segunda-feira, dezembro 11, 2006

“Um Ano Mais Longo” de Marco Martins

Este ano enquanto o público português andava distraído com “Filme da Treta”, Marco Martins teve o previlégio de trabalhar com um dos grandes nomes do cinema mundial, o argumentista (talvez mais poeta que propriamente argumentista) italiano Tonino Guerra, responsável por grandes obras europeias e que partilhou experiências, palavras e visões do mundo (cinema) com nomes como, Michelangelo Antonionio (em “L’Avventura”,”Blow up”, “Deserto Rosso” e alguns mais), Vittorio De Sica (em “Amanti” e “Matrimonio all’italiana”), Federico Fellini (em “Amarcord”, “Ginger e Fred” e “ E la Neve va”), Andrei Tarkovsky (em “Nostalgia”) e Theo Angelopoulos (em “To Vlemma tou Odyssea”, “Eternity” entre outros).

E o que resulta desta junção de gerações? 30 brilhantes minutos cinéfilos à exaustão. Com as devidas diferenças respira-se um pouco de “Nostalgia” (como título e como sentimento), o espaço é mais uma vez “actor”, tal qual como Marco Martins havia feito em “Alice”, e agora existe a nostalgia do passado, do presente e do futuro. A Lisboa actual, como espaço transformado e transformador, como elemento de fragmentação e destruição, fisica e psicologicamente.

Novamente um personagem masculino, vagueia só pelas cidades de uma Lisboa estranha, ele não é daquele sítio, não parece ser aquele o seu espaço, parece regressado após longa ausencia. Novamente a personagem chama-se Mário (tal como em “Alice”), mas desta vez encontra algo, talvez não o que procura.
Mais uma vez deparamos com uma contenção narrativa e técnica que nos transportam para um filme formalmente refrescante, apoiado num sólido e destruidor under-acting de Gonçalo Waddington, “Um Ano Mais Longo” mostra-nos uma mesma Lisboa obscura, mas saindo das veias e artérias principais que percorria em “Alice” e caminhando ainda mais para o seu interior, para uma Lisboa ainda mais incognita e irreconhecível e mais uma vez sem mostrar uma identidade Lisboeta. Será que ainda existem Lisboetas?

Após estes curtos 30 minutos de deleite (apesar das más condições de exibição no Festival de Cinema Luso-Brasileiro da Feira), resta dizer que por certo Tonino Guerra não terá dado por tempo perdido a sua colaboração com o novo talento do cinema português que ao que tudo indica irá resultar num novo trabalho, neste caso no formato de longa metragem. O previlégio foi de ambos e ainda bem para nós.

Resta-me pedir encarecidamente que esta “curta-metragem” (bela obra cinematográfica), não caia no esquecimento a ganhar pó numa gaveta qualquer como tantas outras que por aí passam.

2 Comments:

At 8:46 da tarde, Blogger gonn1000 said...

Pela descrição parece interessante, ou não fosse o retrato que Marco Martins apresenta de uma certa Lisboa um dos maiores trunfos de "Alice".

 
At 9:26 da tarde, Blogger MPB said...

Pois. não acho que o retrato seja muito diferente, mas também não é muito diferente...é talvez mais obscura.

Resta esperar por novas exibições.

cumprimentos

 

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