segunda-feira, outubro 23, 2006

Todos acreditam em (STORY) histórias.


Todos acreditam na história. Assim se poderia resumir a nova obra de M. Night Shyamalan. Ora vejamos, a personagem “central” é uma ninfa, que surge na piscina de um complexo de apartamentos, e o seu nome é Story (História). Apartir desse momento todos acreditam na missão da ninfa, todos a ajudam, todos se unem e ninguém questiona a, “Story”, história.

Vejamos, um ser de outro mundo aparece, naquele micro-cosmos de Universalidade, e ninguém se atreve a questionar, o quê, porquê e para quê, limitam-se a acreditar naquela história, como se de crianças se tratem? Ou melhor como humanos. Não haverá acto mais claro de humanidade do que ajudar alguém que visivelmente necessita da nossa ajuda, sem questionar o porque... e ainda mais quando é uma história. Quantos de nós questionou a história dos nossos pais e avós?

Assim como as suas personagens, Shyamalan acredita na sua história (ou não fosse ele também uma das personagens), acredita e transforma a narrativa como o cerne de todo o seu filme, de todo o seu Universo. Se em tempos se resumia Shyamalan a “um TWIST”, agora o trabalho de resumo está mais complicado, se já não estava em “Sinais” e principalmente em “A Vila”.
E porque acredita Shyamalan na sua “Story”? Porque é ele que a conta e é ele que é narrado, porque para além de um retrato da sua filmografia é um retrato do próprio Shyamalan e até, num acto “pretencioso” longe da ingenuidade característica, Shyamalan projecta o futuro, de forma figurada, mas mesmo assim muito perto daquilo que poderia acontecer e que após a estreia de “Lady in the Water” tem vindo a acontecer.

Podiamos desde logo referir a personagem do crítico de cinema, mas se recordar-mos o diálogo entre Vick Ran (Shyamalan) e Story, na casa de banho, será fácil perceber as questões em relação ao futuro do autor e claramente aquilo que ele sente a todo o mundo que o circula. Vejamos:

"A boy, in the midwest of this land, will grow up in a home where your book will be on the shelf and spoken of often. He will grow up with these ideas in his head. He will grow into a great orator. He will speak and his words will be heard throughout this land and throughout the world. This boy will become leader of this country and begin a movement of great change. He will speak of you and your words and your book will be the seeds of many of his great thoughts. They will be the seeds of change."

A ninfa (Bryce Dallas Howard) dirige-se desta forma a Vick Ran (Shyamalan), e nada poderia ser mais curioso. Como a sua personagem Shyamalan não vê a sua obra reconhecida, mas acaba por inspirar alguém, a mudança está próxima. E assim será, se deus quiser, “Lady in the Water” estará escondido numa prateleira qualquer, devido às críticas de uma América fechada no mercantismo, mas um dia alguém se inspirará neste filme e os modelos narrativos rígidos serão postos em causa.

Shyamalan inspirará alguém, como foi inspirado pelo universo de Hitchcock e Spielberg... existem dúvidas?

segunda-feira, outubro 16, 2006

Treta como fenómeno cultural?!?

Não é surpresa para ninguém, "FILME DA TRETA" é o filme português mais visto no fim-de-semana de estreia, digno de notícia no Jornal da Noite da SIC, em típica notícia e contagem de Box-office à Americana.

"Zezé, depois de ter uma “visão apocalíptica” durante um espectáculo numa cabine de um Peep-Show, resolve entrar para a Ordem dos Caracolários Descalços. Tóni vai visitar Zezé que está em clausura num mosteiro. O reencontro dos velhos amigos vai fazê-los recuar no tempo e reviver as aventuras e situações cómicas que levaram Zezé a abdicar de todos os bens materiais e entrar neste retiro espiritual."

Valha-me Deus.
Esta é a sinopse deste fenomeno teatral, pos-teatral televisivo, pós teatral/televisivo/narrativo, pos-teatral/televisivo/narrativo cinematográfico (?). Resumindo um tremendo golpe de marketing que serve para alguns mamões que depois de espalharem o seu nome na mediocridade se escondem agora atrás de nomes menos visiveis e vão aproveitando para encher os bolsos e depois ainda se queixam.
O que é certo é que estamos numa crise cultural e consequentemente de identidade, não reconhecemos o país transformador de "98 Octanas", não queremos ou não sabemos ver a Europa de "sonho" de "Transe", ou pior, nem a história ou a pureza da nossa língua pelas mãos de Oliveira conseguimos ver, mas talvez mais estranho a não identificação do mundo que é o Portugal não ilusório de Pedro Costa.
Não sei se é melhor ou pior, se que é preciso existir cinema excremencial para existir o NOSSO cinema, sei que é preciso chamar publico português às salas, mas assim não resulta e vamos a continuar a ver um filme por ano a ter uma audiencia respeitável mesmo sem ser um filme respeitável, ou melhor por vezes sem ser um filme.
O problema deste país são os marcenários que existem por essas escolas foras, que anunciam sempre que têm hipótese que "procuram lutar contra o que é normal no cinema português" e depois tudo é contra, tudo é para fazer dinheiro e nada é para o público.
Não retiro mérito aos dois actores, retiro mérito a quem tem a ideia fantástica de transformar tudo em um produto de marketing.
E não não é só em Portugal, este método é utilizado também em França, só que França ainda que em dificuldades Pos-Bresson, ainda consegue manter uma pequena identidade. Nós nem a mínima.
E para aqueles que dizem que o publico português está de costas viradas com o cinema Nacional, parem de atirar areia para os olhos das pessoas, o discurso já cansa, e digam-me de uma vez por todas quando é que o publico português esteve de mãos dadas com o cinema Nacional???? No tempo da Ditadura??? Que optima resposta e que belo exemplo.... pois é ja estivemos mais longe.


É por TRETAS como estas que Teresa Villaverde já deve estar de malas feitas para trabalhar no estrangeiro! O patriotismo não dura para sempre, Manoel de Oliveira cá vai continuar a lutar pela pureza do seu cinema, e espero que Pedro Costa continue a colocar pedrinhas nas botas de muitos Intelectuais do Marketing e graças a Deus, João Pedro Rodrigues continua em activo.


Não, não sou conservador, não, não sou um amargurado, não, não sou um frustrado, sou apenas um gajo farto de tretas de X e Y, que com as mãos nos bolsos se vão rindo e gozando com a cara de cada um de nós.

segunda-feira, outubro 09, 2006

«TERRÍVEL PALAVRA É UM NON...» Padre António Vieria


"Terrível palavra é um NON, não tem direito nem avesso, por qualquer lado que a tomeis, sempre soa e diz o mesmo, lido do princípio para o fim ou do fim para o princípio, sempre é NON."

Filosofia dizem os mais críticos e os perguiçosos. Visão crítica e pessoal sobre uma história enraizada no Mundo, digo eu.
Comentário político dizem uns. Pureza de sentidos, digo eu.

Assim é “Non, ou a vã glória de mandar” de Manoel de Oliveira , pensamento sobre a nossa história “derrotista” à qual o 25 de Abril deveria por termo. Assim não aconteceu, mas a Utopia de Oliveira fica, marca e é actual. E afinal de contas, Utopia? Não é isso o 5º Império.
Para os mais cepticos, para aqueles que dizem que Manoel de Oliveira é “parado” e que apenas viram 5 minutos de um filme qualquer, fica a noção, Manoel de Oliveira é um nome que se estende para além da História do Cinema, estende-se por entre campos verdejantes e pelo sangue derramado na nossa história.
Haverá gesto mais patriótico que ser “odiado” no seu país e continuar a defendê-lo fora das suas fronteiras? Vã glória esta, não?

sexta-feira, outubro 06, 2006

Ilusões, Aparências e Mistério.

Sem me alongar demais, sem um novo visionamento ficam as primeiras marcas: ilusão, aparências e mistério. Poderão ser os adjectivos que acentam que nem uma luva a "A Dália Negra" , assim como à obra em geral de DePalma. Mas estamos perante algo excessivamente denso e indigerível, algo incomportável e ao mesmo tempo sublime.
Recuemos ao Séc. 0 (zero), o persa Manes refere-se ao universo como algo que foi criado e dominado por dois princípios opostos, o bem e o mal. Maniqueísta, assim é "A Dália Negra", onde o bem e o mal são incomportáveis, onde o "frio" e o "quente" chocam, repelem, mas nunca se anulam. É o jogo de aparências.
Os factos, a utopia, a procura da impressão da realidade, os sentidos e a inteligência. É o jogo de Ilusões.
O culto, a técnica, a cautela, o enigma, o dogma. É o jogo de Mistérios.

Gelo, Fogo e Fumo??? Poderiamos caminhar por aqui até encontrar o tortuoso caminho que é falar de "A Dália Negra".

“Volver” de Pedro Almodóvar

Pedro Almodóvar será uma marca de cinema europeu pelo mundo mas em especial pela América. Mas onde está o irreverente cinema Europeu? Onde está o engenhoso, irreverente e por vezes escandaloso Almodóvar?
O cinema de Almodóvar reduz-se agora a uma formula simples, ou seja estilo e unicamente estilo. Estilo esse desgastante e gasto por si só, satira social, humor irreverente e melodrama, tudo isto estilhaçado ao longo de largos minutos e apenas resultando a espaços.

Mas há algo que Almodóvar controla na perfeição é todo aquele estilo quase “Kitsch”, a que podemos chamar caricatural, o exagero, a não identificação mas a impressão, a ilusão, a dissimulação de uma teia narrativa inconsequente, proveniente de um autor (mérito questionável) que domina e explora o seu cinema à exaustão.

E “Volver” resumir-se-á a um mero e interessante “Penélope Cruz show”, que salva e a larga escala o filme de uma mera máscara carnavalesca e melodramática de uma complexa trama familiar tratada com excessiva leviandade.

Manuel Pinto Barros

apartir de hoje este espaço deixa de contar com a limitada e muito injusta nota de 0 a 10. Fiquemos apenas pelas palavras e pensamentos.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Apartir de hoje...

... há mais um espaço cinematográfico naquilo a que chamam "blogosfera".
Da autoria de José Miguel Oliveira, que contribuia a espaços com textos para o Rollcamera, agora e finalmente, terá um espaço onde colocará de forma livre os seus pensamentos e conhecimentos sobre cinema, que não são poucos e acima de tudo são concerteza um espaço em que o cinema será exposto como merece, de forma clara e directa.
Conhecendo o autor, resta-me dizer que é um cinéfilo compulsivo, com tudo de bom que a expressão tem, e leia-se cinéfilo compulsivo também como devorador de história do cinema, e logo uma grande fonte de conhecimento.
Fica aqui o novo espaço em que todo o debate terá algo de construtivo.
Eu vou lá estar


http://last-picture-show.blogspot.com

“Little Miss Sunshine de Jonathan Dayton & Valerie Faris

Uns grande olhos azuis enchem a tela, os olhos aquilo que dizemos ser o espelho da alma. Nos grandes óculos em fente ao olhos da doce menina, são reflectidas as imagens da televisão, um concurso de Miss que a menina analisa aprofundadamente. Assim não é apenas um reflexo, é uma projecção da alma, um sonho que pretende cumprir e que giará a sua família numa união de esforços para a concretização final de um sonho, tudo revelado de forma simplista, assim como será todo o filme. Mas vejamos simplista como aparência, mas denso e extravagante no interior.

Estreado em Sundance, “berço real” do cinema independente americano, tembé o independente poderia ser colocado entre aspas, já que “independente”, embora não seja um género de cinema como muitas vezes se diz, é uma questão de estilo e também não é literalmente independente, é o que é, cinema, e muitas vezes do melhor que a América nos oferece.

Mas voltando ao nucleo do filme, o que temos nós a final, uma comédia recheada de cinismo, um olhar funcional sobre uma família disfuncional, um road-movie re-inventado, uma viagem de descoberta, um dogma entre perdedores e vencedores, resumindo e talvez de forma simplista, uma viagem de diferenças que nos reune numa igualdadade.

Simplista será falar das personagens, possivelmente a mais brilhante construção de personagens do ano, cada uma com os seus defeitos e com muitas poucas virtudes aparente, mas é a parte que faz o todo e nem sempre tudo é mau como parece. Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carell, Abigail Breslin, Paul Dano, Alan Arkin, são os actors que dão vida às personagens, dificilmente se destecará algum, será mesmo injusto destacar algum, será mesmo difícil nos próximos tempos afastar o nome das personagens, e sim é verdade Steve Carrel não é o “Virgem de 40 anos”.

Para terminar, para não quebrar a magia daqueles que pretendem ver o filme na “big dark room”, resta-me dizer que estamos perante um dos filmes mais interessantes do ano, um filme divertido, mas contido, amargorado mas com esperança, ingénuo mas complexo e acima de tudo infantil mas com muito de adulto.

Little Miss Sunshine” é o nome que passará meio perdido pelas salas portuguesas sem que mereça tal coisa, assim como não merece o título em português, mas isto é apenas um desabafo.

NeTo – 9/10