domingo, dezembro 11, 2005

ENTRE AS IMAGENS

"Hiroshima Mon Amour" de Alain Resnais (1959)

O mote para a «Nouvelle Vague» – movimento cinematográfico francês dos finais da década de 50 encetado ferozmente por um grupo de críticos vindos na maior parte da «Cahiers du Cinema», fartos do artificialismo barato de um certo cinema e inspirados por verdadeiros autores, dai a criação da politica dos autores, como Jean Renoir, Orson Welles, Alfred Hitchcock….e muitos outros – foi dado por Jean-Luc Godard com o libertador “O Acossado”, por François Truffaut com o nostálgico “Os Quatrocentos Golpes” e com o mais lírico, o mais desesperadamente belo, poético e um dos filmes mais urgentemente românticos alguma vez realizado: “Hiroshima Meu Amor” de Alan Resnais.

Em Hiroshima um homem e uma mulher perdem-se de amores, ela é actriz, está lá a rodar um filme e partirá para o seu pais no dia seguinte, ele habita em hiroshima e no dia seguinte nunca mais a verá.

Ela vive em Paris uma vida que não quer viver, ela conta o seu passado até ai aprisionado e insondável ao homem como forma de eternizar um amor condenado, ele não quer continuar a sua rotina de Pai de Família, ele quer largar tudo e ficar com a mulher.

A Mulher é “Nevers”, o Homem é “Hiroshima”, e o filme fica como o canto mais profundo, mais sensível, o mais louco e terminal amor que o movimento libertário francês nos ofereceu no seu período dourado...sobretudo porque a irrisão temporal, narrativa, enfim a sua total liberdade e pureza surge revestida, investida de uma sensação de apocalipse nascente da proeminente impossibilidade de um amor...os sentimentos, os gestos, os olhares, os corpos estão suspensos e assombrados pelo fantasma do fim e do consequente regresso a uma normalidade desprezível.
E o facto de este amor acontecer nesta cidade contamina o filme com uma gravidade simbólica inafastável.

E depois, claro: como nos filmes de Godard, como nos filmes de Truffaut, como nos filmes mais representativos da Nouvelle Vague, onde poderemos incluir Chabrol, Rivette ou Rohmer e outros, sente-se que o que se está a ver e a sentir é inidentificável, híbrido...com a inocência das primeiras vezes.

Hiroshima meu amor têm a beleza assustadora das coisas que não duram...têm a mais bela cena de amor alguma vez filmada, a mais arrepiante voz-off, um final enigmático...Hiroshima meu Amor é o mais belo poema “Nouvellevaguiano”...e é um dos mais apaixonantes objectos artísticos, uma das experiências mais transformadoras alguma vez executadas.

Mas é literalmente uma obra onde as palavras surgirão sempre em perca para a descrever, é um filme para habitar, para nos deixar perder nos seus labirintos na sua vibração interior…

2 Comments:

At 10:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Tenho de confessar que é 1 dos filmes que ainda não vi que mais quero ver. Sempre que me lembro desse assunto(filmes que não vi que mais quero ver) lembro-me sempre deste. Pode não ser muito saudável este enorme entusiasmo(o tal jogo das expectativas) mas esta belíssima crítica ainda elevou mais 1 pouco a fasquia:P

Cumprimentos

 
At 7:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Você está certo quando fala que HMAmour é um filme para se 'habitar', ou em resposta, ele nos habita, nos toma. O tom dramático atinge seu pico com as tentativas de desvencilhamentos mútuos. A razão travando a luta inaudível com as emoções, num diálogo de surdos. O cio vence o cansaço, mas o inacabamento se precipita sobre nós e o filme vive.

 

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