sábado, julho 09, 2005

"A Guerra dos Mundos" de Steven Spielberg

por: NeTo



Steven Spielber e Tom Cruise , desde logo são dois nomes que asseguram, um bom resultado de bilheteiras e uma possível qualidade cinematográfica. Os resultados de bilheteira estão garantidos, quanto à qualidade em parte também o é, embora algo mais fosse de esperar.

Colocando de parte qualquer comparação em termos d fidelidade à obra literária de H.G.Welles, ou até mesmo à versão cinematográfica de Byron Haskin em 1953, estamos assim perante uma "nova" "Guerra dos Mundos", que nos apresenta desde o seu início uma clara marca "spielberguiana", a família... a família incompleta, a família destruida, que pelo meios da destruição, do cataclismo, acabará em grande parte por ser reconstruida, diga-se a relação entre os filhos e o pai irresponsável e ausente.
Era já previsível que não estariamos perante um mero "blockbuster" de verão, onde as forças bélicas mostrariam o seu poder, onde a destruição em grande escala encheria cada plano ou em que cientistas tentariam encontrar as explicações mais loucas para o que sucedia. Aqui estará talvez a principal qualidade de Spielberg, "esconder" por detrás de um cenário fantástico, uma história terna e dramática, apartir das personagens, e não apenas e só dos efeitos especiais. E em "A Guerra dos Mundos" somos colocados a viver a experiência ao lado de uma família, nunca existe claramente um aproveitamento militar ou cientifico, aunto à exploração política, não passará despercebida aos mais atentos, "são os terroristas" ouvimos por vezes, ou no primeiro contacto que temos com Harlan Ogilvy (Tim Robins) em que desde logo é possivel marcar um paralelismo entre as suas palavras e o 11 de Setembro, "em dois dias conseguiram derrotar a maior potência mundial".

A história dramática, a recuperação da relação e a preocupação de um pai (Tom Cruise) com os seus filhos (Dakota Fanning e Justin Chatwin), podia e devia ser mais aprofundada e alongada, vincar claramente o conflito que se vivia no seio daquela "família", para isso se o iníciotivesse uns minutos a mais, penso que a narrativa ficaria a ganhar. Enquanto uns pedem mais explicações no final, eu gostaria de ver mais explicitas as motivações daquela família. Critica-se por aí, o final que é demasiado rápido e complicado de perceber, se até compreendo no que trata à rapidez (gostava de ver mais família) quanto ao entendimento geral do sucedido penso estar bastante bem explicito visualmente, ao longo da própria narrativa Spielberg vai nos dando a chave para o final (recordo o genérico inicial, que até quase que reforça a ideia de estrutura narrativa circular) e depois ainda existe a voz do narrador que nos mostra claramente o que se passa (um Morgan Freeman arrebatador, a sua voz faz tremer qualquer um).
Tom Cruise é credível, é uma personagem em constantes convulsões e consegue transmitir tudo aquilo que vive e que pensa, mais uma prova que não será uma mera cara bonita de Hollywood. Dakota Fanning, está num registo muito bom, apesar de momentos extremamente irritantes e em que os seus gritos provocam uma irritação do tamanho do mundo, a verdade é que tudo me leva a crer que era um dos objectivos e se assim o é, foi extremamente bem conseguido, assim como em momentos temos uma clara noção do trauma, e da evolução de menina mimada que era, para uma menina carente e afectuosa (a canção de embalar).

Spielberg tinha uma tarefa bastante espinhosa, e o resultado final isso revela, é um filme interessante, mas que devido ao seu argumento, à sua ligeireza dramática e ao ritmo acaba por momentos cansar. Embora o génio de Spielberg se mantenha em duas cenas em particular, o momento de abertura e o fabulosos momento na cave na companhia de Tom Cruise, Dakota Fanning e Tim Robins, mostram claramente que Spielberg está presente. Será mesmo na cave que teremos o melhor momento de cinema, Dakota Fanning, de olhos vendados e de mãos nas orelhas, canta a sua canção de embalar, enquanto que a principal acção ocorre longe dos nossos olhos por detrás de uma parede de madeira, fabuloso, uma carga dramática intensa para a qual contribui a musica, mais uma vez assinada por Jonh Williams.


Também ninguém pode retirar a Spielberg, a capacidade de gerir o suspense que tem, em alguns momentos chega a ser uma imensa agonia estar naquela sala de cinema, para além de em momentos Spielberg recorrer a uma vertente mais cómica no seu filme, que tem momentos interessantes, mas que por outro lado, de vez em quando quebra a carga dramática ou até mesmo o suspense.

Por momentos, existe uma qualidade que não pode deixar de ser referida, e que tal como se tem visto nos ultimos filmes do "mais conhecido realizador mundial", é a direcção de fotografia, tem momentos unicos em que a penumbra invade por completo a tela, e pequenos rasgos de luz, acentuam a acção ou os fortes contra-luz provocam um ar ainda mais arrepiante. O senhor que tem este mérito dá-se pelo nome de Janusz Kaminski.

Assim, "Guerra dos Mundos", não é uma típica versão de "aliens" maléficos que se preparam para destruir tudo e todos, é em parte contida, tem um objectivo e tenta cumpri-lo. Por vezes em alguns momentos pensamos que Spielberg andou a ver "Signs" de Shayamalan, pois grande parte da acção destruidora, desenrola-se longe do nosso olhar, mas perto dos nossos ouvidos.
É um filme interessante, com belos momentos, mas vindo de quem vem, algo mais seria de esperar. Não é o filme do ano, muito longe disso, não é o pior filme do ano, também muito longe disso, mas não é um filme sublime ou uma obra imperdível.

NeTo - 7/10

P.S. - Deixo uma questão, será que a relação entre Ray Ferrier e Harlan Ogilvy, poderá ser vista como a personificação da reacção política ao 11 de Setembro?
Depois deixo apenas duas referencias, não é um filme que pretende realçar e vanglorizar a América, e depois muito curioso que H.G.Welles no seu tempo se tenha apercebido, que a evolução tecnológica não se encontra acima de evolução biológica do Homem.

10 Comments:

At 12:32 da tarde, Blogger Hitler said...

Gostei bastante do teu P.S., realmente H.G. Wells foi um grande escritor de ficção científica.
Concordo com a tua crítica e felizmente não arranjas referências em quase todas as cenas com filmes que não têm nada a ver (Toy Story, Reservoir Dogs, Gone With the Wind). Boa crítica.

 
At 12:51 da tarde, Blogger MPB said...

Cara Ana Marques, eu não sou muito a favor de fazer comparações com outros filmes, a não ser que exista algo extremamente claro, como no caso dos "gags" do "MADAGASCAR".

Neste filme não vejo grande interesse e acho quase impossível encontrar referencias com esses filmes que referiste embora já tenha visto alguem a referir isso.

A comparação com SIGNS só surge pela utilização do espaço off da imagem, não mostrar, colocar as personagens e uma acção a ocorrer fora da visão, apenas sugerindo algo e nao mostrando. Existe por exemplo um momento em que tudo fica escuro e não sabemos o que acontece. Apenas essa comparação me parece possivel ,até porque em bora sejam muito diferentes, tem um aspecto comu, as invasões extraterrestres :D

Cumprmentos e obrigado

 
At 1:26 da tarde, Blogger Hitler said...

Exacto, concordo com o que disseste. Antes do filme ser visto pensava-se inclusive que Spielberg usaria essa técnica para o filme todo, isto é, que nós ficariamos pela imaginação sem ver o que realmente se passava. Mas ainda bem que ficou como ficou.
Eu continua a gostar mais da obra, apesar desta adaptação também está muito boa.

 
At 3:57 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Excelente análise... Passarei a visitar este espaço!

 
At 4:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Obrigada plo comentário no meu post sobre o »Crash«... Só uma coisa... Eu sou uma Lost e não um .. LoL ;)

 
At 5:33 da tarde, Blogger MPB said...

As minhas desculpas "lost in Space" não volta a acontece ;) lol

Cumprimentos e obrigado

 
At 11:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Vim agora do cinema e concordo com a tua análise...esperava-se mais! Analiso em breve no meu blog.

Cumps. cinéfilos

 
At 2:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

tenho o livro mas ainda não tive oportunidade para o ler. não considero que a família Ferrier se intrometa demasiado na invasão e mesmo que alguns considerem que sim, não vejo como pode comprometer o filme. partilho da tua opinião quando dizes que Spielberg deve ter ido beber a "Signs", as semelhanças são indiscutíveis. neste caso também resulta, pois não somos bombardeados com discursos militares heróicos que enfatizam a união dos povos na adversidade e blá blá blá. tudo se passa aos olhos de um cidadão comum que tenta proteger a sua família. e a derrota dos alienígenas? há quem tenha saído da sala de cinema sem perceber a mensagem lol. em suma, gostei bastante do filme. tens aqui um óptimo espaço, passarei a visitá-lo mais frequentemente.

João

 
At 2:57 da tarde, Blogger David Santos said...

muito bom. esperemos pela versão de dvd que tem 150 minutos. É o regresso de Spielberg à ficção cientifica. Parece que tava toda a gente estava à espera de algo transcendente por ser de quem é, mas o que posso dizer é que tomara muitos bons realizadores chegarem aos calcanheres de cenas como a inicial deste filme, a da carrinha, a do barco, a da cave e manter a atenção do espectador até ao final do filme. 8/10

 
At 10:10 da manhã, Blogger susana said...

Vi este filme duas vezes, uma no cinema e outra em casa.Penso que ás vezes exigimos demais,o filme estavas muito bom.As intrepretações estavam excelentes, com especial destaque para Dakota Fanning!Não achei irritante os gritos dela(não era para menos)!!E também não me pareceu mimada, pareceu-me até matura para a idade!A aura de terror que envolveu o filme todo deve-se exactamente a isso que dizem(esperavamos mais)!!
A ausência de cenas mais explícitas é que deu aquela sencação pesada, os ruídos da guerra a aproximar-se,a desolação por toda a parte.Penso que Spielberg quis mostrar mais oe efitos da guerra, que a própria guerra em si!E isso foi conseguido claramente!!

 

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