segunda-feira, agosto 15, 2005

"Um Longo Domingo de Noivado" de Jean-Pierre Jeunet (2005)

E assim voltam à ribalta os dois nomes ligados a um dos maiores sucessos do cinema europeu. Jeunet e Tautou, que encheram de alegria e encanto salas de cinema a quando de "O fabuloso Destino de Amélie", voltam a unir esforços, que conjugados, criam uma das mais belas fábulas do cinema de guerra... ou será de amor?

Baseado no livro, "Un Long Dimanche de Fiançailles" de Sébastien Japrisot, Jeunet tinha em mãos um trabalho extremamente complicado, as personagens eram muitas e distribuidas por muitos espaços, a grande parte das pistas e notícias eram recebidas por cartas ou jornais, das quais o livro nos dava a total descrição, e depois tanto descrição espacial como desrição sentimental o livro era pouco directo, espaço esse que foi preenchido na perfeição por Jeunet e os seus argumentistas.

Claramente não é uma adaptação fiel, Jeunet acrescenta momentos que na verdade são mais belos que os do livro, a cena da mão de Manech no peito de Mathilde, é um dos mais belos momentos românticos de que me recordo, simples e tão descritivo, contrariando a relação das duas personagens que era descrita no livro, que nunca nos foi dada com tanta emoção.
Impressionante acaba por ser a centralização que Jeunet acaba por conseguir, a acção que pretende narrar, sem qualqer tipo de dúvida, é o acto de esperança e amor de Matilde, que recebe a notícia que o seu noivo, Manech, foi morto numa trincheira na Terra-de-Ninguém, durante a 1ª Grande Guerra, mas Mathilde ao invés de se conformar com tão horrível notícia, agarra-se a todas as esperanças e procura o seu noivo, assim para quê se perder muito tempo com personagens qe apenas pretendem deixar algumas pistas? Jeunet, apesar do grande numero de personagens que existem no filme, retirou outras tantas que foram criadas por Sébastien Japrisot para o livro, por momentos até pode parecer que aquela ou outra personagem deveriam ser melhor exploradas, mas será isso um desiquilíbrio, ou será apenas um método para atingir a beleza sentimental do amor de Mathilde e Manech que por tantas vezes se perde ao longo do livro. Sendo apenas de apontar a eliminação de um pequeno momento muito perto do final, que tornaria o climax mais dramático e intenso, mas que possivelmente iria perder a "magia" e até o próprio sentimentalismo que Jeunet tanto aprecia.

Jeunet teve o dom de criar pequenos momentos extremamente divertidos, mas que ao mesmo tempo mostram e estimulam a audiência, e que acima de tudo nos fazem acreditar nos sentimentos de Mathilde por Manech. Pequeno jogos ao estilo de "se «isto acontecer Manech está vivo»", são momentos que apenas chegam até nós, pelo grande optimismo e sentimentalismo que Jeunet respira.

A criação de ambientes é fabulosa, desde os momentos de infância do jovem casal, até às grandes batalhas nas trincheiras, o filme é um delicioso trabalho fotográfico e sonoro. A fotografia de Bruno Delbonnel ("O Fabuloso destino de Amélie" e "O miar do Gato"), juntamente com a magnífica banda sonora de Angelo Badalamenti (normalmente trabalha com David Lynch, "Twin Peaks", "Lost Highway" ou "Mulholland Dr."), acrescentam ao filme todo o sentimento, quase que unem as duas personagens que se encontram separadas, alimentando a esperança, juntamente com um fabuloso trabalho de câmara de Jean-Pierre Jeunet.

"Um Longo Domingo de Noivado" é um drama humano, encarado como uma verdadeira fábula, por momentos extremente comovente, mas sem nunca perder um lado muito divertido e sempre, mas mesmo sempre, visualmente forte. Pode por momentos parecer uma verdadeira tragédia, como uma verdadeira prova de vida, onde o amor e a esperança alimentam a procura e a vida de Mathilde... e como é bela a interpretação de Audrey Tautou, criando mais uma vez uma personagem feminina, que acaba por ser uma das mais interessantes dos ultimos anos de cinema, juntamente com a sua Amélie Poulaint, criando o seu espaço, como uma das mais talentosas actrizes da actualidade... e agora que Hollywood a chamou ("The Da Vinci Code"), é esperar que Hollywood não a "consuma".

"Um Longo Domingo de Noivado" é um filme deslumbrante, uma história comovente e uma fabulosa visão que nos permite pensar tanto no amor como na guerra de uma forma bastante diferente, do que até agora foi visto no cinema.

Um filme terno, dramático e imperdível.

NeTo- 9/10


4 Comments:

At 1:02 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não li as tuas impressões pq ainda ñ vi o filme... Tenho-o aqui, num dos proximos dias vejo e depois volto para te ler =)

 
At 7:55 da manhã, Blogger Francisco Mendes said...

Um dos melhores do ano!

 
At 3:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

é tocante. tudo neste filme cheira a perfeito.a tonalidade, as personagens, a musica, os actores e até a escolha nao muito usual da narradora que para alem de ser uma mulher é uma jovem mulher. é intensamente belo. tudo é contado com tal delicadeza e cuidado, que nos comove a força de tal amor que é talvez um dos maiores amores dos ultimos tempos cinematograficos sendo que os actores aparecem juntos apenas por 10 minutos do filme.

 
At 3:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

é tocante. tudo neste filme cheira a perfeito.a tonalidade, as personagens, a musica, os actores e até a escolha nao muito usual da narradora que para alem de ser uma mulher é uma jovem mulher. é intensamente belo. tudo é contado com tal delicadeza e cuidado, que nos comove a força de tal amor que é talvez um dos maiores amores dos ultimos tempos cinematograficos sendo que os actores aparecem juntos apenas por 10 minutos do filme.

 

Enviar um comentário

<< Home