamalan controlou isto de uma maneira mágica, tendo neste filme conseguido aquele que será o sua melhor cena e plano, pois de plano em plano transportou-nos de uma sensação de terror para uma sensação de ternura com o culminar de uma relação amorosa. Possivelmente dos grandes momentos de cinema dos ultimos anos.
Quanto à realização, para além do que foi dito, Shayamalan tem uma técnica em evolução, em comparação com os seus anteriores sucessos, reparamos que algo muda, o maior deslizar da camera, as panoramicas, as sequencias, tudo em benefício da história.

“A Vila” é um filme que por muitas razões transportamos connosco durante város dias, embora não seja um filme de terror é um filme de grandes e fortes sensações, posso dizer que depois de o visionar a 2ª vez será uma obra marcante na minha vida, será daqueles filme que quando os meus amigos me perguntarem, “Que filmes achas que deva ver?”, eu respondo sem dúvidas “A VILA”.

O MELHOR: Tudo o que se possa imaginar

O PIOR: Procurem!?!

Como é usual, Shayamalan faz uma pequena participação no seu filme, sendo desta vez de uma maneira surpreendente.

ROLLCAMERA
Presents
OLIVER STONE

Oliver Stone nasceu em 1946, na cidade de Nova York.
A intensidade que o caracteriza faz com que se goste ou se odeie. Com Oliver Stone não há meio termo.
Existe algo de europeu em Oliver Stone, pois força a sua audiência a escolher um dos lados, para além de ser um dos poucos realizadores políticos, sendo por isso caracterizado pela coragem ao abordar temas como os de “Platoon”, “JFK” e “Assassinos Natos”.
Ao longo dos anos tem mostrado uma ligeira retenção da sua agressividade, mas diz quem o conheçe que o seu interior ainda ferve.

“MASTERCLASS WITH OLIVER STONE”

Em tempos pensou ensinar a arte de fazer filmes, mas não teve coragem de largar o seu trabalho, acima de tudo por dinheiro.
Quando entrou na N.Y. Film School, teve professores inspiradores, Haig Manoogian (produtor) e o seu pupilo Martin Scorsese (Realizador).
A sua participação na guerra do Vietnam é a sua principal influência, até à sua ida para a guerra era uma pessoa muito cerebral que se refugiava na escrita, mas a sua estadia no Vietnam mudou tudo, primeiro porque não podia escrever devido à humidade e segundo porque resolveu comprar uma camera e aí descobriu a sensualidade da imagem.
Martin Scorsese foi muito importante para Oliver Stone, pois os seus 3 filmes até conhecer Scorsese tinham sido terriveis, e também porque foi Scorsese que o levou a utilizar a sua experiência de guerra.
Depois surgiu “Last year in Vietnam” de 12 minutos, que lavava sobre o “clash”, sobre o encontro das experiencias de guerra e a vida em N.Y. Quando o mostrou aos outros estudantes percebeu que os filmes devem conter a própria vida, o que é aceite na Europa, mas nos Estados Unidos é considerado como “Egomaniaco”:

“A film is a point of view, everything is just scenery”

O que Oliver Stone acha mais interessante nos filmes é os pensamentos por trás da história, sendo o resto apenas cenário.
Para Oliver Stone fazer um filme é uma arte colaborativa, “Um domingo qualquer”, teve 3700 planos e 6 editores, e a isto ele não chama “arte cooperativa”, pois tem de haver um pessoa a ter uma visão para que o trabalho de outros trabalharem coerentemente.
Á sua maneira todos os seus filmes acabam por ser filmes de guerra, é a única ligação que encontra entre eles.
Fez o guião para “Scarface-A força do poder” de Brian De Palma, ao início tinha feito um filme de Gangsters, mas De Palma transfomou-o numa espécie de Ópera.

“Independence is a fake”

Não entende o debate entre estúdios e independentes.
Sente que os estúdios são uma parte essencial do mercado, mas operam de maneira caótica, que para quem souber tirar proveito disso é muito proveitoso.
Fez 12 filmes dentro dos grandes estúdios, mas de alguma maneira sentiu que os fez de forma independente.
O lado bom dos estúdio é a distribuição, porque permite que os filmes cheguem a um maior numero de publico.
A audiência tende a mudar e nunca se sabe o que a audiência espera, parte dessa mudança deve-se ao facto de as audiências cada vez mais estarem viradas para o formato de televisão. Esta mudança fez o cinema americano mais suave nos ultimos 20 anos.

“The script is not a bible”

Filmar é a parte mais complicada, pois se correr algo mal já não há 2ª hipótese, pois isso tem sempre uma lista de 15-20 planos que quer filmar no dia, e começa sempre pelo mais importante.
Normalmente tem a cena pré-concebida, mas está sempre disposto a modifica-la, pois acha que o trabalho não deve ser demasiado rígido, deve ser fluído.
Tem de se saber esperar até encontrar a essência da cena, por isso gosta de fazer ensaios antes da rodagem.
Filma com várias cameras. Em “JFK” filmou com 7 cameras e a cena do assassinato foi filmada durante 2 semanas

“Every actor have limitations”

Sente que a maior parte dos jovens realizadores teem medo dos actores.
Têm cultura tecnica mas não se sabem relacionar com os actores.
Fica parvo com o facto de alguns realizadores fazerem excelentes filmes, pondo apenas o actor frente à camera.
Os actores “forçados”, teem melhor performance.
Tem de se fazer um “casting” para descobrir o actor, porque existem muitas limitações e muitos não conseguem ir muito além daquilo que são.
Woody Harelson e Julliete Lewis(“Assassinos Natos”), surpreenderam muita gente, e muitos acharam um escolha sem caractér. Embora se relacionassem mal fora do ecran, durante o filme funcionaram. Woody tinha muita raiva escondida e Julliete tinha uma energia selvagem dentro dela.
As grandes “estrelas” são importantes nos filmes, mas é complicado agradar a todas, pois se tiverem um personagem secundário, sentem-se sub-usados.

“I control nothing”

“Script is everithing”, foi a maneira que Stone foi educado, mas hoje pensa que muito é feito pelo guião.
Os estúdios investem em guiões perfeitos que às vezes não resultam.
Quando leu o guião de “Pulp Fiction”, pensou que o filme era demasiado “falante” e que não ia resultar. Quando viu o resultado, deparou-se com algo completamente diferente. Pois, existem coisas que não se podem escrever, a maneira que um actor olha para outro e são estas pequenas coisas que são tudo no filme.
Pensa que como realizador, não tem control sobre tudo.

E no fim de tudo, pode ser o filme a dirigir-nos em vez de ser-mos nós a dirigi-lo.

fonte: "Movie Makers Masterclass" de Laurent Tirard

domingo, novembro 21, 2004

“Resident Evil 2: Apocalipse” de Alexander Witt

No final do primeiro filme, ficou claro que iria existir um segundo e cá está!!!
E para variar um bocadito, o segundo é bastante inferior ao primeiro.

A premissa do filme é facil, tudo começa onde o 1º acabou e uma empresa (Umbrella) meteu o pé na argola mais uma vez e criou umas máquinas de aniquilar tudo e todos. Apartir daqui, tiros, socos, gritos, tiros, explosões, zombies, tiros e efeitos especiais.
O vazio narrativo é escandaloso, se existem filmes em que é possível contar uma história sem uma imensidão de diálogos, este “Resident Evil2” não consegue, limita-se a colocar manobras de motorizada e saltos de arranha-ceus que não lembram a ninguém.
Outro grande erro, foi o não aproveitamento do que o filme poderia ter de melhor, que eram as sequencias de luta, corpo a corpo, sendo estas filmadas em planos tão apertados que tornavam as lutas imperceptiveis. Já para não falar de uma rídicula “quase” história de amor entre Alice e Nemesis.
No final ficamos a pensar que falta algo, e esquecemos o filme rapidamente e claro que já fica parte do trabalho feito para um terceiro filme, ou se calhar já fica o trabalho limitado para o 3º filme!?!


O MELHOR: Apesar de tudo os 10 minutos finais.

O PIOR: Acima de tudo o vazio narrativo

domingo, novembro 14, 2004

ROLLCAMERA
PRESENTS...
Tim Burton nasceu em Burbank, Califórnia em 1958 e hoje é um dos mais aclamados realizadores em todo o mundo, com uma legião enorme e fiel de fans.
Burton cresceu fascinado por Vampiro, Zombies e filmes de terror baratos. Mas quando decidiu que queria entrar no mundo do cinema, queria seguir pelos caminhos da animação e por isso entrou para a equipa da Disney, mas rapidamente se apercebeu de uma grande diferenças de estilos, mas aproveitou todo o material que tinha a sua disposição e trabalhou num projecto seu, que de início seria apenas um livro para crianças e que acabou por ser uma curta-metragem, "VINCENT". O sucesso foi tal, que Tim Burton sentiu-se encorajado e fez "FRANKENWEENIE", desta vez uma curta metragem mas de "live-action" e mais uma vez o sucesso foi tal que lhe ofereceram a realização de "PEE-WEE'S BIG ADVENTURE".
Nesta altura não conseguia acreditar que as coisas tinham corrido tão facilmente, Tim Burton acreditava que teria mais dificuldades em arranjar emprego como empregado de mesa.
O melhor treino para um reaçizador é a animação, porque obriga a trabalhar todos os aspectos, luz, edição e até mesmo representar, mas acaba por preferir o cinema, pois não se torna tão solitário e intimista e o convívio com as pessoas aumenta devido a ser um trabalho de equipa, pois quando Burton trabalhava sozinho sentia que "alimentava" o seu lado negativo da sua personalidade e as ideias surgiam um pouco negras.
"IF I WROTE, IT WOULDN'T MAKE SENSE"
Burton na realidade não escreve, mas gosta de estar sempre envolvido no acto da escrita. Um realizador tem de fazer o filme ele próprio e isso tem de acontecer antes de começar a filmar, por exemplo no caso de "EDUARDO MÃOS DE TESOURA", Burton apenas "realizou" a escrita, mas no final sentiu que o material era mais seu que dos próprios argumentistas.
Um dos motivos pelo qual Tim Burton não escreve, é o medo que tudo se torne demasiado profundo e pessoal e lá no fundo isso seria um entrave para o seu objectivo, que é apenas contar uma história.
O facto de preferir as histórias encantadas deve-se ao facto de assim tudo se tornar mais sensorial e menos literário.
"YOU DON´T KNOW BEFORE YOU SHOOT"
Segundo Tim Burton a melhor abordagem para a realização de um filme é a expontaniadade, não se deve levar ideias pré- concebidas para o set de filmagens. Daí nunca se dedicar muito aos Storyboards que na maior parte das vezes serão um entrave, até porque as grandes e decisivas decisões são tomadas na ultima hora.
"USE WHAT´S INSIDE THE ACTOR"
Tim Burton não chama os actores para um casting, pois sendo essa pessoa um actor ou actriz, de certeza que sabe actuar.
A escolha de Johnny Depp para "EDUARDO MÃOS DE TESOURA", deveu-se apenas ao facto de Depp ser uma estrela de uma serie televisiva para adolescentes e EDUARDO ser uma personagem completamente diferente e que agradava a Depp.
Martin Landau como Bela Lugosi em "ED WOOD", porque Landau começou a sua carreira a trabalhar com Hitchcock e acabou a carreira a trabalhar em pequenos papeis na televisão, e Tim Burton pensou que assim sentiria o que Bela Lugosi sentiu.
Michael Keaton para "BATMAN", foi uma escolha que muita gente não percebeu, mas Burton sentia-se fascinado pela sua personalidade um tanto quanto psicótica.
"EVERITHING SURPRISES ME - AND THEN AGAIN, NOTHING DOES"
Tim Burton nunca acreditou quando outros realizadores lhe diziam que tudo estaria como tinha imaginado. Para Tim Burton isto é impossível, pois existem muitos aspectos que não se podem controlar, tanto no dia a dia, como no set de filmagens... no final tudo é uma surpresa.
fonte: "Movie Makers Masterclass" de Laurent Tirard

sexta-feira, novembro 12, 2004

"Land of Plenty- Terra da Abundancia" de WIM WENDERS

Não era um conhecedor da obra de Wim Wenders, mas recentemente fui "obrigado" a olhar para Wenders de outra maneira.
O que vou dizer pode parecer absurdo, mas não o é de certeza. Ao contrário de todos aqueles que veem toda a obra de Wenders, eu segui o caminho contrário, o primeiro filme do alemão que eu vi foi " Million Dollar Hotel", e amo esse filme, gosto do visual, gosto da poética envolvente gosto daquela falta de ritmo. Só depois vi "Buena Vista Social Club" e "Lisbon Story". E agora muito recentemente vi aquele filme que me deixou de braços caidos e de boca aberta "As Asas do desejo".
De todas as obras que vi de Wim Wenders não consigo encontrar muitas diferenças, não vejo um muito pior nem outro muito melhor, mas tenho de admitir que "Land of Plenty" é uma das melhores.

"Land of Plenty- Terra da Abundancia" será uma especie de "Fahrenheit 9/11", mas sem uma vertente politica e com uma elevada e graciosa componente humana.
É a história de um homem atormentado desde os tempos do Vietnam e que após os ataques terroristas de 11 de Setembro, se ve envolvido pela sua mente numa guerra e decide patrilhar as ruas da sua cidade, tudo o que ve pode ser um atentado, pode ser um acto de destruir o seu amado país. Mas ele também é procurado, por uma sobrinha que vive num mundo "longinquo" de paz e de ajuda aos outro, esteve durante anos em missão cristã em África e na Palestina e tem uma visão totalmente antagónica da do seu tio.
E o filme desenrola-se nas diferenças e na procura da aceitação e a aproximação resultará de um acontecimento inesperado.

Em si, "Terras da Abundancia" é uma pérola. A luz de cada plano delicia o olhar, mas como o próprio Wenders perfere, o que melhor é absorvido é a história, uma fantástica procura pela vida, uma viagem ao "desconhecido", sempre de uma forma poética. A carga emocional é muito bem controlada e transmitida por uma dupla de actores super dinâmica,John Diehl e uma cativante e apaixonante Michelle Williams, numa personagem absolutamente deliciosa que enche cada plano de Wenders.
Um filme completo, uma obra de um visionário.

O MELHOR: Um filme que enche a alma, que nos mostra a complexidade humana

O PIOR: Falta uma componente mais polémica.