domingo, julho 31, 2005

"O Sonho de Uma Noite de São João" de Manolo Gómez & Ángel da la Cruz


É a primeira longa-metragem de animação digital a ser co-produzida por Prtugal e Espanha, e o resultado não podia ser muito pior.
O argumento inspirado na obra de William Shakespeare (Sonho de uma noite de Verão), pretende vincar o paralelismo entre o mundo real e o mundo dos sonhos, pretende demosntrar que ambos os munsdos estão ligados e não podem existir um sem o outro. Mas... onde estão as personagens, onde estão os diálogos, onde estão as acções.

Pouco ou nada preenche a massadora duração desta produção, personagens desprovidas de reacções, a animação excessivamente rígida, sem texturas ou movimentos. Um filme lento e sem ponta de interesse, com uma falta de humor que chega a irritar, valem apenas alguns momentos de repetição embora previsiveis, são os mais agradaveis de todo o filme.

Poderia-se dizer que era um filme com belos cenários, mas até não é, podia-se dizer que tem belas melodias, mas não as tem, chegando mesmo a ter um momento musical no mínimo... ridículo?!?

"O Sonho de Uma Noite de São João", é um filme sobre o mundo dos sonhos que provoca uma enorme sonolência, assim se pretender descobrir o mundo dos sonhos deixe-se dormir que nada vai perder.

NeTo - 2/10

quinta-feira, julho 28, 2005

ROLL CLIP
apresenta
Jorge Cruz - Adriana

Esta é a primeira vez que me dirijo a um video-clip português! Cada vez mais, é possivel ver o que as bandas portuguesas fazem para projectar a sua música para as massas, com a abertura de diversos programas e canais que possibilitam a visibilidade de videos/musicas.

Jorge Cruz é possivelmente um dos mais interessantes musicos contemporâneos portugueses, com uma sonoridade acustica muito própria e com letras e mensagens honestas e simples, criam um universo muito própria para quem o ouve.
Com o seu primeiro single, lançou também um curioso video-clip. Será um video narrativo, também um vídeo de actuação.

Jorge Cruz e a sua banda actuam num palco perante uma plateia, nada de muito interessante até aqui, não fosse o facto de o conceito em qual se apoia o video-clip, possibilitar uma extimulação perceptiva por parte de quem vê. A banda toca... "nada", na verdade estão em palco sem instrumentos, e apenas ouvimos musica, os "graçon" do bar, transportam algo que não se vê para as mesas e a audiência assiste, fuma sem ter cigarros e pega no telemóvel sem ter telemóvel.
Na verdade assistimos a um curioso jogo de mímica e sons, ao qual só o nosso conhecimento do meio que observamos e todo o conhecimento sonoro que temos, nos permite desde logo, perceber que alguém toca um piano ou um saxofone, apenas com a ajuda do som e do movimento... será mesmo uma espécie de "Dogville".
Poderemos falar no facto de em muitos video-clip a banda aparece em actuação, mas na verdade ouvimos apenas uma gravação já feita em estudio, e assistimos a um playback, aqui neste video, Jorge Cruz, cria uma espécie de exposição do que realmente acontece, os instrumentos num video-clip são o que não interessa.

É um dos videos mais interessantes que tenho visto ultimamente, simples e bastante intimista com uma excelente melodia a acompanhar.

quarta-feira, julho 27, 2005

“The Jacket : Colete de Forças” de John Maybury

“The Jacket” não é nada de muito original.
Um militar da guerra do golfo é atacado a tiro, perdendo a memória, após problemas com a justiça é internado num hospital psiquiátrico, onde apartir de um tratamento descobre que pode viver outros tempos.

Na verdade tirando o excelente, genérico inicial, o arranque do filme é lento e sem muito interesse, mas assim que a intriga é lançada, John Maybury conta a sua história, numa estrutura que obriga a uma certa reflecção, existe uma interessante exploração do tempo e do espaço, sendo possivelmente os melhores momentos da película.

A montagem tem um ritmo muito agradável, principalmente em momentos paralelos, em que tudo nos é dado com a cadência perfeita.
Longe de ser uma obra-prima, o que mais facilmente saltará aos olhos do espectador, será mesmo a interpretação de Adrien Brody, embora sem ser sublime, é eficaz e cumpre as suas funções. Quem acaba por surpreender é mesmo Keira Knightley, que pela primeira vez nos aparece, não como uma pretty-girl, mas por breves momentos como uma personagem, dura, perdida e amargurada, coisa rara para a jovem.

O que realmente acaba por ser bastante interessante é o facto do nosso herói não procurar uma solução... ele sabe que vai morrer, mas não procura resolver essa situação, como é normal. Aqui o chamado herói, sabe que vai morrer e não vai à procura de algo que o salve, entrega-se preocupando-se com algo que não a sua vida... uma espécie de martir.

Com um argumento complexo e excessivamente denso, a verdade é que nem tudo foi devidamente aproveitado, o tempo foi pouco, assim como o dinheiro, ou não se tratasse de uma produção “independente”.
Mas o que realmente interessa, é que o thriller-psicológico, tem em “Jacket” um interessante exemplo, sem grandes pretenciosismos, o cinema chamado “independente americano” lá vai mostrando às grandes produtoras como se vai fazendo algum cinema comercialmente viável, mas respeitando sempre o bom nome do cinema.

“The Jacket” será mesmo uma "relativa" surpresa deste ano.

NeTo – 6/10

terça-feira, julho 26, 2005

QUESTIONÁRIO

Este desafio foi criado por Miguel Baptista. Chegou até mim por uma proposta do Paulo Costa e do Franciscos Mendes, ao qual eu terei todo o gosto de responder já de seguida.

1. O que é para ti o cinema?
Antes de mais será mesmo uma forma de vida, é para isso que trabalho e é isso que ambiciono fazer. O cinema é também um local de refúgio ou mesmo um posto de vigia, onde podemos compreender e camuflar sentimentos, é onde percebesmos como o mundo é visto por diversas pessoas de diversas culturas. É possivelmente um dos mais fortes meios de comunicação quando bem utilizado. É a alegria, é a tristeza, é o sonho é a realidade, o cinema é mesmo um mundo à parte.

1.1 Como o encaras: Arte ou Entertenimento?
O entretenimento directa ou indirectamente foi sempre um dos objectivos da arte. Em muitas alturas da História, a pintura e a musica serviram para ocultar dificuldades sociais, escondendo-as do povo, sendo utilizadas como entertenimento, por exemplo o caso do barroco, mas apesar de se dirigir para o povo, não quer dizer que não seja arte, grandes nomes da pintura surgiram nessa altura e influenciaram gerações seguintes de pintores.
O mesmo acontece no cinema, existe arte e existe entertenimento, sempre juntos mas por vezes podemos dizer que em quantidades diferentes.
Eu prefiro o filme de autor, ou então filmes não tão virados para a vertente comercial, mas também não despreso um filme por ser um chamado “blockbuster”.

2. O que tem de ter um cineasta para que possas admirar a sua obra?
Não gosto de realizadores acomodados e tarefeiros. Não gosto de realizadores que fazem filmes para prémios.
Para mim um realizador tem que ter uma visão própria, tem que expressar as suas motivações e ter sempre presente uma vontade de superação.
Tem que saber dirigir os seus actores, saber colocar a câmara da melhor maneira possivel e por consequência saber contar uma história, seja ela boa ou má.

3. O que tem de ter um actor/actriz para apreciares a sua interpretação?
Aquele que agarra o projecto de forma decidida, admiro actores que sacrificam a sua vida pessoal, para construirem uma personagem. Gosto de actores que observem e utilizem pessoas reais para criar as personagens (Depp é um deles).
Um actor tem que saber transmitir o maior numero de sensações possíveis dentro de um “quadradinho” sem grandes pantomimas, e nem que seja só por um simples olhar (Day Lewis / Adrien Brody). Embora por vezes até goste de um bom over-accting, gosto do delírio que um actor é capaz para criar a sua personagem (Gary Oldman / Edward Norton). E acima de tudo um actor tem que ser versátil (Kevin Spacey).

4. O que preferes: Créditos iniciais ou Créditos finais? Porquê?
Gosto particularmente dos créditos iniciais, recordo alguns que são fabulosos, por exemplo “Catch me if you can” ou “Se7en” ou mesmo “Insomnia”. São desde logo os primeiros minutos por vezes abstractos em que estams em contacto com a película, temos a nossa mente totalmente colada ao ecran e são os primeiros elementos da história que normalmente são largados apartir daí. É o primeiro indicador do tipo de filme que vamos assistir.
Já para não falar nos fantásticos créditos iniciais dos Monty Python.

5. Achas que as barreiras que separam o cinema das outras artes podem, em circustância alguma, ser quebradas?
Não sei até que ponto quebrar será o termo correcto. Mas que é possivel unir o cinema e as diversas formas de arte, isso acho que sim, respeitando consequentemente todos os signos e linguagem de cada forma de arte. Mas musica, fotografia, arquitectura, dança, literatura, teatro e cinema (audiovisual) cada vez mais se relacionam... agora até quebrar!!!...

6. Passo o desafio a...
Plaka
Nuno Cargaleiro
David Santos
Coutinho77
Knoxville

domingo, julho 24, 2005

"Cinema para Sempre"
por: NeTo
Sem duvida alguma que o cinema é possivelmente uma das artes mais complexas, para essa complexidade muitos nomes surgiram, dotando o cinema de técnicas e metodos capazes de elaborar ainda mais tal exercício.
Como em qualquer forma de arte, as tecnicas vão evoluindo de geração em geração, os conceitos e complexidades narrativas também, podendo assim dizer-se que o cinema como a pintura ou a música, sustenta-se nos pilares do passado.
Qualquer jovem realizador tem as suas referências, tem um realizador como termo de comparação, aquele no qual mais se revê, mas uma diferencia será no facto de se rever e querer inovar e superar, não superar a sua referência, mas antes superar os seus próprios limites e os limites da audiencia do seu tempo, e evitar imitar, mas nunca sem esconder.
Nos ultimos dias corre pela intenet, uma notícia, que por um lado me deixa bastante feliz, mas por outro lado me deixa particularmente triste.

Robert Altman, o grande realizador de filmes como, “M.A.S.H.”, “Gosford Park”, “Nashville” ou “Short Cuts”, está no momento com um projecto em mãos, “Prairie Home Companion”, mas que infelizmente não poderá terminar sozinho.
Altman, encontra-se num estado de saúde imensamente debilitado e juntamente com os estúdios, pensou chamar para terminar a rodagem do seu filme, Paul Thomas Anderson ("Magnólia", "Punch Drunk Love"), um confesso admirador da obra de Robert Altman. Embora Paul Thomas Anderson, esteja a preparar o seu próximo projecto, não recusou o convite e partilhará os créditos juntamente com uma das suas maiores influências, Robert Altman.

Se por um lado, a tristeza invade-me devido ao estado de saude, desse grande senhor do cinema que é ROBERT ALTMAN, por outro lado é com muito agrado que vejo que gerações tão distintas do cinema continuam em ligação. Não existe o preconceito em relação aos jovens, nem existe o preconceito em relação aos antigos... pelo menos no que toca no caso de Paul Thomas Anderson.
Anderson nunca foi pretencioso ao ponto de esconder o que o influenciava e aqueles que o admiravam, assim como aqueles que Anderson admirava, nunca esconderam o imenso agrado que tinham em relação a Paul Thomas Anderson.
Assim, penso que são momentos como estes que fazem o cinema... o cinema é o passado e é o presente, e com momentos assim, o cinema será o futuro.
Enquanto o presente cinema continuar a invocar o cinema do passado, podemos concerteza afirmar que temos...CINEMA PARA SEMPRE.

"Irreversível" de Gaspar Noé (2002)

Recorrendo a uma expressão popular, e alterando-a apenas um pouco, facilmente poderiamos caraterizar "Irreversível" como, «Antes da Tempestade vem a Bonança». "Antes" porque a forma em que suporta a acção assim o possibilita dizer, uma estrutura invulgar (mas não única), semelhante a uma das linhas narrativas de "Memento" de Cristopher Nolan, desenrola-se do fim para o início.
É sem dúvida interessantem, em comparação com 98% dos filmes que circulam comercialmente, reparar, que aqui a "resolução" é oferecida logo no início, e pelo restante filme iremos procurar o porquê de tal desfecho, ao contrário de outros filmes, onde nos é oferecido um conflito inicialmente e só no final é nos dado o desfecho e resolução de tal conflito.
Partimos de um momento de grande tensão, arrepiante e assombroso, para um momento final de acalmia e profunda paz, só possível devido à estrutura, à forma que Gaspar Noé, escolheu para nos contar a história.

Mas reduzir "Irreversível" apenas à sua forma desde logo parece-me extremamente ingrato, existe um excelente trabalho de realização e fotográfico, Noé fazendo a utilização do plano sequencia, narra a sua história como uma acção "contínua" um desenvolvimento simulado. Com uma curiosa tomada de vista, torna a sua câmara uma verdadeira personagem, basta ter atenção ao movimento da mesma, de início movimentos rápidos, quase que perdendo o control sobre o enquadramento, transmitindo a tensão e violência da sua personagem para a câmara e consequentemente para o espectador.

Momentos existem que não se pode deixar de pensar em Kubbrick,seja pela própria tecnica e visual, seja pelas comparações com a epopeia sexual "Eyes Wide Shut", onde marido e mulher (Tom Cruise/Nicole Kidman) partilham a intimidade... ocorrendo em "Irreversível" o mesmo com Monica Bellucci e Vincent Cassell. Mas para além disso existe uma clara referencia à obra do grande mestre, durante o filme vários posters de obras de Kubbrick vão surgindo, "The Killing" e "2001: Odisseia no Espaço" são alguns exemplos.

"Irreversível" é uma obra muito interessante, em que a sua forma, não encobre tanto o fabuloso trabalho de Gaspar Noé, como as reais vivências do casal Cassel/Bellucci, em que as suas reacções plenas de realismo acentuam ainda mais o clima, quase apocaliptico da mente humana e das suas acções. Sendo um claro piscar de olhos ao desenrolar da vida sobre um destino traçado sobre uma linha predefinida o filme termina com uma curiosa expressão, que dará assunto para uma pequena divagação: «O tempo destrói tudo». Assim pegando no filme, reparamos que Noé o que fez, fou alterar o tempo da sua narração, começou do final para o seu início, mostrando como e porquê da evolução e alteração das personagens, desde logo destruium uma simples história linear e construiu algo mais intenso. Agora vendo o filme pela sua forma linear, iriamos assistir a uma evolução temporal que nos levaria à destruição das vivências das personagens, partiriamos da acalmia, para a violência. Assim tanto no início ou no final do filme tal expressão faz completo sentido.

Para terminar, "Irreversível" será um filme interessante e repleto de momentos chocantes e plenos de dramatismo, chegando mesmo a ser assustador e aterrador.

Na vingança ou no amor, tudo é irreversível

sexta-feira, julho 22, 2005

"Kung-Fu Hustle" de Stephen Chow
Stephen Chow, que antes nos trouxe "Shaolin Soccer", realiza, assina argumento e interpreta, "Kung-Fu Hustle", um filme que desde o primeiro minuto, não engana o espectador, estamos perante uma enorme paródia.
Sem medo de cair no rídiculo, com diálogos a cruzar a barreira da loucura, por vezes é impossível fugir às referência satirizadas por Chow. Desde logo "Gangs de Nova York"m homens de fato e cartola, armados com machados e fogo de artifício expludindo em segundo plano, as referências ao velho Western, à animação "Road Rider" e a tantos outros sucerros ocidentais. Mas não só de referências ocidentais vive o filme, claramente o espírito de Bruce Lee invade a mente do autor.

Com um argumento interessante, embora previsível, Chow consegue manter a atenção do espectador presente, quer pelos diálogos, pelos exageros de caracterização ou mesmo pela "pantomima" marcial, onde o humor físico impera. As coreografias das batalhas são fabulosas das quais a câmara de Chow soube tirar o melhor partido, partindo do geral para o pormenor, permitindo assim que a audiência tivesse contacto com a elegânca de tais movimentos de Kung Fu... é um delírio para o olhar.

Sem dúvida alguma que é um filme divertido e peculiar, absurdo e mórbido, rídiculo e inteligente, mas apenas isso. Sem grandes pretenciosismos Chow fez um filme para entreter, para divertir e para relembrar grandes nomes do cinema asiático.

"Kung-Fu Hustle" é só e apenas, uma comédia, uma sátira ou uma paródia que nos permite divertir durante a sua exibição, mas pouco mais.

NeTo - 5/10

Não posso deixar de referir que durante todo o filme, o cinema de Mel Brooks, me veio à cabeça uma data de vezes.
E já agora quanto à questão de Stepheb Chow ser autor de cinema... sim concordo, realmente existem alguns paralelismos "delirantes", que têm algo mais do que pura comédia... aquela borboleta no final, tem muito que se lhe diga.

quinta-feira, julho 21, 2005

Mulholland Drive de David Lynch (2001)


«Silêncio...... NO HAY BANDA»

Silêncio... silêncio é o que não existe, durante o visionamento, e muito menos no final deste surreal e negro filme de David Lynch.
“Mulholland Drive” é uma obra de Lynch para espectador ver? Não. Quem for apenas ver, corre o sério risco de sair com um péssimo sentimento de desilusão, e mesmo pensar que Lynch acabou de gozar com a sua cara. Na verdade “Mulholland Dr.” Será um filme para observar até à exaustão, não só com os olhos, mas também com a “psique” inerente a cada individuo e a cada personagem do filme.
Lynch nunca desvenda por completo o que se vai passando diante dos nossos olhos, prefere antes dar-nos o poder de descodificação (coerente ou não) dos signos e pistas que nos vai deixando ao longo do filme. No final, fica apenas o espectador e as imagens para descodificar, e compete-nos a nós amarrar todas as pontas que Lynch no coloca em frente do olhos.
Nada é linear, nada é simples. Se por vezes os “formalismos” chegam a ser irritantes, neste caso, a forma é o princípio, é a vida do filme. Recorrendo a uma estrutura narrativa complexa, Lynch cria uma história de opostos, de dicotomias. O sonho/realidade (surrealismo), desejo/amor, vida/morte, cinema(ilusão)/vida(real) e liberdade/condicionamento, controem o mundo de “Mulholland Drive”, onde Lynch se mostra um manipulador de sensações, conseguindo por vezes mergulhar nos lados mais difusos e complexos da mente humana.

Durante praticamente 2/3 do filme, somos colocados perante um desenrolar abstracto de acções que se vão adensando parecendo que cada vez mais se vai fundindo para finalizar e colocar um ponto final nas nossas manobras psicológicas de compreensão. Mas sendo Lynch, não se pode esperar que algo de linear se vá desenrolar, e o ultimo terço do filme, acaba por ser como o primeiro, mas como um oposto, não na sua forma, mas no seu conteudo. Se na primeira parte vivemos um sonho (?), na segunda parte vivemos, o que levou a esse sonho (?), sim possivelmente já estarei a desvendar grande parte do interesse do filme, mas agora parte de cada um tentar descobrir o quê e onde.

“Mulholland Dr.” segue a história de uma mulher que sofreu um acidente, no qual perdeu parcialmente a memória, encontrando numa aspirante a actriz a ajuda para resolver a sua situação.
Pelo meio David Lynch, aplica uma rude crítica à indústria cinematográfica (diga-se que me boa verdade é rude para com o realizador), directa ou indirectamente o filme acaba por ser uma crítica a todo o processo de produção de um filme, acompanhamos uma actriz a uma audição, onde temos um realizador “múmia”, uma equipa de produção e casting que “apunhá-la” actores consagrados pelas costas, temos um jovem realizador a ver a escolha da sua actriz a ser manipulizada por um grupo de mafiosos, e uma clara crítica ao “playback”, ou seja aquilo que ouvimos nem sempre é o que vemos ou visse versa, o cinema como ilusão, a construção da acção, o poder do som e da imagem.

A câmara de Lynch é do mais incisivo que se viu nos ultimos anos, podendo mesmo fazer lembrar Kubbrick. É fabuloso os recursos que Lynch claramente utiliza, para situar o espectador na acção, desde a “câmara subjectiva” até ao plano pormenor, que descreverá o tempo da acção, lá mais perto do final, onde um pequeno objecto, permite situar o “tempo” (acção), embora mesmo sem ser necessário tal artifício, mas Lynch fez o favor de nos facilitar a leitura, embora muitos o responsabilizem de em nada facilitar a vida ao leitor.

Com uma fotografia “noir” que lhe permite acentuar o surrealismo da obra e com uma (absolutamente) fabulosa banda sonora de Angelo Badalamenti, Lynch cria uma verdadeira aula de cinema para qualquer espectador, uma das maiores lições cinematográficas dos ultimos anos, que apesar de tudo, parece andar um pouco esquecida, pela grande maioria dos cinéfilos. (admito que de minha parte também)

As personagens de Lynch, são fugitivos... tentam fugir dos seus desejos interiores, tentam combater a realidade com a ilusão. Naomi Watts é uma actriz fabulosa, plena de dramatismo e de versatilidade, à qual se alia, uma brilhante e fria Laura Elena Harring, para elevar ainda mais a qualidade cinematográfica de “Mulholland Dr.”

Para não mais me alongar, resta-me apenas afirmar, e possivelmente cair na redundância, que Lynch é um realizador sublime, é um mestre da não linearidade (tal como no caso de “Lost Highway), é um manipulador, é um mestre no que se trata da manipulação dos recursos tecnicos e da psicologia, será mesmo um dos maiores realizadores no activo.

“Mulholland Dr.” é um filme para ser revisto, não só pela sua qualidade, mas para sua total assimilação, não que seja um film difícil (como já ouvi alguem dizer), mas porque é um filme que se estende para além do olhar e da mente humana. E já agora fujam a sete pés das explicações sobre o filme que correm na internet, pois assim as regras do “jogo” de Lynch irão ser quebradas.

OBRA PRIMA (silêncio)

segunda-feira, julho 18, 2005

“A Máscara 2 : A nova Geração” de Lawrence Guterman

por: NeTo

Praticamente 10 anos passados, da estreia de “A Máscara” (de Chuck Russel), filme repleto de magia e entretenimento para a família e que acabaria por lançar Jim Carrey para o estrelato, chega-nos “A Máscara 2 : A Nova Geração” de Lawrence Guterman.

O título português “... A Nova Geração”, apesar de não ser uma tradução à letra de “Son of the Mask”, na verdade acerta em cheio no que este filme pretendia ser.
Não se entende o porquê de fazer uma sequela passados tantos anos, ainda por cima de um filme que foi um considerável sucesso, e ainda mais não recorrendo a qualquer actor ou actriz do filme original. O que será pretendido será mesmo conquistar uma “nova geração”... mas assim, NÃO.

Quem por acaso teve o azar de ver apenas este filme e não viu “A Máscara” de Chuck Russel, não deve ter a mínima curiosidade de descobrir o filme original.
“A Máscara 2 : A Nova Geração” é um filme que nada tem em comum com o primeiro, não tem magia, não tem inteligência e acima de tudo, não tem Jim Carrey, não que considere que Jamie Kennedy, não tenha capacidades cómicas, porque sei que as tem, mas porque Jim Carrey construiu uma personagem que fica na memória de todos aqueles que viram o filme.

Aqui os pobres dos actores nada ou muito pouco podiam fazer, um argumento desastroso, que a unica ideia interessante, de colocar um cão ciumento (que acaba por ser dos poucos motivos de interesse), a tentar eliminar o bébé que agora habita a casa... mas não é que depois de utilizarem tão mal esta ideia, ainda transformam o filme numa miserável lição de vida familiar, e acabam sem querer, por se “parodiar” ao transformar a ideia mais interessante de todo o argumento como a salvação da carreira profissional pai, um cartoonista resolve contar a experiencia que viveu (um dos maiores clichés que o cinema conhece).


Não há muito, ou mesmo nada de realmente bom que se possa dizer em relação a este filme, em que uma máscara é procurada pelo Deus que a criou, máscara essa que por erro acabou por gerar um filho humano e mais umas tretas à mistura e temos uma verdadeira miséria.

Depois disto, fica a saudade do “elástico” Jim Carrey e das 1001 peripécias originais e divertidas da primeira “A Máscara”, pois esta sequela, nem na imitação de momentos musicais do primeiro se consegue abrigar.

NeTo – 1/10

P.S.- Este filme estreia nos cinemas em Portugal, quando possívelmente nem directamente para DVD deveria sair. Nas nossas salas somos privados de filmes interessantissimos como “Shaun of the Dead” , “Bubba Ho-tep” ou “Nothing” ou até um muito elogiado e vencedor de alguns prémios “Napoleon Dynamite” que espero ver brevemente em DVD.... Estreia-se coisas a mais nas nossas salas...

"O Amor Está no Ar" de Nigel Cole

por : NeTo



"A Lot Like Love" (título original), procura misturar a comédia e o romance, contando para isso com as interpretações de Ashton Kutcher e Amanda Peet.
O problema até não estará nos jovens actores, estará sim, na pré-produção, no argumento para ser mais preciso e na realização de Nigel Cole, que embora consiga alguns momentos interessantes, não consegue fugir aos muitos clichés do género.

A parte cómica do filme, por momentos resulta, alguns são os momentos em que é possivel rasgar um sorriso ou largar uma gargalhada, mas a parte romântica é mesmo para esquecer. É apenas a repetição do que podemos ver em tantos outros filmes, embora aqui se evitem os diálogos lamechas e escusados, em deterimento da música, a verdade é que só a melodia não faz milagres, e sem o auxilio da câmara de Nigel Cole, por vezes acabamos por perder o interesse naquilo que se passa e apenas batemos o pé ao som da musica.
Daí o facto do argumento ser um grande problema, repleto de buracos e sempre a despachar, poucos são os momentos em que realmente nos é oferecido, algo estimulante. Só em determinada altura, e após algum esforço reflectivo é que me foi possível perceber qual a mensagem do filme, e a verdade é que a mensagem é bem interessante, mas acaba por se encontrar perdida no meio de tanto cliché romantico.

Interessante acaba por ser a jovem Amanda Peet, e o registo não idiota (ou menos idiota) de Ashton Kutcher.

Poderia ter sido um belo filme, que narraria a importância das prioridades e das opções que tomamos na vida, mas acaba por ser mais um a encher o saco de comédias românticas com "substância" mas muito mal aproveitadas.

NeTo - 4/10

sábado, julho 16, 2005

"The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension" de W.D. Richter (1984)


por: joseol


É um dos cumes da chamada “cheap fx”, um filme que faz surf pela grande ficção cientifica surgida nos 70´s e princípios dos 80´s – Spielberg, Lucas, etc… – auto ironizando as grandes preocupações e fascinações da ciência, da existência de mundos e seres paralelos, relações entre as duas super potências…. subvertendo os códigos de género, misturando géneros e estilos – parece um western inter galáctico, comédia negra, musical, filme chunga, universo pulp, etc. – com um portentoso elenco em pura contemplação (Peter Weller, John Lithgow, Jeff Goldblu), “The Adventures of Buckaroo” é uma autêntica loucura do primeiro ao ultimo frame ao mesmo tempo que é uma metáfora cabotina á libertação individual e á anarquia como forma de auto superação….


Passará por aqui algum do mais estimulante universo série b de John Carpenter a Sam Raimi…o que este filme nos prova é que a originalidade e criatividade não estão dependentes dos budgets, dos géneros, dos temas…
O filme de W.D. Richter fica então como um ícone, como um grito de fúria contra convenções e dogmatismos comerciais a favor das infinitas possibilidades da imaginação e superação…

Seria redutor estar a querer contar a história, digamos que é acerca de um neurocirurgião – Banzai – interessado pela ciência, que têm uma banda e que irá travar uma luta com um tal Dr.Lizard…o resto é a descobrir rapidamente…

quarta-feira, julho 13, 2005

Próximas Estreias II



Sonho de Uma Noite de S.João : Dos criadores de “A Floresta Mágica”, chega-nos a mais receente animação 3D, que resulta da co-produção Espanha(Dygra Films)/Portugal(Appia Filmes).
“O Sonho de Uma Noite de São João, é inspirada na obra de Sir William Shakespeare (“Sonho de uma noite de Verão” e centa-se no poder do sonho e do acto de sonhar, contando a historia de que na noite de São João, os humanos podem “viajar” para a terra dos sonhos e das fadas.
O trailer está interessante, e a estreia é já dia 21 de julho.
Um filme certamente interessante, nem que seja pelo lançamento internacional de Portugal na area da animação 3D.

Quarteto Fantastico: Mais uma adaptação de Comics ao grande ecran, “Fantastic Four” que já tinha uma serie de desenhos animados, agora chega pela mão de Tim Story ao cinema com um elenco para agradar aos mais jovens, Jessica Alba, Chris Evans, certamente estaremos perante explosões, imensas sequencias de acção e efeitos especiais em doses industriais.
Mais um blockbuster a triunfar, ou mais uma adaptação de Comics a desiludir?
Estreia prevista para 28 de Julho

Milhões: Danny Boyle (“Trainspotting” “28 days Later”), um dos mais interessantes realizadores ingleses, regressa com uma história bastante curiosa, e uma vez mais sem qualquer parecença com os seus filmes anteriores. Ao que parece o Reino Unido vai aderir ao EURO, e todas as libras estão a ser recolhidas, quando um enorme saco cheio de um quarto de milhão de libras libras cai nas mão de duas crianças, uma de 7 e outra de 9 anos. Assim vamos acompanhar as formas encontradas por eles para gastar o seu dinheiro no curto prazo de uma semana.
Deveras interessante e possivelmente bastante humano, não poderá sair daqui uma pequena crítica à sociedade onde vivemos?
Estreia prevista para 28 de Julho.

Dark Water: Filme baseado num filme de terror japonês... onde já vimos isto? O autor original é Hideo Nakata, criador da saga “RINGU” e realizador também do remake americano “The Ring 2” (por sinal bem mau).
A realizar este “Dark Water” temos o muito conceituado realizador brasileiro Walter Salles (“Central Brasil” “Diários de Che Guevara”). A história é sempre a mesma, uma mulher e uma filha mudam de casa e começam a perceber que algo de estranho existe nessa casa... dhuuuuu!
O meu interesse cai no facto de ver como Walter Salles se vai enquadrar num género estranho para si, e num meio como Hollywood, assim como a belíssima e excelente actriz que protagoniza a película, Jennifer Connely (“Uma Mente Brilhante” “Hulk”).
Mais uma “americanada” para assustar?
Estreia prevista dia 28 de Julho

Charlie and The Chocolate Factory: Depois do sóbrio “Big Fish”, Tim burton volta aos ambientes fantásticos, com um trailer delicioso a correr por toda a internet, e com Johnny Depp a liderar o elenco, este promete ser um dos grandes títulos do ano.
Estreia prevista 11 de Agosto

A Ilha: Michael Bay regressa… isso é bom ou mau? O trailer até escapa, e o elenco é interessante Scarlett Johansson e Ewan McGregor, agora não deixa de ser um filme de Michael Bay. Um filme que promete fugas, e muita acção.
Estreia prevista 18 de Agosto

"Le Voyage Dans Le Lune" de George Méliès (1902)


Apartir de Méliès o cinema deixou de ser apenas a simples representação do real, tal como faziam os irmão Lumiere.
Inicialmente os irmãos Lumiere, faziam registos fotograficos do natural e do real, pessoas a sair da fábrica ou comboiso chegando a estação, mas em 1902, George Méliès marca definitivamente o poder do cinema como forma de criar novos mundos, mundos inexistentes, capazes de cativar e provocar a ilusão no espectador, até ali, tão habituado à observação do real. Tempos antes já Méliès criava as suas ilusões em pelicula, mas terá sido em "Le Voyage Dans La Lune" que tal força criadora, terá explodido.
Partindo de uma ideia retirada de "From the Earth to the Moon" de Julio Verne e "First Men in the Moon" de H.G.Welles, e acrescentando, magos cientistas, criaturas maléficas e uma lua "humanizada", Méliè cria um deleite visual e criativo como nunca visto.
Recorrendo a técnicas de colagem (tecnica quase exclusiva da pintura) Méliès transformou extra-terrestres em pó e guada-chuvas em cogumelos gigantes, cria cenários fantásticos e ilusórios, contrapondo assim aquilo que o cinema era até à altura.

Por toda esta alteração estética, pela nova visão do realizador enquanto criador, por contrapôr o cinema fantástico ao cinema do "real", Méliès é hoje considerado o "mágico do cinema", e também o primeiro realizador artístico, capaz de transpôr a sua visão expressionista para uma pelicula, dando assim a conhecer ao mundo a força criativa existente no cinema.
Podemos apartir daqui marcar também um contraste que ainda hoje se vive e discute, o cinema do "real", aquele que filma os problemas da sociedade que mostra e pretende exemplificar pequenos ou grandes nichos, ou então o cinema fantástico, que um pouco por todo mundo enche de fantasia os olhares de espectadores fazendo-os sonhar.

Por tudo isto ou apenas pelo puro deleite de ver efeitos especiais sem qualquer ajuda digital, "Le Voyage Dans Le Lune" acaba por ser um filme obrigatório para qualquer pessoa que tenha visto um filme. Assim cresceu o cinema.

NeTo - 10/10

domingo, julho 10, 2005

ROLLCAMERA
apresenta
Paul Thomas Anderson

«O "TOUR DE FORCE” DO NOVO CINEMA AMERICANO»

É actualmente considerados por muito o grande realizador/argumentista da nova vaga americana, com uma câmara em constante movimento e plena de técnica, leva-nos por vezes ao cinema de Renoir ou Scorsese, conseguindo obra após obra refrescar a sua visão e a visão do espectador em relação ao actual do cinema. Os seus filmes são caracterizados por diversas personagens de complexa composição psiclógica, sempre acentando a sua visão muito própria do mundo suburbano da América, acrescentando ainda um clima familiar descomposto, qual Spielberg.

O seu gosto pelo cinema surge apartir do seu pai, desde pequeno teve à sua disposição diversas cassetes e leitores de vídeo, sendo que foi aí a sua primeira iniciação pela montagem, montando filmes de leitor para leitor.

Paul Thomas Anderson nunca teve uma formação académica, tal como Tarantino, “aprendeu” observando, uma característica não ao alcance de todos. P.T.Anderson ainda frequentou uma Escola de Cinema da Universidade de Nova York, embora ao fim de apenas dois dias, após lhe terem proposto uma elaboração de um texto, texto o qual não poderia ser sobre “Terminator 2”, filme que P.T.A adorava, abandonando a escola e considerando que as escolas de cinema são uma burla e que era possível aprender mais vendo e ouvindo um comentário de um DVD. Poupou então o dinheiro das propinas e realizou a curta metragem “_Cigarettes and Coffee_” (1993), seguindo-se depois diversos trabalhos como assistente em "spots” publicitários e vídeo clips, até finalmente, atingir apossibilidade de rodar a sua primeira longa-metragem.

Inicialmete com o título “Sidney”, mais tarde foi dado a conhecer ao publico como “Hard Eight” (1996), com as interpretações de Philip Baker Hall, John C. Reilly, Philip Seymore Hoffman, que mais tarde voltaram a participar na filmografia de Paul Thomas Anderson, no caso de Philip Seymore Hoffman acaba mesmo por participar em todas as quatro longas-metragens do realizador.
Hard Eight” acabaria por ser um sucesso perante a crítica, mas não foi o suficiente para que Paul Thomas Anderson, conseguisse o financiamento para o seu próximo projecto “Boogie Nights” (1997), um filme que aborada as relações no mundo da pornografia, ou não sendo o sexo uma presença constante na sua filmografia, mas nunca de maneira explicita.

Por exemplo, em 1999, Paul Thomas Anderson, explode o mundo cinematográfico com “Magnólia”, uma história que acompanha diversas relações familiares, numa estrutura estilo mosaico, espantando tudo e todos, com um final enigmático quase profético. A personagem de Tom Cruise, é um conselheiro sexual para homens, o verdadeiro “macho”, o profecta sexual, mais uma vez o sexo.
Se dúvida existissem, o seu próximo filme “Punch Drunk Love” (2002)confirmou o seu talente, já bem presente em “Magnólia”, mas confirmado em “Punch Drunk Love”, desta vez e ao contrário dos anteriores filmes, centra-se mais numa só personagem, trazendo para o estrlato, Adam Sandler, muitos foram aqueles que colocaram em causa, a participação de Adam Sandler num filme do realizador de “Magnólia”, mas se esperavam uma comédia, P.T. Anderson, moldou a personagem como um homem vunerável e repleta de raiva, sendo odiado pela família. Em “Punch Drunk Love” temos uma realização plena de técnica e a prova que o realizador será o principal responsável pelo desempenho dos actores, acabando este filme por valer a P.T.Anderson o prémio de melhor realizador do festival de Cannes.


A sua carreira apenas agora está a começar, sendo já um valor adquirido do cinema e um dos mais respeitados realizadores da actualidade, filma apenas aquilo que viveu ou sentiu, a megalomania das suas obras remetem-nos para Coppola.... mas se por acaso pensam que por referir tantos nomes como Spielberg, Scorsese, Coppola, Renoir e até Robert Altman, tornam Paul Thomas Anderson um mero realizador, uma cópia do passado, desenganem-se, é com toda a certeza um dos mais originais realizadores actuais, às suas referências do passado (anos 70, principalmente), alia as suas visões, as suas pulsões, as suas obcessões, formando uma mescla do melhor do cinema americano.

Paul Tomas Anderson, será mesmo o “Tour de Force” do novo cinema americano.

Isto não é um «Blockbuster»...
por JoseOl


Não é definitivamente um “blockbuster”, vão haver vários momentos ao longo do filme a demonstrar isto: logo no início, a análise familiar como se de um drama se tratasse é invulgar; mais para a frente, Tom Cruise – Ray Ferrier – a fugir dos primeiros invasores, alguns minutos em surdina, só com o som da destruição, sem falas.

É um dos seus filmes mais corajosos, funcionando como um negativo das obras inicias, a convocação das memórias do 11 de Setembro é o exemplo mais significativo….depois temos o realizador a afastar-se do livro e a mergulhar de cabeça nos seus temas de sempre….a família estilhaçada…a ausência do pai, etc…etc…ou seja muito spielberg…com o livro a servir de base….

Mas o que é cada vez mais impressionante no cinema de spielberg é a economia, quase como se de uma série B se tratasse…só lá está o que faz falta, colando a câmara ao que lhe interessa volta assim a fazer a sua catarse…desta vez mais adulta, enfim em negativo de Encontros Imediatos, de E.T…
E depois temos ainda uma espécie de cinefilia convocada, quase fazendo do filme uma súmula dos seus momentos mais pessoais…E.T, Duel, O Resgate do Soldado Ryan, Indiana Jones, etc, vão passar quase ironicamente por lá.

A coragem só será quebrada lá mais para a frente, a cena do barco têm alguns momentos de embaraço…talvez mais por culpa do argumentista…ou de uma necessidade moralista que seria dispensável.

Enfim, é o discurso de um tempo a servir de base ás obsessões Spielberguianas…a confirmar o que se vem apercebendo desde A.I, filme de viragem do mais eclético dos moviebrats dos 70´s, o realizador depois da luz dos primeiros filmes entrou nas trevas…como que numa consciencialização de um novo tempo e de uma maturação própria…

"Donnie Darko : Director's Cut" de Richard Kelly

por : NeTo

Em tempos, em análise à versão original, comentei algo como «uma das obras mais estranha, fascinante e cativante do cinema moderno, "Donnie Darko" é daqueles filmes que não se consegue qualificar... não é só drama, não é só politico-social, não é só thriller, não é só ficção científica, não é só suspense, não é só um teen-movie, não é só um filme familiar, não é só um filme que aborda problemas psicológicos na adolescencia... "Donnie Darko" oferece-nos isto, e muito mais, tudo isto misturado de uma forma muito inteligente.»

Após o visionamento da versão do realizador, editada pelo próprio Richard Kelly, que acaba por conter mais 20 minutos que não faziam parte do original e algumas alterações na banda sonora, resta dizer que o fascínio, a delicadeza, o absurdo e o enigma continuam presentes. Muitos são aqueles que por esse mundo tentam explicar o que "Donnie Darko" é ou quer transmitir. Mas o que torna este filme num objecto de culto, não será o facto de visionamento após visionamento, novas ideias, novas teorias, novos delírios, invadem a cabeça do espectador? Nestes mais 20 minutos acentua-se e oercebe-se melhor o que Richar Kelly pretendia, pretendia provocar confusão, encher o espectador de detalhes e mais detalhes para que nós próprios tivessemos o nosso ponto de vista a nossa interpretação perante a história. Na versão original pareciam existir pequenos fragmentos a mais, mas neste "director's cut", esse fragmentos são ainda mais, acentuando claramente que era uma opção do realizador.


Donnie Darko é um jovem esquizofrénico que recebe ordens de um coelho de forma "humanoide" que aparentemente lhe salvou a vida e que anuncia o fim do mundo em 28 dias, 6 horas 42 minutos e 12 segundos. Apartir daqui é a já famosa história da filosofia das viagens no tempo, que desde a estreia do filme tanto têm ocupado páginas e blogs da internet.

Na verdade notável acaba por ser a utilização, ou melhor, a manipulação do tempo e do espaço que Richard Kelly faz. A utilização de planos sequência e a utilização de fast-fowards e slow-motions, criam o clima ritmico e narrativo ideals ao filme. Relembro a fabulosa sequência do corredor da escola e seguidamente do pátio da escola, em que o acelerar e abrandamento da imagem, nos apresentam as personagens de uma forma bastante curiosa.

As interpretações são excelentes desde Jake Gyllenhaal a Mary McDonnel, tudo parece credível, tudo parece real nos seus comportamentos, no mundo de fantasia criado por Richard Kelly.

"Donnie Darko: director's cut" acaba por nos trazer pequenos momentos em que acentua mais a relação familiar, principalmente a de Donnie com a sua mãe e com o seu pai, para além de ser possível acompanhar a leitura de alguns excertos do livro de Roberta Sparrow.

"Donnie Darko" é uma obra despretenciosa, que não tem medo de o ser e acaba por beneficiar com isso, não tem medo de vincar as referencias, não tem medo de alterar conceitos e acima de tudo não se escondeu atrás de campanhas de publicidade e acabou por conquistar o seu publico e a crítica mundial, podendo mesmo ser considerado um dos mais raros objectos cinematográficos deste novo século.

NeTo - 9/10 (este é um 9 dos grandes...)

Já agora os diálogos são delirantes dignos de um qualquer esquizofrénico por aí perdido.

Já agora tratando-se em parte de um filme que nos mostra o fim do mundo, e contem uma vertente política bastante interessante (eleições de 88 nos EUA) que acabariam na eleição de Geoge Bush pai... não terá sido o início do fim do mundo ;)

sábado, julho 09, 2005

ROLLCAMERA
apresenta
Guy Maddin


"O cinema de Guy Maddin"
por Luís Carneiro (sir_blackmore)



Natural de Winnipeg, Canadá, onde se encontra afastado da praga hollywoodeana, Guy Maddin é actualmente um dos mais conceituados nomes do denominado cinema independente ou submundista. Apaixonado pelo cinema mudo dos anos 20, molda os seus filmes sob os cânones clássicos, não excluindo, no entanto, a concepção visual das imagens. Este, é de facto, um dos pontos preponderantes no seu trabalho. Os seus filmes são viagens pelo mundo do cinema mudo onde são reproduzidas imagens e sons, extraídos de pedaços de pintura, literatura e música clássica. Nas mãos de Maddin, os seus filmes tornam-se desenvoltos, complexos, hilariantes, únicos. Estas imagens são fantasmas pós-modernos de um revivalismo criativo único.
Ao contrário de compatriotas como David Cronenberg, Maddin não estudou cinema. Licenciado em economia, sorveu a inspiração para os seus filmes durante os anos 70 e 80, tendo esse período de absorção resultado na sua primeira curta-metragem “The dead father”, de 1986, uma história macabra acerca da marcante relação de um homem com o seu pai.
Foi após o lançamento da sua primeira longa-metragem “Tales from the Gimli Hospital” que o seu nome se espalhou pelo undergound cinematográfico; estranhamente (ou felizmente?) não saltou para os principais palcos cinematográficos como havia acontecido com David Lynch e John Waters, também eles, a seu tempo, submundistas. Este filme constitui uma ponte para o seu filme mais delirante e insensível de 1990 “Archangel”, o mais lírico de todos os filmes de guerra que conta a história de dois amantes amnésicos que tentam romper as fronteiras a norte na Primeira Guerra Mundial.
Após este sucesso, lança o seu primeiro filme a cores, “Carefull”, uma história de repressão. Este filme abriu o Festival de Toronto em 1993.
Em 1995, Guy Maddin cria uma curta poético-prosaica, “Odilon Redon”, organizada pela BBC que convidou também actores como Jonathan Demme, Jane Campion e Tim Burton. O resultado final ganhou uma menção honrosa do júri do Festival de Toronto. No mesmo ano é o galardoado com menos idade com o prémio de carreira do Telluride Film Festival.
Em 1997 lança uma nova longa-metragem “Twilight of the ice nymphs” , o primeiro filme em que perfilam actores consagrados como Alice Krige e Shelly Duvall e com um orçamento significativo.
Entretanto, em 2000 lança “The heart of the world”, um pastiche inspirado no filme mudo de ficção cientifica russo “Aelita, Queen of Mars”.
Em 2002 filma a interpretação de Drácula pelo Royal Winnipeg Ballet dando origem a “Dracula, pages´ of a virgin´s diary” que viria a ganhar um Emmy.
O seu filme mais recente entitulado “The saddest music in the world” é baseado num guião original de Kazuo Ishiguro e trata de uma disputa para saber quem consegue criar uma musica mais melancolica do que qualquer outra e conta ainda com a participação da actriz Maria de Medeiros.
O trabalho de Guy Maddin é tão belo como confuso e delirante. Incorpora em si a linguagem do cinema do passado com o qual é intimo devido às horas incontáveis de filme que visionou, combinada com uma sensibilidade pre-cinematográfica extraída dos livros que devora.
Um prodígio de capacidades intelectuais únicas que retracta nas suas obras as suas obsessões e interesses.


FILMOGRAFIA :

  • Longas-metragens

Tales from the Gimli Hospital (1988) 72 min

Archangel (1990) 90 min

Careful (1992) 100 min

Twilight of the Ice Nymphs (1997) 91 min

Dracula: Pages from a Virgin's Diary (2001) 73 min

The Saddest Music in the World (2003) 99 min

  • Curtas-metragens

The Dead Father (1986) 26 min

Mauve Decade (1989) 7 min

BBB (1989) 12 min

Tyro (1990) 4 min

Indigo High-Hatters (1991) 34 min

The Pomps of Satan (1993) 5 min

Sea Beggars (1994) 7 min

Sissy Boy Slap Party (1995) 2 min

Odilon Redon (1995) 5 min

The Hands of Ida (1995) 30 min

Imperial Orgies (1996) 3 min

Maldoror: Tygers (1998) 4 min

The Hoyden (1998) 4 min

The Cock Crew (1998) 5 min

Hospital Fragment (1999) 3 min

The Heart of the World (2000) 6 min

Fleshpots of Antiquity (2000) 3 min

Fancy, Fancy Being Rich (2002) 6 min

Luis Carneiro , Julho 2005

"Cinema Apocaliptico"
por Luís Carneiro

“No one would have believed in the last years of the nineteenth century
that this world was being watched keenly and closely by intelligences
greater than man's and yet as mortal as his own.” – “War of the Worlds” H.G.Welles


A visão apocalíptica do mundo é um imaginário que não abandona a mente humana. Se na era cristã esta era vista à luz da religião, entre fiéis e pecadores, na modernidade, dado o conhecimento que se adquiriu, entretanto, sobre o Homem, esta passou a ser vista como vinda e provocada pelo meio que menos dominamos, o desconhecido - o espaço.
Nos tempos em que decorre uma avalanche de filmes que tratam da destruição da terra tem inundado o panorama cinematográfico internacional. “Armageddon”, “Deep Impact”,”Dias da Independência" “Mars attack”, “Mission to Mars”, “Alien” são apenas exemplos da magnitude deste novo género que surgiu e se intensificou nas últimas duas décadas, dentro da ficção cientifica.
Como é óbvio, o refúgio nesta temática remete para uma necessidade social da humanidade que, vendo o caos, a repetição, o tédio e a monotonia invadir a sociedade em que vive, busca no seu mais profundo imaginário uma categoria superior de seres habitantes num mundo melhor do que o terrestre, mais evoluído e ambicioso (até mesmo espécies habitantes do nosso planeta), dispostos a pôr-nos um fim (seja qual for a forma) e, assim, libertar-nos do cataclismo que se vai adensando ao nosso redor.
Estes seres têm, usualmente, diversas formas. Tanto são inertes, como meteoros e meteoritos, cometas, ou vivos, como bactérias, vírus, bestas selvagens ou extraterrestres.

A preocupação não é actual, mas sim crescente. É aqui, então, que surge a obra de H.G. Wells, “A Guerra dos Mundos”. Publicada nos finais do século XIX, esta tornar-se-ia numa das mais aclamadas obras da literatura fantástica de todos os tempos, inspirando todos os autores que a ela se seguiram.
Aqui é tratada a impavidez do Homem. A sua desatenção para com as coisas mais óbvias da vida. Sentindo-se dono e senhor do universo, a humanidade auto-conduz-se, inconsciente e despreocupadamente para o seu fim. O Homem não se encontra sozinho, mas sim observado por outros seres que não o encaram, claramente, como uma raça amiga, como pensaríamos, mas, pelo contrário, como alvo a abater. Os terrestres são, assim, atacados, exterminados, sendo então despertos para a realidade e para a luta extrema pela sobrevivência no epicentro de um extermínio racial.

É o medo do futuro que emana nestas histórias. O temor pela incerteza do nosso destino.
Atribuo a Steven Spielberg, nos tempos modernos que decorrem, o mesmo papel que tiveram H.G. Wells e Júlio Verne nas suas respectivas épocas, em obras como a já referida “A Guerra dos Mundos”, “A Máquina do tempo”, “O homem invisível”, “Viagem ao centro da Terra”, entre outros...
Na parte da obra de Spielberg à qual eu denomino de “cinema apocalíptico”, nota-se uma certa evolução desde o despertar da consciência dos espectadores para esta problemática, até um desenvolvimento e exposição do que preocupa o realizador e do que quer fazer ver à sociedade, até a uma fase actual de catarse em que o inconsciente do observador sabe já o que está diante dos seus olhos, mas que é apresentado de diferentes perspectivas e intensidades, de acordo com as circunstâncias vividas.
Encontros imediatos do terceiro grau”, de 1977, foi o começo da sessão de consciencialização de pequenez e finitude da nossa raça em relação às nossas concepções estabelecidas, iniciada pelo realizador norte-americano. Spielberg, aqui, provoca um choque no Homem. Apresenta-o ao seu imaginário, e condu-lo às suas intenções e aos motivos que o move. A sociedade contemporânea do filme foi obrigada a reconhecer que estes seres os amedrontavam, faziam parte das suas vidas, mesmo que só no seu pensamento, nos seus traumas ou nas suas necessidades metafísicas de libertação. Faz parte da fase de despertar.

Com “E.T.: o extra terrestre”, de 1982, dá-se a exposição do tema do nosso imaginário. Nele, através de elementos psicológicos, é-nos explicada a atracção-repulsiva que por estas criaturas temos. Ou seja, são-nos incutidos os motivos que nos levam a aproximar deles, de certa forma, a deseja-los, a desejar a sua acção para com a nossa sociedade, para com a nossa vida, mesmo que, no fim, nos conduzam até à morte.

Em “Jurassic Park”, de 1993, Spielberg quer mostrar que o temor não vem só de fora. Também no nosso planeta, no nosso meio existem monstros que nos assombram, que nos horrorizam e terrificam. Aqui é a gula e a curiosidade extrema do Homem que o conduz ao seu possível e provável final. O Homem, ao trazer de volta os dinossauros do passado, dá-lhes a possibilidade de vingarem a sua extinção provocada pela evolução despreocupada da nossa espécie.

Por fim, “AI – Inteligência Artificial”, de 2001 e “A Guerra dos Mundos”, de 2005, surgem-nos numa fase de maturação. Nestes o realizador já busca explicar os seus propósitos por outras vias, particularmente o relacionamento humano, as suas emoções e sensações para com o próximo, mas sempre sendo impedido ou bloqueado por uma ameaça exterior que o impede de concretizar as suas acções e atingir os seus fins e propósitos.
Vejo este cinema (apocalíptico) de Steven Spielberg como um espelho dos medos, temores e incertezas do Homem, o qual nos é apontado (à semelhança da cena de “A Guerra dos Mundos”, agora nos cinemas) para que nele nos reflictamos e nos apercebamos do que realmente nos move, e do que realmente nos faz recuar, avançar, sofrer, temer, consciencializar-nos do que realmente somos e não do que julgamos ser, pois tudo vai muito mais além disso.


Luís Carneiro aka sir_blackmore
julho 2005

"A Guerra dos Mundos" de Steven Spielberg

por: NeTo



Steven Spielber e Tom Cruise , desde logo são dois nomes que asseguram, um bom resultado de bilheteiras e uma possível qualidade cinematográfica. Os resultados de bilheteira estão garantidos, quanto à qualidade em parte também o é, embora algo mais fosse de esperar.

Colocando de parte qualquer comparação em termos d fidelidade à obra literária de H.G.Welles, ou até mesmo à versão cinematográfica de Byron Haskin em 1953, estamos assim perante uma "nova" "Guerra dos Mundos", que nos apresenta desde o seu início uma clara marca "spielberguiana", a família... a família incompleta, a família destruida, que pelo meios da destruição, do cataclismo, acabará em grande parte por ser reconstruida, diga-se a relação entre os filhos e o pai irresponsável e ausente.
Era já previsível que não estariamos perante um mero "blockbuster" de verão, onde as forças bélicas mostrariam o seu poder, onde a destruição em grande escala encheria cada plano ou em que cientistas tentariam encontrar as explicações mais loucas para o que sucedia. Aqui estará talvez a principal qualidade de Spielberg, "esconder" por detrás de um cenário fantástico, uma história terna e dramática, apartir das personagens, e não apenas e só dos efeitos especiais. E em "A Guerra dos Mundos" somos colocados a viver a experiência ao lado de uma família, nunca existe claramente um aproveitamento militar ou cientifico, aunto à exploração política, não passará despercebida aos mais atentos, "são os terroristas" ouvimos por vezes, ou no primeiro contacto que temos com Harlan Ogilvy (Tim Robins) em que desde logo é possivel marcar um paralelismo entre as suas palavras e o 11 de Setembro, "em dois dias conseguiram derrotar a maior potência mundial".

A história dramática, a recuperação da relação e a preocupação de um pai (Tom Cruise) com os seus filhos (Dakota Fanning e Justin Chatwin), podia e devia ser mais aprofundada e alongada, vincar claramente o conflito que se vivia no seio daquela "família", para isso se o iníciotivesse uns minutos a mais, penso que a narrativa ficaria a ganhar. Enquanto uns pedem mais explicações no final, eu gostaria de ver mais explicitas as motivações daquela família. Critica-se por aí, o final que é demasiado rápido e complicado de perceber, se até compreendo no que trata à rapidez (gostava de ver mais família) quanto ao entendimento geral do sucedido penso estar bastante bem explicito visualmente, ao longo da própria narrativa Spielberg vai nos dando a chave para o final (recordo o genérico inicial, que até quase que reforça a ideia de estrutura narrativa circular) e depois ainda existe a voz do narrador que nos mostra claramente o que se passa (um Morgan Freeman arrebatador, a sua voz faz tremer qualquer um).
Tom Cruise é credível, é uma personagem em constantes convulsões e consegue transmitir tudo aquilo que vive e que pensa, mais uma prova que não será uma mera cara bonita de Hollywood. Dakota Fanning, está num registo muito bom, apesar de momentos extremamente irritantes e em que os seus gritos provocam uma irritação do tamanho do mundo, a verdade é que tudo me leva a crer que era um dos objectivos e se assim o é, foi extremamente bem conseguido, assim como em momentos temos uma clara noção do trauma, e da evolução de menina mimada que era, para uma menina carente e afectuosa (a canção de embalar).

Spielberg tinha uma tarefa bastante espinhosa, e o resultado final isso revela, é um filme interessante, mas que devido ao seu argumento, à sua ligeireza dramática e ao ritmo acaba por momentos cansar. Embora o génio de Spielberg se mantenha em duas cenas em particular, o momento de abertura e o fabulosos momento na cave na companhia de Tom Cruise, Dakota Fanning e Tim Robins, mostram claramente que Spielberg está presente. Será mesmo na cave que teremos o melhor momento de cinema, Dakota Fanning, de olhos vendados e de mãos nas orelhas, canta a sua canção de embalar, enquanto que a principal acção ocorre longe dos nossos olhos por detrás de uma parede de madeira, fabuloso, uma carga dramática intensa para a qual contribui a musica, mais uma vez assinada por Jonh Williams.


Também ninguém pode retirar a Spielberg, a capacidade de gerir o suspense que tem, em alguns momentos chega a ser uma imensa agonia estar naquela sala de cinema, para além de em momentos Spielberg recorrer a uma vertente mais cómica no seu filme, que tem momentos interessantes, mas que por outro lado, de vez em quando quebra a carga dramática ou até mesmo o suspense.

Por momentos, existe uma qualidade que não pode deixar de ser referida, e que tal como se tem visto nos ultimos filmes do "mais conhecido realizador mundial", é a direcção de fotografia, tem momentos unicos em que a penumbra invade por completo a tela, e pequenos rasgos de luz, acentuam a acção ou os fortes contra-luz provocam um ar ainda mais arrepiante. O senhor que tem este mérito dá-se pelo nome de Janusz Kaminski.

Assim, "Guerra dos Mundos", não é uma típica versão de "aliens" maléficos que se preparam para destruir tudo e todos, é em parte contida, tem um objectivo e tenta cumpri-lo. Por vezes em alguns momentos pensamos que Spielberg andou a ver "Signs" de Shayamalan, pois grande parte da acção destruidora, desenrola-se longe do nosso olhar, mas perto dos nossos ouvidos.
É um filme interessante, com belos momentos, mas vindo de quem vem, algo mais seria de esperar. Não é o filme do ano, muito longe disso, não é o pior filme do ano, também muito longe disso, mas não é um filme sublime ou uma obra imperdível.

NeTo - 7/10

P.S. - Deixo uma questão, será que a relação entre Ray Ferrier e Harlan Ogilvy, poderá ser vista como a personificação da reacção política ao 11 de Setembro?
Depois deixo apenas duas referencias, não é um filme que pretende realçar e vanglorizar a América, e depois muito curioso que H.G.Welles no seu tempo se tenha apercebido, que a evolução tecnológica não se encontra acima de evolução biológica do Homem.

quinta-feira, julho 07, 2005

ROLL CLIP
apresenta
Fat Boy Slim - Praise You


Apesar de ser uma grande música, não tem um grande videoclip, ou melhor, tem um videoclip estranho e completamente louco.
Imaginem um grupo de amigos "armados" com algumas câmaras de filmar, que resolvem ir para a entrada de um cinema, fazerem uma dança mal ensaiada e sem pés nem cabeça sem terem autorização para ocuparem aquele espaço. Assim até parece algo do género "Jackass", e na verdade o principal bailarino deste grupo é um dos produtores executivos do programa da MTV, ou seja, Spike Jonze. (cá estou eu a falar deste maluco outra vez)
Na verdade este videoclip, não tem nada de especial, não há uma clara narrativa, não há uma procupação tecnica ou estética, existe sim uma preocupação, chamar a atenção. E na verdade há que admitir que consegue, é impossível não largar uma gargalhada, por olhar para um grupo de bailarinos tão desajeitado e ainda mais a quando do surgimento de um responsável pelo espaço, ao qual Spike Jonze se agarra com braços e pernas.
Hilariante, simples e muito mas mesmo muito estranho e parvo, é o que se pode dizer deste videoclip.

quarta-feira, julho 06, 2005

"Crash - Colisão" de Paul Haggis

por: NeTo

Paul Haggis, argumentista nomeado a um Oscar, por "Million Dollar Baby" apresenta-nos agora uma obra que nos agarra pelos colarinhos, nos prmeiros minutos, e que na segunda metade, nos esmaga numa tremenda "colisão" de sentimentos.

Se "Million Dollar Baby" é um dos grandes filmes deste ano, "Crash" em pouco ou mesmo nada fica a perder. É uma obra crua, fria e muito violenta, tal como havia sido a história realizada por Clint Eastwood.

"Crash" debruça-se sobre as questões raciais, sobre o choque de culturas de mentalidades e de cores, nas escuras ruas de Los Angeles.
Sem nunca tomar uma clara posição entre os bons e os maus, Paul Haggis tem o seu grande mérito no facto de filmar pessoas, não simples corpos falantes, mas sim pessoas, personagens credivéis, reacções, emoções e acima de tudo, comportamentos com os quais temos contacto no dia a dia, mas com o acento provocado pela câmara de Haggis e a força imprimida pela musica.

A fotografia, embora não perfeita, tem um papel dramático importantissimo, cores saturadas, imagem carregada de sujidade e grão e por vezes uma sobre-exposição, criam uma ambiência muito negra.

Mas de que vive afinal este "Crash", da realização? Dos actores? Do argumento? Penso que acima de tudo o mérito de Paul Haggis será o maravilhoso argumento, toda a estruturação da sua narrativa, acente em diversas linhas narrativas que acabam por colidir umas com as outras. Argumento esse que tem o poder de facilitar a realização e acima de tudo a compreensão da audiência, vários são os momentos em que a narração é feita apenas pela imagem, sem que exista qualquer necessidade de diálogos ou de narrador. Para além da fabulosa utilização que Haggis faz do suspense, constantemente criando situações de enorme carga emocional e fugindo a clichés provoca a surpresa a quem o vê. Haggis não esconde nada do publico, também naõ mostra tudo, mas sugere muito.

Os actores, muitos têm falado em Don Cheadle, Sandra Bullock e Matt Dillon, e é bem verdade que todos os elogios são merecidos. Se no caso de Don Cheadle e Matt Dillon a surpresa não foi muita, pois são actores com as suas provas dadas, a grande surpresa foi mesmo Sandra Bullock e sem qualquer sombra de dúvidas o desconhecido Michael Pena, que nos transporta do momento mais tornurento de uma relação pai-filha, para um dos momentos mais deamáticos e comoventes dos ultimos anos. Não deixo sem referir que todo o elenco é eficiente desde a lindíssima Thandie Newton até ao "hip-hopper" Ludacris ou mesmo Ryan Phillippe num registo de contenção e ingenuidade.

"Crash" será um filme do qual muito se poderá falar, muito se poderá contar, mas que deverá ser visto o revisto, de preferência numa sala de cinema.
Uma história de redenção? Uma história de confrontos étnicos? Uma história de ódios? Uma história de pessoas? "Crash" será uma história de vida, da vida em geral, que aterrorizará todos aqueles que pensam na América como uma terra de sonhos e de igualdades, uma história que vinca claramente relações, uma história que claramente marca todo este ano cinematográfico.

NeTo - 10/10

Não será nenhuma surpresa se "Crash" receber no mínimo uma nomeação para os próximos prémios da Academia.

sábado, julho 02, 2005

"Madagáscar" de Eric Darnell e Tom McGrath

por: NeTo

No mundo cada vez mais competitivo da animação (diga-se animação digital), o grande desenvolvimento técnico é evidente, mas em contrapartida o desenvolvimento narrativo, o acto de contar e elaborar uma boa história parece cada vez mais perdido.

"Madagascar" é uma história de amizade, de sacrifícios em prol dos amigos, mas falta algo mais, para além de faltar um pouco mais de duração (80 minutos, é pouco) falta alguma prefundidade às relações, falta até um maior vinco nos conflitos interiores. Mas isto claro falando num filme que se destinasse ao publico maior de idade, pois "Madagascar" é rápido, animado e colorido, tudo o que uma criança gosta... e ainda tem animais que falam.

Um leão qual estrela da Broadway, uma Hipopotamo fêmea, uma girafa hipocondriacae uma zebra transloucada, vivem no Zoo de Central Park e devido ao seu comportamento são "enviados" para o Kenya, juntamente com um quarteto de pinguins psicoticos. MAs a viagem acaba por terminar num local que não era pretendido, e apartir daqui começa a surgir o grande problema.
O leão Alex (Voz de Ben Stiler, por momentos lembrando a sua personagem em "Zoolander"), vivia em cativeiro, com as refeições sendo fornecidas diariamente, mas agora no mundo selvagem, Alex, vê-se envolvido com os seus instintos mais selvagens e tem que lutar para superar o grande dilema... ou as suas amizades, ou a fome que o levará a comer todos os seus amigos.

"Madagáscar" é um filme engraçado, com personagens altamente cómicas (embora não tão cómicas como muitas que nos foram oferecidas nos ultimos anos), mas que não atinge um ponto dramático que lançaria o filme para outro nível, acabando por ser um mero filme infantil, indicado para levar qualquer miudo ou adulto com espirito de miudo, para passar um momento agradável e soltar algumas gargalhadas.

NeTo - 5/10

O mais interessante e mais cómico, serão mesmos os diversos "gags", que enquadram "Madagascar" com outros filmes da história do cinema ou com a prórpia filmografia dos actores que dão vozes às diversas personagens. O momento "Chariots of fire" e "CastAway" onde voltamos a ver Mr. Wilson (o companheiro de Tom Hanks) são dois gags de extrema comédia.

Balanço do 1º Semestre Cinematográfico de 2005


por: NeTo


Atingimos o final deste 1º semestre do ano 2005. Será uma boa altura para fazer o balanço cinematográfico deste meio ano.
Tendo em conta os filmes que pude ver, considero que desde o dia 1 de Janeiro, temos assistido a películas de extrema qualidade, um dos melhores anos cinematográficos dos ultimos anos.
Já tivemos de tudo, filmes independentes, europeus, blockbusters (embora ainda estejam para chegar mais), portugueses.
Então vistas e revistas todas as análises ou opiniões que tinha dos filmes vistos, fica já de seguida a lista que engloba apenas filmes estreados este ano, existindo apenas três excepções, “Nothing” que esteve presente no FantasPorto deste ano, de “Alone in the Dark” que irá estrear em breve nos nossos cinemas e de “I Heart Huckabees” que não sei se estreará entre nós.
Assim o ano cinematográfico de 2005, está organizado desta maneira:


- Million Dollar Baby – 10/10
- Closer – 10/10
- Birth – 10/10
- Garden State – 10/10

- Mar Adentro – 9/10
- O Aviador – 9/10

- The Life Aquatic With Steve Zissou – 8/10
- Sin City – 8/10
- O quinto Império – 8/10
- Uma Boa Companhia – 8/10
- I Heart Huckabees – 8/10
- Oceans Twelve – 8/10

- Espangles – 7.5/10
- Amor ou Consequência – 7.5/10

- Nothing – 7/10
- Team America – 7/10
- O Condenado – 7/10

- Star Wars 3 : A vingança dos Sith – 6/10
- O Segredo dos Punhais Voadores – 6/10

- Bride & Prejudice – 5/10
- Constantine – 5/10
- O Maquinista – 5/10
- Madagáscar – 5/10

- Saw – 4/10
- Um tiro no escuro – 4/10
- The Grudge – 4/10

- Ray – 3.5/10

- Reino dos Céus – 3/10
- Romasanta – 3/10
- The Ring 2 – 3/10

- Alone In The Dark – 1/10


Assim vi esta primeira metade do ano. Alguns destes filmes estão comentados aqui no blog (ver barra do lado direito), e outros ainda não foram comentados poderão ser mais tarde.
Agora é esperar que as próximas estreias mantenham grande parte da qualidade vista até agora e teremos uma ano "VINTAGE".

Cumprimentos.