"The Life Aquatic with Steve Zissou" de
Wes Andersonpor: joseolWes Anderson é um dos realizadores que pertence á chamada nova vaga do cinema americano - juntamente com Alexander Payne, Spike Jonze, Sophia Coppola, David´O Russel ou Paul Thomas Anderson – a chamada Weird Generation.
Ou seja, são os tipos que nos anos 70 veneraram os movie brats – os Coppolas, Spielbergs, Scorseses, etc… – e que hoje em dia baseiam o seu cinema na analise de figuras losers (“About Schmidt”, por exemplo), na construção de mundos próprios e na alteração do mundo exterior (“The Royal Tenenbaums”, por exemplo), na persistência da infância (“Rushmore”, por exemplo), na observação das relações familiares (este “The Life Aquatic With Steve Zissou”, por exemplo) e na captação da banalidade, ou, seja o cinema desta geração procura sobretudo um refugio do estado das coisas assente numa lancinante subtileza, ao contrário da geração de 70 que em vez da subtileza usava sobretudo a megalomania para analisar o que sucedia na vida politica e social de então (o Vietname, etc.).
Em todo o caso como nos anos 70 a critica americana quer vislumbrar nesta geração uma maneira de fazer cinema original, própria e sem concepções, apesar das diferenças.
No cinema de Wes Anderson o motivo é quase sempre a família e as suas relações, tudo construído num mundo muito próprio e claro Weird, já era assim no anterior e a todos os níveis fabuloso “The Royal Tenenbaums”.
Este “The Life Aquatic With Steve Zissou” leva ainda mais longe o conceito, basicamente existe um documentarista (Bill Murray, baseado na figura de Jacques Costeau) que já há muito tempo não assina um êxito, mas desta vez o seu próximo documentário vai servir sobretudo para se vingar de um suposto tubarão que na sua anterior obra devorou o seu melhor amigo. Aquando da apresentação desse novo trabalho conhece um filho há muito perdido, ao mesmo tempo que as coisas entre a sua mulher não vão nada bem, então a solução é por tudo a bordo e partir para uma auto-redescoberta – e é neste cenário caótico (como caótica era a casa dos tenenbaums) que Wes Anderson vai analisando e tecendo as relações familiares, sempre com uma subtileza e uma originalidade riquíssima que pode correr o risco de parecer simplista….mas não….no meio do caos o filme vai bem fundo e fala-nos de coisas importantes que de outro modo seriam dejá-vu.
E todo o filme é assente numa monumentalidade falhada que é no fundo uma metáfora para o que se vai mostrando, cheio de toques Fellinianos até na forma operática como Wes realiza, embora nunca abandonando a subtileza-weird, fazendo deste filme uma experiência única.
O filme está cheio de trunfos desde a fotografia em tons pastel, passando pelo grande achado que é a banda sonora e sobretudo a fantástica ideia que foi colocar Seu Jorge interpretando canções de David Bowie em Português.
Mas o ponto alto talvez seja mesmo Bill Murray e o seu ar sempre distante, sempre a leste dos acontecimentos, sempre irónico e banal, tudo isto ao mesmo tempo – no fundo a figura de Murray é o resumo do cinema de Wes.
Um grande filme que carece de visionamentos múltiplos para se conseguir atingir toda a sua essência, de um dos mais originais e melhores cineastas de hoje.
joseol - 8/10