segunda-feira, outubro 16, 2006

Treta como fenómeno cultural?!?

Não é surpresa para ninguém, "FILME DA TRETA" é o filme português mais visto no fim-de-semana de estreia, digno de notícia no Jornal da Noite da SIC, em típica notícia e contagem de Box-office à Americana.

"Zezé, depois de ter uma “visão apocalíptica” durante um espectáculo numa cabine de um Peep-Show, resolve entrar para a Ordem dos Caracolários Descalços. Tóni vai visitar Zezé que está em clausura num mosteiro. O reencontro dos velhos amigos vai fazê-los recuar no tempo e reviver as aventuras e situações cómicas que levaram Zezé a abdicar de todos os bens materiais e entrar neste retiro espiritual."

Valha-me Deus.
Esta é a sinopse deste fenomeno teatral, pos-teatral televisivo, pós teatral/televisivo/narrativo, pos-teatral/televisivo/narrativo cinematográfico (?). Resumindo um tremendo golpe de marketing que serve para alguns mamões que depois de espalharem o seu nome na mediocridade se escondem agora atrás de nomes menos visiveis e vão aproveitando para encher os bolsos e depois ainda se queixam.
O que é certo é que estamos numa crise cultural e consequentemente de identidade, não reconhecemos o país transformador de "98 Octanas", não queremos ou não sabemos ver a Europa de "sonho" de "Transe", ou pior, nem a história ou a pureza da nossa língua pelas mãos de Oliveira conseguimos ver, mas talvez mais estranho a não identificação do mundo que é o Portugal não ilusório de Pedro Costa.
Não sei se é melhor ou pior, se que é preciso existir cinema excremencial para existir o NOSSO cinema, sei que é preciso chamar publico português às salas, mas assim não resulta e vamos a continuar a ver um filme por ano a ter uma audiencia respeitável mesmo sem ser um filme respeitável, ou melhor por vezes sem ser um filme.
O problema deste país são os marcenários que existem por essas escolas foras, que anunciam sempre que têm hipótese que "procuram lutar contra o que é normal no cinema português" e depois tudo é contra, tudo é para fazer dinheiro e nada é para o público.
Não retiro mérito aos dois actores, retiro mérito a quem tem a ideia fantástica de transformar tudo em um produto de marketing.
E não não é só em Portugal, este método é utilizado também em França, só que França ainda que em dificuldades Pos-Bresson, ainda consegue manter uma pequena identidade. Nós nem a mínima.
E para aqueles que dizem que o publico português está de costas viradas com o cinema Nacional, parem de atirar areia para os olhos das pessoas, o discurso já cansa, e digam-me de uma vez por todas quando é que o publico português esteve de mãos dadas com o cinema Nacional???? No tempo da Ditadura??? Que optima resposta e que belo exemplo.... pois é ja estivemos mais longe.


É por TRETAS como estas que Teresa Villaverde já deve estar de malas feitas para trabalhar no estrangeiro! O patriotismo não dura para sempre, Manoel de Oliveira cá vai continuar a lutar pela pureza do seu cinema, e espero que Pedro Costa continue a colocar pedrinhas nas botas de muitos Intelectuais do Marketing e graças a Deus, João Pedro Rodrigues continua em activo.


Não, não sou conservador, não, não sou um amargurado, não, não sou um frustrado, sou apenas um gajo farto de tretas de X e Y, que com as mãos nos bolsos se vão rindo e gozando com a cara de cada um de nós.

7 Comments:

At 11:58 da tarde, Blogger José Oliveira said...

idem, idem, aspas, aspas!

á merda com esses gajos, com o maior sucesso de sempre ou lá o que é...Leonel Vieira já cheira mal com os seus discursos mercantis...depois é o que se vê no ecrã, porcaria atrás de porcaria...esse sim que vá para o estrangeiro...para os States ou para onde quiser com o seu talento singular, qual Fincher...

 
At 10:48 da manhã, Blogger brain-mixer said...

Bem... Encher os bolsos é coisa que duvido que consigam fazer. Mesmo que se torne o filme mais visto, toda a gente sabe que o cinema português não consegue dar lucro "líquido". Só se for pelas festinhas e galas a que estes gajos se vão reunindo é que conseguem encher a barriga :P

Ah e deixa-me ser do contra, mas o 98 Octanas é uma seca tremenda. Pode ser uma amostra de um "país transformador", mas só tem é uma óptima fotografia. É claro que o "filme da treta" não passa de treta mas ao menos é uma aposta ganha num país onde se continua a teimar em filmes "Xatus e aburrexidus"...

E agora a questão: O que é que te dava se anunciassem "GATO FEDORENTO - O FILME"??!?

Cumprimentos ;)

 
At 10:53 da manhã, Blogger Juom said...

Concordo apenas parcialmente com o teu comentário, Ne-To. É uma questão complicada de analisar, obviamente, mas não penso que o "Filme da Treta" seja o verdadeiro problema no meio disto tudo. É minha opinião de que para o cinema português sobreviver tem de haver uma diversidade de produções, temas, projectos, etc...

Claro que este "Filme da Treta" é uma oportunidade para fazer dinheiro. Mas vai fazer dinheiro porquê? Porque aposta em duas personagens com as quais o público português se identifica desde há muito. Ou seja, dá ao público aquilo que ele gosta. Qualquer indústria saudável tem de se reger por estes princípios. Não vejo mal nenhum em tentar levar pessoas às salas e, consequentemente, tentar fazer com que estas se vão habituando à ideia de ver cinema nacional, inclusive aquelas propostas interessantes que têm vindo a aparecer ultimamente. E convém lembrar que o próprio Leonel Vieira já contribuiu para isso mesmo com o seu excelente filme "A Sombra dos Abutres".

Agora, é preciso ter em conta que nem sequer parece credível que um filme do Manoel de Oliveira venha a atrair as mesmas pessoas que vão ver a Treta. Da mesma maneira que ninguém espera que nos Estados Unidos as mesmas pessoas que vão ver o "You, Me and Dupree" vão ver o "Dead Man" do Jarmusch. O problema maior, até nem me parece que esteja na produção cinematográfica que se faz por cá, mas sim nas manobras de marketing. Um filme não acaba quando está concluído, mas sim quando se fez de tudo para que este fosse visto pelo grande público. "Alice" foi um caso de relativo sucesso, e penso que para isso muito contribuiu também a gestão do marketing que, embora modesto quando comparado com toda a "máquina SIC", foi muito bem direccionado. Não se pode exigir público se não se sabe como chegar a ele. E, para concluir isto que já vai largo, dou como exemplo os trailers dos dois últimos filmes do Fernando Lopes, "Lá Fora" e "98 Octanas" - produtos claramente falhados na tentativa de chamar a atenção do público para ver o filme. E não está sequer em causa a qualidade dos filmes propriamente ditos, mas sim o esforço que eles próprios fazem para serem vistos, que tem de ser muito bem pensado para combater a monotonia destes tempos de tretas, morangos, flores e grandes irmãos.

Um abraço :-)

 
At 12:14 da manhã, Blogger Carlos M. Reis said...

Isto é um tema complicado. O Gomes e o Feio não tem culpa de quererem ver um desejo seu de sempre transformado em realidade e que o mesmo seja mais aptecido pela maioria do que o resto que se faz em Portugal.

E acho que a questão "Cultura" já deixou de existir. Existe agora a questão necessidades. Basta ver as estatisticas, para ver que as pessoas vão cada vez mais ao cinema para se divertirem. Seja com obras nacionais ou internacionais. Ninguém tem paciencia para ir ver boa fotografia, bom drama, boa realização mas pouca piada. As pessoas querem rir-se, querem entertenimento, querem acção. Principalmente os grupos que hoje vão ao cinema. Seja o Transe português ou o Transe de Hollywood, as pessoas ligam-lhe o mesmo. Agora se puserem o Filme da Treta português, ou o Filme da Treta americano, as pessoas vão aos cinemas. Para estar triste ou enfadonhos basta a sua vida real. A ida ao cinema é para isso mesmo, desanuviar.

Existem excepções, eu, tu, ali e acolá, mas a maioria é assim. E as pessoas preferem pagar a quantia absura de 5 euros para se divertirem do que para ir assistir a pseudo-intectualidades dramáticas. As únicas vezes que consegui juntar um largo grupo de amigos para ir ao cinema (tipo macaquinhos aos grupos de 10) foram em filmes de qualidade duvidosa como os American Pie e os Scary Movies. Queres prova maior? Achas que consigo convencer o mesmo grupo a ir ver o Transe?

Cumprimentos Ne-To!

 
At 10:22 da manhã, Blogger Hugo said...

Subscrevo e assino por baixo.

Em qualquer cso, o puro mercantilismo não pode justificar coisas destas. É possível fazer produtos comerciais com qualidade. Basta um pequeno esforço.

Agora isso da "cultura" já é uma conversa com pano para mangas...

Abraço!

 
At 11:42 da tarde, Blogger MPB said...

Vamos por partes, se por acaso anunciassem que existiria um filme GATO FEDORENTO, procurava e esperava, para ver quem pegaria no filme, que tipo de discurso utilizavam essas pessoas, pois as intenções e pretenções são um dos motivos principais e é a questão de Honestidade que mais conta para mim... e em Portugal muitas vezes se tenta vender algo que nunca será verdadeiramente aquilo que parece. Haverá duvidas que este FILME DA TRETA não é cinema? Quem escreve este argumento escreve-o com que motivações? 3 actos e fazer as pessoas rir de 5 em 5 minutos? Há coisas que não compreendo. França vivia em situação parecida não havia cinema comercial, apareceu LUC BESSON, com Leon o PROFISSIONAL, é comercial é uma bela obra, depois confundiram-se todos e existe comercial miserável em muitas salas francesas.
Nós tivemos BALAS E BOLINHOS, PADRE AMARO, e apartir daí é só descer e fazer dinheiro.

Quanto ao encher os bolsos, acredita que enchem... dá para comprar um carrinho e andar a mostrar na rua ;)

Sei perfeitamente que Manoel de Oliveira e Teresa Villaverde não podem ter o mesmo publico, mas pelo menos o publico que tenha noção de quem são, e mesmo sem verem qq filme portugues para além do PADRE AMARO e 5 minutos de muitos outro, se referem a Manoel de Oliveira ou outro qq realizador, como realizadores lentos ou seca.... Respeito uma questão de respeito para com as pessoas tanto de quem vê cinema, como quem produz, e havendo uma escola por detras da produção, que anuncia querer ir contra ao que se faz normalmente em Portugal, parece-me que não será a melhor maneira para cativar publico, não sei... isto sou eu!

Onde estão os filmes portugueses na TV? as 2h da manha? E onde ta o JURA versão familiar do Crime do Padre Amaro?

Por essas e por outras, que muita gente se farta deste país.

O problema não é fazer dinheiro, já que a arte não existe sem eles, mas é a forma pedante e desesperada que esses pseudo-salvadores-pregadores-intelectuais-frustrados do audiovisual, que me irrita, fazem parecer que o nosso cinema é uma merda, quando a merda nasce-lhes debaixo da mão.

Façam cinema que possas fazer bom dinheiro, mas respeitem uma identidade minima, e respeitem a audiencia.
Para finalizar, ALICE, NOITE ESCURA, OS IMORTAIS, não teriam maior valor comercial do que tiveram? Culpa do publico, mas também parte da culpa do produtor... mas para quê arriscar num país assim??? Sendo que ALICE, ou NOITE ESCURA lá por fora fizeram o seu serviço ;)


E pensem bem, os grandes realizadores comerciais de Portugal, são MANOEL DE OLIVEIRA, PEDRO COSTA e JOAO PEDRO RDRIGUES, pelo menos são aqueles que por esse mundo fora fazem dinheiro e chegam a uma universalidade de publico.

Cinema comercial não é O FILME DA TRETA.

Cumps

 
At 5:30 da tarde, Blogger David Santos said...

ou menos são sinceros


é uma treta de filme

 

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