quinta-feira, janeiro 18, 2007

“Fast Food Nation” de Richard Linklater


Onde está o herói do cinema Americano?

Richard Linklater, é aparentemente um realizador sem estilo, e em boa verdade talvez nem o tenha, mas a sua filmografia, mais recente como este “Fast Food Nation” ou “Antes de Anoitecer” e à mais antiga como “Antes do Amanhecer”, com “Escola de Rock” pelo meio, será possível reflectir sobre uma realidade não comercial, mas puramente “indie”, ao longo da obra de Linklater, e em que “Fast Food Nation” se assume como o estado completo de depuração de um estilo.

Linklater nunca fou um entusiasta pela narrativa simplista e académica, trabalhou com os próprios actores no processo de argumento (Julie Delpy e Ethan Hawke), preocupa-se mais com a forma do que propriamente com a narrativa (Escola de Rock), embora qualquer um dos seus filmes anteriores tivessem o seu quê de experimental e vivendo no interior da Industria Cinematográfica, Linklater possivelmente nunca se conseguiu impor completamente.

Agora ligeiramente fora da Indústria, o espírito “indie” e “maverick” parece manifestar-se de forma clara. Mosaíco de personagem e consequentemente mosaico narrativo, não pela
montagem, mas pela presença física. O suposto herói do filme, que no início parte em procura de respostas, desaparece ao fim de uma hora, os “mártires” são explorados pela superfície e o climax chega apenas formalmente. Não chega a existir o confronto físico entre bem e mal, entre o herói e o vilão, entre a verdade e a mentira, entre os explorados e exploradores. É iminentemente um filme descritivo, possivelmente dir-se-á documental, mas não de forma correcta, é uma opinião, é um complexo ponto de vista e completamente político, não unicamente sobre cadeias de fast-food, mas também de gestão política, abrindo espaço para uma reflexão sobre as leis de fronteira, leis de emprego e um pequeno piscar de olho aos atentados terroristas e ao medo vivido na América actual.

É um filme sem encanto, frio e cruel, que quando parece respirar alguma energia e esperança, num dos momentos mais geniais do filme, um grupo de jovens manifesta-se e tenta criar um futuro à sua imagem, mas apercebem-se e vêm retratado nos animais a apatia do mundo actual, todos estamos mal, mas nada fazemos para mudar e quem luta contra isso nunca é correspondido. É também cruel porque não procura solução, mas manifesta-as, mas existe sinal mais cruel que o confronto final, entre a cultura Mexicana que procura na cultura Americana uma vida melhor e a primeira manifestação é a Fast-Food, entramos no ciclo sem fim, na clara globalização.

Não é, nem poderá ser uma obra-prima, não é nem o quer ser, mas se o cinema não tiver esta coragem, também não vale a pena continuar. Corajoso e arrujado formalmente e anti-narratividade concreta, Linklater parece correr no caminho do experimentalismo formal que se vinha manifestando, resta esperar pela estreia de “A Scanner Darkly” (estreia que só deve acontecer... directamente para DVD), das quais as primeiras imagens são a prova concreta que Linklater é dos grandes realizadores éticos do seu cinema, forma e narrativa de mão dada.

3 Comments:

At 9:30 da manhã, Blogger gonn1000 said...

Também gostei, não é de facto uma obra-prima mas é um filme corajoso, pertinente e acima da média. O Linklater que continue assim e que se deixe de filmitos como "Escola de Rock".

 
At 9:14 da tarde, Blogger MPB said...

Gonn, espero e parece-me que Linklater vai tornar o seu cinema cada vez mais alternativo. Mas de qualquer forma sou um viciado na vertente "Altmaniana" do cinema de Linklater tanto em ESCOLA DE ROCK como agora e de forma clarissima neste FAST FOOD NATION.

Cumps

 
At 4:56 da tarde, Blogger Revista F.I.M said...

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