sexta-feira, setembro 29, 2006

E o nosso candidato é...

..."Alice" de Marco Martins.
Não será surpresa nenhuma a "decisão" do ICAM ao propor "Alice" de Marco Martins como candidato nacional aos Oscares da Academia Americana.
Um juri composto por, José Pedro Ribeiro (Presidente da Direcção do ICAM), Alberto Seixas Santos (representante da Associação Portuguesa de Realizadores), José Carlos de Oliveira (representante da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisual), Gonçalo Galvão Teles (representante da Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos), José Mazeda (representante da Associação de Produtores de Cinema), José Antunes João, Pedro Ribeiro, Rita Durão e Rui Pedro Tendinha, decidiu e a meu ver correctamente pela obra de Marco Martins, um filme que conquistou a crítica e em especial o público português.
Com a conquista de enumeros prémios entre os quais o Regard Jeune em Cannes, acredito que "Alice" de Marco Martins, possa ser um digno representante nesta campanha a caminho dos Oscars e porque não ser o primeiro representante na noite mágica de Hollywood... afinal sonhar não custa.
Se há dois anos atrás "O Delfim" foi um forte candidato, este ano "Alice" será ainda mais forte, embora com toda a certeza um dos 5 lugares a Melhor Filme de Língua não Inglesa, já esteja de antemão ocupado por "Volver" de Almodovar, que só por um golpe de teatro estará de fora.

Mas como referi anteriormente, se a escolha de "Alice" não é surpresa, da lista de filmes estreados entre 1 de Outubro de 2005 e 30 de Setembro de 2006 (todos eles poderiam ser seleccionados) encontravam-se, "O Crime do Padre Amaro" de Carlos Coelho da Silva, "Lavado em Lágrimas" de Rosa Coutinho Cabral, "Manô" de George Felner, "O Fatalista" de João Botelho, "Odete" de João Pedro Rodrigues, "Coisa Ruim" de Tiago Guedes e Frederico Serra "Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira, "Vanitas" de Paulo Rocha, "Pele" de Fernando Vendrell e "98 Octanas" de Fernando Lopes.

Alguns destes nomes estariam automaticamente fora da decisão, sendo que apenas 3 ou 4 mereceram alguma atenção, Manoel de Oliveira tudo indica que terá a sua candidatura com o próximo "Belle Toujours", "O Fatalista" de João Botelho é um belo filme mas não alcança a plenitude de "Alice" e neste leque a minha duvida, antes da decisão, apenas se mantinha entre a "dupla feminina", "ALICE" e "ODETE" de João Pedro Rodrigues, mas a temática e a relação obra/publico e crítica terão decidido.

Assim resta aguardar pela decisão da Academia.



Fica ainda o apontamento, 11 filmes portugueses estreados em 12 meses... este numero já foi menor, mas o caminho será por aí, aumentando o numero de filmes portugueses na sala e criar uma ligação mais consistente com o publico.

quinta-feira, setembro 28, 2006

"World Trade Center" de Oliver Stone (2006)


por: José Miguel Oliveira

Pode-se, á entrada ou á saída, do filme de Oliver Stone ter-se, em princípio, uma de duas atitudes.
Pode-se, á entrada ou á saída, do filme de Oliver Stone ter-se, em princípio, uma de duas atitudes.
A primeira é ver-se o filme em relação com a restante obra de Stone.
A segunda é olhar para ele como “só um filme”, justamente um filme, experiência que se pretende de catarse e necessária, e que teria de acontecer mais ano menos ano.
No caso de se escolher a primeira atitude muito dificilmente alguém se demarcará de ideais políticos, prós ou anti americanismos, do lado de Stone ou contra Stone.
Durante o visionamento haverá com certeza o “raccord” mental dos gestos iconoclastas e provocatórios que o cineasta americano tantas vezes praticou: a militância “louca” da personagem de Tom Cruise em Nascido a 4 de Julho, a monumental teia de conspiração erguida em JFK, a ultra violência de Assassinos Natos.

Poder-se-á, e o próprio Stone têm confirmado esta hipótese, reconhecer que o cineasta mudou, de ideais, de atitude, de vida, que escolheu opor a provocação e a desmontagem a um cinema pacificado, reconciliado com a dor da sua América, trabalhar num humanismo clássico que sempre fez parte da história de Hollywood, de Ford a Spielberg por exemplo.
E aqui teremos que ver o filme, por assim dizer, do lado do cinema, de um modo de fazer que se quer justo e emocionante.
E se quisermos por tudo isto de lado, assistir então ao filme como uma peça que teria obrigatoriamente de ser produzida, uma peça que soubesse lidar com o maior acontecimento do presente puro ainda.

Neste caso estamos também do lado do cinema obviamente, e com tudo o que ele pode despoletar em termos humanistas, sociológicos, na sua condição de arte maior.
Em todos os casos existe ainda uma obra na carreira de Stone que poderemos considerar singular e rimável em certa medida com WTC, os Bravos do Plutão com que Stone quis fazer a sua propina catarse e a de uma América em relação ao Vietname.
Desde logo Stone teria que ter em conta uma série de questões fulcrais para resgatar o seu filme da banalidade e por fim da mediocridade: como escapar á monumental proliferação das imagens do lado do “real” que a televisão produziu; como escapar ás imagens-cliché do “real” e do próprio cinema; enfim, como encontrar novas imagens – emoções – num filme que se quer ficcional a partir do real.

Poderemos começar por dizer que o filme é dos mais lúcidos que alguma vez Stone realizou, formalmente “calmo” e justo, sempre resguardando uma distância integra em relação ás personagens e ao desconhecido, ás suas emoções e aos eventos puramente ficcionados.
A sequência inicial é prova cabal disso mesmo: um acordar como qualquer outro, os movimentos citadinos, a tragedia, o espanto geral.
E nesta sucessão progressiva de acontecimentos Stone consegue com uma economia de meios que muitos julgariam impossível – ficam de fora o formalismo brutal que tantas vezes pareceu descabido e imaturo, como um mestre da manipulação áudio visual a mostrar a sua singularidade – para fazer imergir ao mínimo a banalidade das imagens gastas – nesse sentido a sombra na torre é um achado – logo nos lançando para um clássico e tocante intimismo de grupo, os bombeiros, a policia, as pessoas como um todo.
Seco e desencantado até o filme atingir ao seu centro – enfim aparecerão ecos pontuais de uma maneira de fazer não totalmente revertida – os dois bombeiros e a sua luta pela sobrevivência, o paralelismo centrado na família.Ou seja: o escuro e o claro, a “noite” e o dia, (escuro-claro/claro-escuro, …) tudo envolto em tom eminentemente trágico – é uma dialéctica interessante que o filme não conseguirá suster na plenitude

E chega a ser notável a maneira como o filme tem coragem de ficar tanto tempo no escuro, na claustrofobia, testando a paciência de muita gente sedenta de puro espectaculo (“que seca” tantas vezes se ouviu na projecção do filme), o realizador não receou a falta de luz, é talvez a maior vitoria do seu filme.
Se o filme explana um conceito interessante de tratar as matérias, é em termos puramente cinematográficos que o filme não atinge grande brilhantismos, não se transcende.
Se Oliver Stone foi notável em termos de dramaturgia, e já agora em termos de montagem e de “mise en scene”, em JFK, filme em tudo contrario a WTC, o Stone provocador, sempre disposto a por o dedo na ferida estava por assim dizer no seu auge, é evidente que aqui algo se perdeu, no modo de fazer, na convicção e na paixão de segurar e de elevar uma narrativa, em termos puramente criativos, etc.
E não se trata de defender o Stone convencionado, ou seja, não existe mal algum, como é óbvio, em ser patriota, em fazer um cinema que não vá no sentido de questionar os mecanismos e atitudes politicas do seu país, mas que antes funcione como um canto de amor por uma América ferida, dos seus heroísmos e da sua capacidade de se unir e reconciliar por uma causa, é um Stone harmonizado e também ele ferido que trabalha em WTC.

E se dispensarmos todos os maniqueísmos que nos fazem querer ser necessários para seguir e nos identificarmos com uma obra, esquerda/direita, etc., como se não tivesse existido nomes como Leni Riefenstahl, como Griffith, ou como Ford ou Spielberg, mais uma vez, mesmo assim temos que conceder que é um Stone tocado pela mediania, sem grande desenvoltura nem capacidade para levar aos limites o potencial que a sua corajosa dialéctica pedia.
Isso sente-se nos diálogos entre os dois bombeiros, por demais trabalhados numa lógica demasiado reconhecível, não acreditamos naquela conversa, sobretudo, e o realizador parece também não estar seguro, daí nasce uma sensação bizarra: depois de o filme se escapar virtuosamente de muitas imagens-cliché deixa-se cair nas armadilhas de transpor para o intimismo mais cru e radical sinais desse mesmo academismo anteriormente declinado.
Falta coragem para ir ao fundo da dor, dai os diálogos demasiado reconhecíveis e dispersivos, o trabalho sobre o claro, quando estamos com as mulheres destroçadas ser tão normalizado e indistinguível, preso a numa imagem de tele-filme de puxar á lágrima, de melodrama menor – falta sentir a singularidade da tragédia.
E na coerência e justeza formal que Stone na generalidade atinge surgirão sinais antagónicos e desnecessários que abalam a poética da sua materialização – num grande achado, João Lopes considerou os fragmentos dos dois bombeiros enclausurados, de poética Bressoniana – isto aparece por exemplo no plano em que a câmara sobe sobre os fragmentos da tragedia, do intimo para o geral, laivos de desajustamento formal e de traição.

E depois existe na personagem que se faz passar por marine, que quer ajudar e que logo proclama vingança um discurso e uma caracterização que roça o ridículo, que parece sair de outro filme, tal os sinais contraditórios que ostenta e que lança para o filme, laivos de um programa e de retórica fácil que o resto do filme parece rejeitar orgulhosamente.
E é nesta flutuação, entre o conceito francamente interessante, com momentos conseguidos e sobretudo com alguma coragem e paradoxalmente não se deixar afundar nos seus abismos e de Stone não ter o brilhantismo dos grandes mestres humanistas que o filme fica como o primeiro momento interessante sobre o 11 de Setembro propriamente dito.

José Miguel Oliveira - 6/10

segunda-feira, setembro 25, 2006

"98 Octanas" de Fernando Lopes


"O Moderno e o Arcaico" por José Miguel Oliveira

Assistimos a 98 octanas – titulo tão dispersivo como sugestivo – e deparamo-nos com o paradoxo mais fascinante com que alguns dos grandes mestres do passado e do presente souberam lidar com inigualável mestria, a saber: a coexistência dentro de um todo filmico de algo que poderemos considerar eminentemente contemporâneo ao mesmo tempo que sentimos estar presente uma maneira de fazer inegavelmente clássica, “desusada”, anacrónica mesmo.
No ultimo Fernando Lopes a forma vem dos grandes clássicos, de Nicholas Ray por exemplo, mas claro passam por lá como fantasmas Antonioni ou Bergman e sempre o espírito rebelde e libertário da Nouvelle Vague francesa – "je m´apelle Ferdinand" dizia Belmondo a Anna Karina no “Pierrot Le Fou” de Godard, entre Rogério Samora e Carla Chambrel haverão tiradas idênticas.

E estas evidências aparentemente antagónicas não estão de modo algum separadas, não caminham num paralelo distanciado, antes cruzam-se, atropelam-se, sobrepõem-se uma á outra, como secantes que se atraem e repelam…
É o que mais impressiona por exemplo em Clint Eastwood nos últimos filmes – e não só, poderemos dizer – em que o seu classicismo “Fordiano” é rasgado por temáticas urgentes e claro contemporâneas.

O Velho e o novo, Samora e Chambrel, a forma e os temas, a conformação e a rebeldia.
Se a personagem de Samora – o “velho” – se encontra resignado pelo novo, pelo contemporâneo, espécie de alienação nascente precisamente deste nosso “novo mundo”, perdido nos novos mapas das relações e da vivência moderna, á deriva num espaço e num tempo que parece fugir-lhe e esmaga-lo, sentem-se laivos niilistas, já a personagem de Chambrel – “a nova” – é ao mesmo tempo tocada pela rebeldia da juventude, pela fome de viver, mas esconde em si um espectro de medo enraizado num passado…e por vezes estes contrários vão ser ambíguos, de fronteiras difíceis, impossíveis de delimitar e de reconhecer.

E é ora pelas estradas, pelas estações de serviço e hotéis, pelas zonas em que o tal “trânsito moderno” se desloca alucinantemente, ora pelos interiores desertos onde a população já passou que o par em fuga vai querer que algo aconteça – qualquer coisa aconteça, apetece dizer.
São todos estes movimentos – geográficos e humanos – e pulsões que fazem o filme vibrar, que o carregam de vida e de sinais proximamente assustadores.
E todo o artificial que o filme produz, a luz divina, os cenários estáticos, como nos clássicos, mesmo a dimensão policial incutida pela perseguição, tudo vai no sentido de melhor convocar o deslocamento das personagens.

E é evidente que Fernando Lopes não realiza contra os novos riquismos cinematográficos ou televisivos, não vai contra a América nem contra o dinheiro, o filme contem esta forma e este ritmo – que o lugar comum dirá lento e cansativo, mas que sem duvida caminha á velocidade da luz tal o afloramento dos sentimentos – porque só pode ser mesmo assim para o realizador, a sua visão é tão definitivamente autoral e que só a ele lhe diz respeito o trabalho sobre as matérias em questão.
Isto é evidente na cena em que Lopes aparece na pele de um falsário desconfiado e comoventemente pacificado, com a clarividência e lucidez de um “velho”, precisamente, que já nada tem a justificar ou a temer, que aceitou o seu ser, o seu cinema fluí com aquela pureza luminosa e crepuscular que só depois de muita pedra partida é possível atingir – e vem-nos ai á cabeça Eastwood mais uma vez, mas também João César Monteiro seu velho comparsa, sem duvida.

“Lá Fora” foi o filme anterior de Fernando Lopes. Neste 98 octanas já estamos quase sempre lá fora e os dois filmes funcionam como as duas faces de um mesmo tempo. Em “Lá Fora” estávamos cercados pela imponência do betão e das câmaras de vigilância, em 98 octanas já estamos a céu aberto, mas a densidade e o ar deste tempo continuam carregados e a assombrar irremediavelmente as relações.
O desespero e o pessimismo de Antonioni, o arrebatamento lírico de Nicholas Ray, mas o filme nunca se reduz a mero gesto cinéfilo ou a citação inconsequente, a liberdade e abstracção do argumento de João Lopes e de Fernando Lopes tratam de elevar o percurso a algo de essencial e necessário, espécie de roteiro pelas flutuações interiores – a viagem valeu a pena.
Têm-se dito, com a altivez de quem tudo quer saber, que o filme é completamente fechado em si mesmo, auto-indulgência artística de quem se toma por artista – mas é o filme mais livre e aberto do mundo, não vende nada a ninguém, nada impinge a ninguém e cada um compra o que quiser.

Que o filme pareça ir a lado nenhum e a todo o lado ao mesmo tempo poderá ser o mais imediato paradoxo a que a “demarche” se propõe e que o dialogo final poderá explicitar, mas no fluxo acelerado e calmo de todo o filme não será seguro termos alguma certeza.
O amor ainda pode acontecer a estes ritmos? Perguntaria o realizador, o filme não se atreverá a responder. Que alternativa? Ficarmos com estas sensações e com estas imagens que são magníficas.


por: José Miguel Oliveira



quarta-feira, setembro 13, 2006

Porque ser PORTUGUÊS não é só ver futebol e saber o Hino Nacional...


Estreia amanha dia 14 de Setembro, é certo que em poucas salas como é normal acontecer a um filme português, mas a nova colaboração Fernando Lopes/João Lopes (realizador/argumentista), "98 Octanas" é um road-movie onírico a relembrar os clássicos americano e vale concerteza uma passagem por uma sala escura.

http://www.clapfilmes.pt/98octanas/

domingo, setembro 03, 2006

"United 93" de Paul Greengrass (2006)

“United 93” assumia-se como o primeiro filme a abordar directamente os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, era anunciado como a dramatização em tempo real do voo United 93 que foi sequestrado e se dirigia supostamente para Washington e que só com a intervenção dos passageiros foi impedido de chegar ao local pretendido acabando por se despenhar na Pensilvânia.
È certo que a ficção tende sempre a documentar algo, seja uma época, sejam costumes, sejam relações ou apenas uma história, mas sempre com uma noção dramática com algo para além do que é o objecto a “documentar”, veja-se o caso de “25th Hour” de Spike Lee, em momentos “documenta” ou regista uma realidade de Nova York após os incidentes do 11 de Setembro, facto esse que não o impede de ser uma sublime obra de ficção. Pelo contrário “United 93” é um objecto “híbrido”, não se assume como uma ficção, como uma dramatização nem se assume como documentário, embora esteja muito mais perto do segundo registo, numa espécie de docu-drama digno de qualquer investigação ou biografia da BBC ou do National Geographic.

Ou seja, se inicialmente se dizia ser uma dramatização dos ultimos momentos vividos a bordo do United 93, então que se assuma como tal e não a um registo frio e rígido unicamente com base em gravações ou relatórios. É certo que o tema está bem fresco nas memórias de todos e que a ética e a moralidade por vezes são adversários à criacção seja artística seja outra qualquer, mas neste caso Paul Greengrass queria um relato fiel, mas como poderia isso ser feito? Existia material para afirmar-se como um retrato fiel? É impossível que aquilo que vimos seja o que se viveu naquele voo, é impossível que aquilo seja uma realidade credível, é claro que Paul Greengrass e os seus argumentistas fizeram um enorme trabalho de pesquisa, mas nem tudo o que vemos estará documentado, apenas chamadas telefónicas gravadas, apenas os contactos via rádio do avião e as autoridades, e possivelmente todo o clima que envolvia todas as infrastruturas da segurança americana, assim sendo algo terá sido acrescentado, algo terá sido acelerado e nunca se poderia querer recrear uma realidade de forma tão rígida sem qualquer tipo de certeza que tal tivera acontecido.

O momento escandalo acontece junto ao final, um dos passageiros reza, é claramente católico e do outro lado um dos terroristas reza, é claramente muçulmano, o que pode argumentar Greengrass em relação a isto? Foi isto que realmente aconteceu? Claro que não há registo de que o terrorista rezou, não há registo que o terrorista telefonou para casa. Foi este um dos poucos momentos que Greengrass tentou acrescentar algo ao seu exercício de estilo frio e rude, mas acabou por errar em todos os sentidos, se era ficcional é completamente incompreensível que as duas orações sejam filmadas de igual maneira, ou não se tratasse de uma oração para viver e ser salvo e outra oração unicamente para matar. Terá sido uma questão ética de não querer tomar partidos ou não assumir claramente um ponto de vista, mas essa insegurança funciona de forma insultuosa para todos aqueles passageiros que rezavam para viver e são colocados ao mesmo nível de quem rezava para matar. É claro que tal acontecimento só ocorreu por questões religiosas e até seria um ponto interessante a explorar, mas não teria toda a lógica assumir claramente um ponto de vista? O que ali interessava eram aquelas pessoas que lutavam e rezavam pelas suas vidas, e isso é o que menos atenção nos merece, é preferível andar às voltas e reviravoltas com torres de control aéreo e a segurança nacional, do que olhar para dentro de cada uma das personagens, é preferível perder tempo na dúvida e na espera do terrorista para encontrar o melhor tempo de ataque, do que realmente olhar as personagens nos olhos e prestar-lhes a merecida homenagem. Para quem vê todos os rostos que percorrem o ecran, aquele que mais facilmente se lembrará é do líder dos terroristas.

É revoltante olhar para a ineficácia narrativa e emocional, é incompreensível a ausencia de um ponto de vista eficaz para documentar o indocumentável e é aborrecido pensar que o que Greengrass comentava como sendo um olhar sobre a sobrevivência, não passa de uma abordagem pseudo ficcional e mais documental em que por momentos só falta os comentários dos familiares ou de membros do governo.
Não há nada para além de todas as informações que nos foram dadas por qualquer canal televisivo e por incrível que pareça, são as imagens da BBC que têm maior impacto no filme de Greengrass. Isto não é o 11 de Setembro, é uma visão simplista e incrivelmente fria, para quem não se lembre a arte ainda funciona como explosão de ideias e manifestação social, o 11 de Setembro não merece obras de braços cruzados.


NeTo – 2/10

sábado, setembro 02, 2006

Carta aberta à Medeia Filmes
Insatisfeito com os serviços prestados pela MEDEIA, decidi pedir alguns esclarecimentos, envolvendo a diferença da distribuição e condições entre Porto e Lisboa, diferença essa que não se faz sentir nos preços do KING KARD. Assim fica aqui o e-mail enviado à MEDEIA.

«Venho por este meio transmitir o meu desagrado e ao mesmo tempo tentar obter algumas respostas em relação ao serviço King Kard e ao seu actual preço.
Começo então por referir que sou portador do Cartão King Kard nº10000971 e vivo na cidade do Porto, qual o meu espanto quando recentemente vejo um pequeno "papelinho" afixado na bilheteira dos cinemas MEDEIA Cidade Do Porto, no Centro Comercial Bom Sucesso, que referia a subida da mensalidade do "serviço" de 13 euro para 15 euro. Desde já neste processo o que mais me aborreceu não foi a subida de 2 euro, mas antes a forma como a informação foi divulgada, lembro que a quando da inscrição para adquirir o King Kard, disponibilizei um sem número de dados pessoais, entre os quais a morada, o telemóvel ou o e-mail, sendo assim, penso que essa informação não deveria ser transmitida num "papelinho" na parede, mas através de uma carta, ou até de um e-mail modelo para todos os que assinavam o "serviço". Defendo esta questão não apenas por uma questão pessoal ou de interesse, mas antes como uma questão ética.

Assim sendo agora pago 15 euro pelo King Kard, mas quando me propus a adquirir o "serviço" o preço era 13 euro, não estou aqui a reclamar a subida do preço por si só, reclamo o serviço em comparação a outros que me são iguais.
Sem grande surpresas vejo o número das salas Medeia a reduzir, assim como o numero de localidades que serve, sendo que actualmente só Castelo Branco, Crato, Idanha-a-Nova, Lisboa, Porto e Setubal, tenham salas da Medeia disponiveis.
Na cidade do Porto, após o encerramento do cinema Nun'Alvares, restam apenas 5 salas de cinema, 4 no Centro Comercial Bom Sucesso e "Cinema" do Campo Alegre. Indo concretamente ao ponto que pretendo chegar, por 5 filmes semanais (lembro que o Campo Alegre fecha em Agosto e só tem duas sessões diárias), pago exactamente o mesmo que paga um assinante do King Kard em Lisboa, que actualmente contam com 26 filmes em exibição (se não me engano e segundo o site) repartidos entre o cinema Fonte Nova, King, Monumental, Nimas e Alvaláxia. É esta situação que me leva a questionar o aumento do King Kard, será este preço realmente justo? É certo que com o King Kard tenho acesso com os mesmos "previlégios" a todas as salas Medeia do país, mas como é claro não vou deslocar-me a Lisboa para ver um filme que não estreie aqui no Porto.
É certo que podem sempre argumentar que fazem reposições aqui no Porto, como o caso do filme "A Lula e a Baleia" que estreou a 15 de Junho de 2006 e que só agora no final do mês de Agosto é que está em exibição nas salas Medeia do Porto, podem também argumentar com o facto que o preço tem que ser igual para todos os assinante por uma questão de "igualdade" e não diferenciação, mas neste caso a diferenciação existe e é enorme se não mesmo escandalosa, se imaginarmos que por alguma situação a cada semana estrearem 5 filmes diferentes nas 5 salas Medeia na cidade do Porto (o que não acontece, estreiam 1 ou 2 filmes por semana) no final do mês tinahm estreado 20 filmes pela Medeia na Cidade do Porto, o que não chegaria aos filmes em exibição numa semana em Lisboa. Claro que existe a diferença de salas, diferença de publico, mas isso deveria notar-se nos preços, não unicamente em argumentações. Podemos ainda pensar que no Porto nenhuma das salas tem as condições das salas do ALVALAXIA.
Relembro que falo aqui apenas numa questão ética, será justo estar a pagar tanto por um serviço quanto outras que tiram maior rendimento do mesmo? Não sou entendido em questões juridicas, mas não será muito perceber que algo de estranho está a passar-se neste caso.

Peço que repensem os critérios e os preços, já que no meu ponto de vista e de outros assinantes não são correctos, penso que o King Kard é uma boa forma de cativar publico, mas em Lisboa, já que no Porto se torna muito complicado rentabilizar o "serviço", até porque tendo em conta o que estreia nas salas Medeia aqui no Porto se torna ainda mais incomportável, pois são poucas as novidades em relação às outras salas da cidade, dos filmes actualmente em cartaz apenas "A Lula e a Baleia" não se encontra em exibição por outras salas.
Claro que não tou a ver as coisas pelo lado negativo e não esqueço que actualmente estão a exibir no Campo Alegre diversos filmes do ano anterior.

Deixo assim as minhas questões, esperando que sejam claras e compreendidas. Aguardo assim por algum esclarecimento de vossa parte.

Os meus cumprimentos.»

sexta-feira, setembro 01, 2006




Depois de Lisboa é a vez do Porto receber “Um Ano de Cinema(s)”, uma iniciativa da MEDEIA FILMES e EUROPA CINEMAS, que permitirá uma nova revisão de alguns dos filmes que marcaram o ano transacto, claro que existem títulos mais importantes que outros, mas o essencial será mesmo a hipótese de rever, ou ver aqueles títulos que por inumeras razões não tivemos hipotese de acompanhar devidamente.
Com o preço único de 3,50€, são 27 os filmes a exibir em duas sessões diárias (18h30 e 22h), no cine-Teatro do Campo Alegre.
De dia 1 a 27 de Setembro as obras que poderão ser vistas ou revistas são:


1 DE SETEBRO
“Closer- Perto Demais” de Mike Nichols

2 DE SETEMBRO
“Vera Drake” de Mike Leigh

3 DE SETEMBRO
“Temporada de Patos” de Fernando Eimbcke

4 DE SETEMBRO
“As Bonecas Russas” de Cédric Klapisch

5 DE SETEMBRO
“De Tanto Bater o Meu Coração Parou” de Jacques Audiard

6 DE SETEMBRO
“Mar Adentro” de Alejandro Amenábar

7 DE SETEMBRO
“Os Psico-Detectives” de David O. Russel

8 DE SETEMBRO
“Os Edukadores” de Hans Weingartner

9 DE SETEMBRO
“Brokeback Mountain” de Ang Lee

10 DE SETEMBRO
“Alice” de Marco Martins

11 DE SETEMBRO
“O Castelo Andante” de Hayao Miyazaki

12 DE SETEMBRO
“Last Days” de Gus Van Sant

13 DE SETEMBRO
“Aurora” de F.W. Murnau

14 DE SETEMBRO
“A Marcha dos Pinguins” de Luc Jacquet

15 DE SETEMBRO
“Broken Flowers” de Jim Jarmush

16 DE SETEMBRO
“A Noiva Cadáver” de Tim Burton

17 DE SETEMBRO
“Saraband” de Ingmar Bergman

18 DE SETEMBRO
“O Pesadelo De Darwin” de Hubert Sauper

19 DE SETEMBRO
“Match Point” de Woody Allen

20 DE SETEMBRO
“O Leopardo” de Luchino Visconti

21 DE SETEMBRO
“Três Enterros de um Homem” de Tommy Lee Jones

22 DE SETEMBRO
“Transamerica” de Duncan Tucker

23 DE SETEMBRO
“Capote” de Bennet Miller

24 DE SETEMBRO
“Syriana” de Stephen Gaghan

25 DE SETEMBRO
“Coisa Ruim” de Tiago Guedes e Frederico Serra

26 DE SETEMBRO
“Memórias de uma Gueixa” de Rob Marshall

27 DE SETEMBRO
“Uma História de Violência” de David Cronenberg


Sessões: 18h30 & 22h
Preço Único: 3,50€