Os Melhores de 2006
Fim do Ano Cinematográfico, é agora época das famosas e subjectivas listas de preferências.
Sem qualquer ordem específica seguem os 15 títulos do Ano.
“O Segredo de Brokeback Mountain” de Ang Lee
A simplicidade narrativa e tecnica, aliada a uma componente dramática e sensível pouco comum no cinema Americano. Reminiscente do Western, consegue atingir um romantismo, muito para além do lirísmo ou poesia.
Magníficas interpretações, banda sonora sublime e uma direcção de fotografia que se desdobra pela narrativa, são os alicerces da Obra de Ang Lee, longe da exuberância gramática e poética de “O Tigre e o Dragão”, acaba por esconder por detrás daquilo a que muitos chamaram o “Western Gay” (nem seria o primeiro na história), está um filme brilhante.
“Boa Noite, e Boa Sorte” de George Clooney
George Clooney já havia provado em “Confissões de uma Mmente Perigosa” que dominava por completo a linguagem cinematográfica, que visualmente sabia explorar e desenrolar assuntos complexos, agora a sua mais recente obra é um filme refinado, visualmente e narrativamente, mas que acima de tudo respira para fora do ecran, é uma alerta para a sociedade, e é um documento dramatizado de uma época polémica e marcante da América e consequentemente do mundo.
O magnífico trabalho espacial e sonoro, transformam-no numa das mais estimulantes experiências vividas neste ano.
“A Criança” de Luc e Jean-Pierre Dardenne
Os irmãos Dardenne mantêm-se fieis a si mesmos. Longe das ilusões e sensasionalismo do cinema e da televisão actual, continuam a observar e a absorver o quotidiano que nos envolve. É a exploração do real? Exploração não será, será antes a observação do real pelo cinema. É o acompanhamento da personagem central, de forma fria e crua, quase documental, quase rudimentar e é aqui que nasce a força do olhar, a pureza e frieza dos acontecimentos, é acima de tudo o enfrentar de um jovem com uma condição paternal para a qual não está preparado. Assim como “A Criança” é um filme, não parado no tempo, mas à frente no tempo, que não tem “armas estilísticas” para enfrentar a condição “humana” o cinema actual.
“O Novo Mundo” de Terence Mallick
É o poema dos elementos, que constroem um novo mundo, idílico ou não, na verdade é uma experiência sensorial e nisso não existirá a minima dúvida. Narrativa do lado Inglês, linguagem sensorial do lado nativo, “The New World” é também um olhar filosófico sobre a incomunicabilidade, sobre a imposição de um ser humano em relação a outro, é a rejeição da diferença. Mas isto não é o que interessa, explorando por dentro e por fora os canones do cinema clássico, Mallick explode numa visão ainda mais lírica do que havia feito dem “Thin Red Line”. Arrisco em afirmar que o que “Thin Red Line” (sendo também uma obra magnífica”) tinha em palavras, “The New World” tem em jogo corporal, em movimentos, em espaços e cheiros.
É a grande e monumental obra de Mallick, um Museu, onde os quadros pintados juntamento com o director de fotografia, Emmanuel Lubezki, são mais do que meras imagens, são força visual bruta, explorando as características da película de 65mm.
Antes de Obra-prima será uma obra de arte.
“Miami Vice” de Michael Mann
A dualidade do cinema de Mann vem a acentuar-se de forma dramática. Em HEAT, Al Pacino e De Niro, em COLATERAL, Cruise e Fox, em MIAMI VICE, não é FARREL E FOX, mas sim Farrel e Gong Li. Aquela linha ténue entre o bem e o mal, tão presente na filmografia de Mann até mesmo em O INFORMADOR.
Temos agora e como já vinha sendo habitual, uma aproximação consumada com a noite, espaço físico, mas neste MIAMI VICE assim como COLATERAL é também espaço psicológico acima de tudo.
Temos também a exploração tecnológica, do vídeo digital de Alta-Definição (HDV), que não é mais barata nem mais fácil, como anunciam muitas vozes mercantis por todo mundo, mas sim é um instrumentos diferente, quase como pintar um fresco e pintar a carvão.
MIAMI VICE não é uma adaptação é uma reformulação a uma América negra e actual e é acima de tudo uma obra de um explendor visual, estranho, impressionista, mas muito realista.
“A Senhora da Água” de M. Night Shyamalan
Todos acreditam em Story. É a crença na narrativa que levaram Shyamalan a enfrentar estúdios e produtoras para conseguir concluir a sua mais recente e bela fábula. Longe da narrativa convencional e muito longe do “alegado” twist que todos tentavam colar como imagem de marca a Shyamalan, o realizador consegue com a sua “A SENHORA DA ÁGUA”, fazer um filme sumula de toda a sua filmografia e ainda abre portas sobre o seu futuro. Prepotência ou ingenuidade. Eu digo ingenuidade, como acto puro de concretização, com tudo de bom o que isso pode dizer, e afinal não é a ingenuidade narrativa e das próprias personagens que têm surpreendido o público? Mas agora a ingenuidade está do lado unicamente do publico e não das personagens, são ingénuas porque acreditam numa ninfa que vem de uma mundo paralelo alujadn piscina e se chama “história”, ou seremos nós publico que somos ingénuos porque não nos acreditamos numa história?
Uma palavra ainda para a direcção artística, a direcção de fotografia de Cristopher Doyle e para a capacidade icónica de Shyamalan, que naquele majestoso condomínio constroi um COOK BOOK, uma mistura sociológica, diferenciada, mas com muito em comum.
“Uma Família à Beira de Um Ataque de Nervos” de Jonathan Dayton, Valerie Faris
Road Movie, Western pouco aqui importa, a comédia mais requintada e humanizada do ano. Uma família qual caravana a atravessar o “West” Americano, parte na descoberta de tudo o de mau que se avisinha e termina no que de melhor nos tem para dar.
Uma palavra ainda para o Elenco mais brilhante do ano, dos mais pequenos ao mais graudos, tudo se conjuga de forma brilhante.
Palavra ainda para o casal realizador, proveniente dos video-clips, assumem-se como das mais interessantes descobertas Americanas do Ano.
“Marie Antoinette” de Sofia Coppola
Filme biográfico e auto-biográfico requintado à exaustão e experimental o quanto basta. Filmar pessoas estranhas em espaços estranhos é algo que Sofia Coppola vem confirmando na sua filmografia, neste caso, num estado depurado digno do cinema do seu pai, principalmente nos anos 70. É também um filme em que o espaço se transforma e degrada lado a lado com a personagem. “O Vigilante”???
“The Departed: Entre Inimigos” de Martin Scorsese
(o vídeo contém informções importantes sobre o desenvolvimento do filme)
O ciclo completa-se, e a América busca influencia no cinema asiático que tanto enfluenciou. Scorsese não o fecha, dá-lhe novo rumo ao atingir o auge da cadência maquinal da sua tecnica. Com interpretações brilhantes, uma montagem eminentemente psicológica, “The Departed” pode levar a Academia a premiar o esquecido mestre Americano. E apropriando-me de dois conceitos de um caro amigo (joseo), que referiu “ralenti” e “fúria” como dois movimentos na filmografia de Scorsese que se opondo de filme para filme, “The Departed” é sem dúvida alguma um filme de Fúria.
“Juventude em Marcha” de Pedro Costa
O cinema em bruto, a história do cinema em pequenos fragmentos de “realidade”. É possivelmente a obra mais fascinante do ano e também das mais incompreendidas e das mais badaladas. Pedro Costa igual a si mesmo, não académico como já li por aí algures, mas também não radical, simplesmente igual a si próprio, procura atingir um cinema da pureza, lirica, real, social?
Fascinante no domínio da tecnica do vídeo digital, Pedro Costa é um nome já suficientemente Grande, Grande demais para o cinema dos portugueses, assim como Oliveira e César Monteiro e porque não Teresa Villaverde.
“Transe” de Teresa Villaverde
O ensaio da Identidade e da memória. Uma fabulosa Ana Moreira, encarna até aos ossos uma mulher de lado nenhum e de todo o lado. Abrigado no realismo do tráfico europeu de mulheres, Teresa Villaverde explora o lado onírico da psicologia humana. Praticamente psicanalítico “Transe” é uma das experiências extremas do cinema moderno Português.
“Match Point” de Woody Allen
É o regresso de Woody Allen, longe de Nova York, sem os sons do jazz, Allen constrói a sua tragédia grega, uma Ópera Clássica. Narrativamente perfeito, como já é habitual, mas formalmente intrigante e lírico.
“O Espelho Mágico” de Manoel de Oliveira
Como mais ninguém filma, Manoel de Oliveira lança um olhar sobre o sagrado, uma experiência agoniante, lado a lado com uma sublime Leonor Silveira. Satírico e ao mesmo tempo cruamente puro, “O Espelho Mágico” é a manifestação de um milagre.
“História de Violência” de David Cronenberg
Algures entre o medo e a luta pela sobrevivência, caminha Cronenberg. O homem desfragmentado como ao longo da sua filmografia, o mundo adulterado. Tragicamente violento embora pulsionalmente contido, explora a resistência das suas personagens e de uma audiência paralisada no mundo do Blockbuster.
“Em Paris” de Christophe Honoré
A frescura do cinema francês, a clara mostra que do passado se constroi o cinema do presente e se criam as bases do cinema do Futuro. Novelle Vagueano sem dúvida, Pop, porque não? De Rivette a Demy e de Truffaut a Eustache, “Dans Paris” é um road movie a pé e ao telefone, magistralmente dirigido pelo olhar nostálgico de Honoré sobre a Paris Cinematográfica e uma dupla de jovens actores brilhante, Romain Duris e Louis Garrel
Manuel Pinto Barros