terça-feira, novembro 29, 2005

"Chicken Little" de Mark Dindal (V.P.)


Este é o "trunfo" dos solitários estúdios Disney, na primeira produção totalmente digital sem a colaboração da Pixar, colaboração que tão bem resultara em obras como "Toy Story", "Monstros e Companhia" e mais recentemente "Finding Nemo" e "Os Incriveis".

Na verdade a ausência da Pixar é de fácil percepção, pois temos Disney a mais, ou seja, lições de moral em grandes quantidades que interrompem o desenrolar normal da narrativa, música a puxar a lágrima, o que provoca uma noção dramática muito dispersa.
Mas apesar de tudo é uma obra eficaz, apostando em personagens simpáticas e em claras referências ao género do fantástico e de aventuras de Hollywood.

Chicken Little é um simpatico pinto, que vê a sua reputação e confiança, completamente destruídas no dia em que gera o pânico na sua localidade quando anunciava a queda do céu. O seu próprio pai deixa de acreditar em sí e Chicken Little tenta a todo o custo recuperar a sua reputação... e até consegue, mas realmente o céu cai.

O que realmente interessa na nova obra da Disney, e como em quase totalidade das obras dos estúdios, é mesmo a relação pai/filho, ou para ser mais preciso a relação familiar, que em boa verdade é bem construida, mas que é excessivamente fragmentada e intermitente, surgindo e desaparecendo provocando uma quebra excessiva no ritmo da narrativa.

Mas "Chicken Little" acaba por ser um bom sinal da resistência da Disney no mundo cada vez mais competitivo da animação digital, embora não seja um título para lutar pelo reconhecimento da Academia.

NeTo - 6/10

P.S.- "Indiana Jones", "A Guerra dos Mundos" ou "Sinais" são alguns dos títulos que directa ou indirectamente surgirão na cabeça da audiência.

sexta-feira, novembro 25, 2005

"Don Quixote de Orson Welles" de Orson Welles (?)


Orson Welles iniciou a sua visão sobre a famosa obra de Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616) em 1955 e durante 14 anos, ultrapassando inúmeras dificuldades de produção, acabou por se tornar num dos projectos inacabados do Welles, assim como por exemplo "The Other Side of the Wind" (1972) que se tudo correr pelo bem, poderemos ver nas salas com a "ajuda" de Peter Bogdanovich.

Mas esta é uma obra do lendário Orson Welles? (daí o ponto de interrogação no título.)
Na verdade as imagens existentes das filmagens de Welles, foram editadas por Jesús Franco, mas apesar do esforço da produção existem excertos cruciais que não se incluem nesta montagem. Assim na minha opinião, atribuir o título de "Don Quixote de Orson Welles" a esta obra acaba por se aceitar, embora tenha o seu lado negativo.

Vejo a obra como um monte de retalhos com os quais Welles se preparava para preparar um belo tecido que cobriria na perfeição a obra de Cervantes, mas esta obra que nos chega agora é um monte de retalhos sim, mas "colados" uns aos outros sem a mão do mestre que originalmente o pretendia conceber, assim o resultado nunca seria o que originalmente seria de prever. Assim temos dobragem sonora e por actores diferentes na mesma personagem, diversas diferenças a nível fotográfico e uma imensa disconexidade narrativa, que Welles não iria permitir. Mas apesar de tudo existe na abordagem de Welles uma verdade e um respeito aliados as personagens, e uma adaptação temporal à actualidade, leia-se actualidade como data da produção.

Para quem conhece o génio de Welles será sempre agradável ver algumas belas imagens do mestre, mas quem quer descubrir Welles, então procure "Citizen Kane", "F for Fake" ou "Touch of Evil".

Sem dúvida alguma que uma obra documental que explica-se as complicações de produção ao longo da exibição da imagens seria bem mais interessante e honraria a obra inacabada de Welles.

Welles deixou o esboço do seu "quadro" e alguém pintou por cima.

NeTo - 3/10

sexta-feira, novembro 18, 2005

"ENTRE O SONHO E A VIGÍLIA"
por José Oliveira


"To me, only true art can be self-indulgent, and the reason why 99 percent of movies aren't works of art is because it's not one man's vision and a true piece of art or the only films that truly matter to me are auteurist visions and auteurist works"
A frase pertence a um dos mais radicais e “perigosos” cineastas do actual cinema underground americano, que apaixonado também ele por cineastas tão peculiares e singulares e já agora também “perigosos” pela tinta que fizeram correr e pelo abanão que as suas imagens e sons sempre provocaram, como Godard, Herzog ou ainda o ultimo movimento a violentar as telas e digno de figurar nos livros – leia-se Dogma 95 – transporta para os seus filmes um universo completamente pessoal e intransmissível, manipulando a seu belo prazer as imagens e os sons, as personagens, o tempo e o espaço, resultando o seu todo em experiências limites e apocalípticas que mais não fazem do que tentar exceder os próprios limites do ecrã – como godard? como herzog?, como Von Trier? – a tela que muitos teimam em deixar virgem, chegando assim perto do que se poderá definir á falta de melhor de um cinema desencantado e lírico, também profundamente cândido e incomensuravelmente híbrido, experiência lúgubre que recusa qualquer espécie de mecanismo, qualquer espécie de narrativa, qualquer espécie de formula, convenção consagrada, para que de maneira inevitavelmente virginal possa fazer a catarse e expor o seu autor.

Absolutamente inclassificável? Se quisermos fugir daqui poderemos dizer que nos seus filmes estamos em primeiro de tudo em terreno puramente cinematográfico, onde os gestos, os olhares, os movimentos e os diálogos, a sedução e o bailado dos corpos interagem com os silêncios e as musicas criando assim algo que poderemos então chamar de puro cinema, de cinema num estado primitivo que remeta para os inícios, para uma maneira de fazer cinema que privilegiava as sensações e o culto do olhar e do sentir, de experimentar e de inovar….antes de o cinema em geral se ter deixado contaminar pelo maquinismo das formulas e dos sinais científicos, dos plots e dos gráficos.


Cinema retrógrado, então? Nunca, muito pelo contrário, ao querer de certa maneira voltar aos primórdios e recuperar a candura perdida, este cinema é investido de um irremediável sentido de perda por não acreditar no estado das coisas, mas ao mesmo tempo de uma jovialidade e de um investimento do novo – do digital por exemplo, do experimentalismo visual no sujo por exemplo – que o tornam eminentemente moderno.

Em que ficamos então? Como a sua frase explicita, como se nota ao ver os seus filmes, no que já se disse, é um cinema desencantado pela falta de risco de uma actualidade cinemática predominantemente fechada a experiências novas, ao risco…um cinema de obsessão, de vertigem que pretende ao mesmo tempo que expõe o seu autor criar algo de absoluta liberdade e em estado puro…um cinema que pretende captar a absoluta beleza de uma cena, de um momento ou de um gesto sem que tudo isto encaixe necessariamente num modelo e numa formula…e mesmo que tudo isto possa ser classificado como auto-indulgência, como pretensiosismo arrogante ou qualquer outro adjectivo próximo é inegável que ao vermos os filmes somo atacados por algo de muito alarmante e inquietante e que o próprio espectador se sente em perigo por estar em frente a algo tão estranho e tão terminal, com medo que a fita se autodestrua e o espectador com ele.

Mais uma das suas frases: “…I wanted to make a different film. I wanted to make a different kind of movie, because I don't see cinema in the same – on the same kind of terms or the same way that narrative movies have been made for the past hundred years. I mean, we started with Griffith and we ended up with – I don't know what the hell is going on now but” , só vem confirmar a radicalidade dos seus gestos libertários e totalitários no sentido da profusão de investimentos puramente cinematográficos com que ornamenta os seu filmes e que por isso e pela frase anterior faz sentido quando se invoca Faulkner a propósito deste cinema de ruptura.

Ah…o nome do cineasta: Harmony Korine.
E dos seus dois filmes: “Gummo” e “Julien-Donkey Boy”.

De que falam os filmes? Querer resumi-los seria como que contradizer os próprios filmes, negar-lhe a sua essência, sim, é inexplicável…são cenas, sequências…entre o sonho e a vigília…

cinema.

====>LINKS:

www.harmony-korine.com/

www.angelfire.com/ab/harmonykorine/

quarta-feira, novembro 16, 2005

Apartir de agora este blog conta com mais um colaborador... melhor colaboradora.
Por uma clara falta de sensibilidade dos homens que mantêm este blog, foi com muito agrado que recebi esta nova colaboradora que assinará os seus artigos como: a Pupila.

Desejem todos as boas vindas e boa sorte à nova companheira do ROLLCAMERA.

Cumprimentos

"Doom" de Andrzej Bartkowiak


Um filme é sempre o filme, e o grau de exigência não deve ser influênciado por se tratar apenas de uma comédia romântica, de um filme independente, uma filme experimental ou uma simples adaptação de um vídeojogo, assim cada filme é aquilo que é.
Mas quando se toma a decisão de ver um filme como "Doom", claramente não se pode esperar uma obra-prima, mas pode exigir-se uma obra digna, tanto ao jogo no qual se baseia, como ao cinema em sí.

Supostamente este "Doom" de Andrzej Bartkowiak, é a adaptação do mundialmente famoso vídeojogo com o mesmo nome, em que um soldado solitário se encontra entre a terra e o inferno, tentando evitar que os demónios conquistem a terra dos vivos... mas na adaptação cinematográfica,"Doom", foi reduzido a uma história envolvendo experiências laboratoriais e alterações de DNA, que transformavam seres vivos em "zombies" (monstros?).

Um dos méritos de "Doom" enquanto jogo era a sensação de solidão e a forte carga psicológica de estar no limiar da vida e ao mesmo tempo do inferno, enquanto toda a vida humana depende do nosso desempenho. E este mérito foi de todo destruído nesta adaptação ao grande ecran, onde o pobre argumento se limita a fazer um "decor" absurdo, transformando "Doom" numa suposta experiencia de laboratório com "zombies" à mistura (já não chegava "Resident Evil"?)

Na verdade o filme de "Doom" não tem qualquer mérito, podemos mesmo dizer que não tem um argumento... tem um início pretencioso que a lado nenhum leva e um desenvolvimento e o consequente final ainda mais pretencioso e sem o mínimo sentido narrativo, que esconde a suposta personagem central da acção do vídeo-jogo, por detrás de uma “estrela”(?) da acção... ou seja «quem é o actor principal?»

“Doom” é o claro oportunismo comercial que tem sido habitual no cinema do género, utiliza-se um jogo de sucesso, promete-se que se será fiel ao mesmo, mas no final resume-se a umas armas, a um monstro e a uma visão em FPS (first person shooter) tal como o jogo, mas que na verdade é um artifício ridículo, que a nível técnico é uma verdadeira vergonha.

Estamos perante um dos piores filmes do ano, juntamente com “Alone in The Dark” (curiosamente mais uma adaptação de um vídeo-jogo), é um filme sem qualquer interesse especialmente para quem jogou e adorou “DOOM”, pois do jogo... só mesmo o nome.

Atentado ao cinema.

sábado, novembro 12, 2005

"Elizabethtown" de Cameron Crowe


«I mean everybody's got to take a road trip, at least once in their lives. Just you and some music.»

É o regresso do realizador americano que melhor explora o melodrama. Cameron Crowe, o realizador e argumentista do fabuloso "Almost Famous" e do simples e divertido "Jerry Maguire", após a passagem por um género menos comum em "Vanilla Sky", volta ao seu estilo melodramático sem nunca esquecer a vertente popular que acompanha a sua obra.
Ao olhar para a simples sinopse, podemos pensar que estamos perante uma simples comédia romântica, mas enganem-se, estamos sim perante uma das melhores comédias românticas do ano.

Cameron Crowe convida-nos a acompanhar a viagem de Drew Baylor (Orlando Bloom), um designer de calçado, caído em desgraça tanto profissionalmente como pessoalmente, chega a pensar no suicídio, acabando por nesse preciso momento receber um telefonema que anunciara a morte do seu pai, e Drew vê-se agora na "responsabilidade" de voltar à sua terra natal, Elizabethtown, para recuperar os restos mortais do seu pai. E Elizabethtown não é nada mais que o local onde todo muda, o local de transformação da vida de Drew, local onde recupera as perspectivas de uma nova vida, local onde se transforma num homem.

Como em qualquer outra obra da sua filmografia, Cameron Crowe destroi... destroi personagens e familias, para de seguida criar os seus alicerces, para em seguida criar uma nova e melhora da vida... e claro sempre com um sorriso no rosto.
Mais uma vez estamos perante um filme simples e subtil, onde se filma sublimemente a condição humana (famíliar?), sempre com optimismo e divertimento, mas sem nunca perder a noção dramática.

Na filmografia de Cameron Crowe também facilmente se encontram dados auto-biográficos, como na viagem de “Quase Famosos” ou agora a morte do pai em “Elizabethtown”, daí que seja clara a preocupação com as relações pai/filho, sempre ternas e para que fique bem vincado na obra, eternas.

É sempre intrigante ver uma obra de Cameron Crowe, um autor cinematográfico dos poucos que explora o mais puro melodrama e que ao mesmo tempo condimenta a sua obra com um estilo muito “pop”! “Elizabethtown” é uma comédia dramática facilmente simulada num road-movie, que permite a Cameron Crowe criar a espaços verdadeiros hinos à cultura “pop” (leia-se popular, no melhor sentido da palavra), como a stand-up comedy, Elvis Presley, Martin Luther King e como não poderia faltar na música. Música essa sempre tão importante em qualquer obra de Crowe, em “Elizabethtown” assume uma nova escala, tornando-se assim no seu filme mais musical e melódico... sonoridades marcadamente americanas, actuais mas com claras influencias do que de mais popular se fazia nos Estados Unidos, como por exemplo a sonoridade alt country de Ryan Adams.

Com interpretações competentes desde os jovens, Kirsten Dunst radiante, a um depressivo mas divertido Orlando Bloom até aos veteranos, Alec Baldwin e Susan Sarandon.

“Elizabethtown” como qualquer outra obra de Cameron Crowe é um obra eficiente, simples, divertida, mas sem nunca esquecer uma complexa relação emocional entre personagens, estamos perante uma obra extremamente cativante, que apesar de ter sido mal recebida do outro lado do Atlântico, consegue surpreender a espaços e sem nunca se agarrar desesperadamente a “clichés” ou à piada fácil.

NeTo – 7/10

- A versão que é apresentada nas nossas salas, tem aproximadamente menos 18 minutos que a versão apresentada no Festival de Toronto e que foi muito mal recebida.

quinta-feira, novembro 10, 2005

"O Fiel Jardineiro" de Fernando Meirelles


«Some very nasty things can be found under rocks, especially in foreign gardens»

Após um retrato cruel das favelas brasileiras em "A Cidade de Deus", Fernando Meirelles assume com pulso firme uma adaptação da obra literária "The Constant Gardener" de John Le Carré, numa produção conjunta entre a Grã-Bretanha e a Alemanha, na qual é retratada uma África viva, mas completamente decaadente a poucos passos da morte.

Em pleno coração do Quénia, Tessa Quayle uma corajosa activista é encontrada morta, após ter sido violada e mutilada, assim como a equipa que a acompanhava. Este é o ponto de partida para uma viagem de (auto) descoberta por parte de Justin Quayle, representante do Alto Comissariado Britânico e marido de Tessa. Tessa e Justin, são um casal de oposto, enquanto ela é corajosa e interventiva, Justin é um pacato e recatado diplomata. A sua relação é plena de amor, mas as ultimas descobertas de Tessa levam-na a viver em segredo, e é desses segredos que Justin irá viver após a morte de Tessa. Justin procura descobrir o porquê de tanto secretismo e acaba por descobrir uma mulher que nunca conhecera.

Um dos pontos fortes do novo filme de Meirelles é a constante renovação narrativa, temática e consequentemente sociológica. É de facil percepção que nos envontramos perante um filme com duas partes distintas (ou talvez não tão destintas), embora inseparaveis, a primeira das quais retrata a relação amorosa do casal, recorrendo a analepses, pois desde o início é nos dado o desfecho de algo. Desfecho esse que não o do filme, mas sim da relação de Justin e Tessa, o que leva desde logo ao final deste assunto e ao início de algo totalmente oposto (?) ou talvez nem tanto.
A segunda parte é claramente um thriller com contornos políticos, embora seja muito redutor reduzir a segunda parte a um mero thriller, é mais uma viagem de descoberta, quer de um amor, uma mulher misteriosa que amava e não conhecia, quer seja pela descoberta de um continente Africano vivo, mas explorado e poucos passos da morte, em cores de inferno.

Mas ao contrário do que se poderia pensar, “O Fiel Jardineiro” é bem mais cruel que “A Cidade de Deus”, apesar de menos explicito, existe uma carga dramática, embora mais contido é mais preciso e directo, e acima de tudo é uma visão pura, documental em que Meirelles mantem a imparcialidade, filmando uma África que está aos olhos de todos nós, mas que por muitas razões não vemos. Daí o facto de atras ter referido que as duas partes, embora diferentes na sua forma no seu conteudo, o amor prevalece em Justin, seja o amor pela descoberta e pela realização do trabalho inacabado da sua amada, seja pela completa descoberta da abalada África e das pessoas que nela sobrevivem, que levam Justin , a modificar a sua visão e a amar cada uma daquela pessoas. E será o mais interessante a tirar da obra de Meirelles, se não se pode amar (ajudar) toda aquela gente, pelo menos uma delas.

A ansiosa e perpicaz visão de Meirelles, é completa pela dupla de interpretes, Ralph Fiennes e Rachel Weisz, cada um deles marcando as diferenças que os destinguem e que mais tarde os aproximaram... deslobrante acaba por ser a fabulosa contenção e evolução de Ralph Fiennes, assim como o secretismo e audácia de Rachel Weisz.

Em “O Fiel Jardineiro” existe uma forte carga reflectiva, mas que acaba por se conjugar na perfeição com o cinema enquanto entretenimento, o ritmo e a linguagem que parece ser uma clara marca de Fernando Meirelles, aliado a uma obra literária de Le Carré, com paisagens fotografadas de forma impressionante por César Charlone e ainda com uma Banda Sonora plena de ritmos tribais de Alberto Iglesias, transformam “O Fiel Jardineiro” numa obra cinematográfica única num género aparentemente adormecido, que poderá ser reconhecida na noite mais brilhante de Hollywood.

“O Fiel Jardineiro” é um thriller político, mas antes de mais é um apelo social... URGENTE.

NeTo – 9/10

Meirelles apresenta-se novamente com uma deconstrução narrativa e uma dinâmica visual capaz de misturar uma boa dose de entretenimento e uma visão dramática muito própria. E como já acontecia em “A Cidade de Deus” existiu uma exploração técnica, em “O Fiel Jardineiro” a mesma exploração existe, seja pela variada quantidade de suportes de captura de imagem, pelicula (35mm, 16mm), vídeo ou Web Cam.

quinta-feira, novembro 03, 2005

"As Bonecas Russas" de Cédric Klapisch

Após o relativo sucesso de "A Residência Espanhola", Cédric Klapisch volta agora com uma sequela em que volta a reunir os amigos que partilharam a residência a quando da experiência ERASMUS, agora já homens e separados um pouco por toda a europa.

O que levou ao sucesso (embora relativo, repito) de "A Residência Espanhola" era o facto de ser despretenciosa, simples, pura e divertida, e no risco de se voltar a repetir em "As Bonecas Russas", Klapisch limita-se a tentar desconstruir temporal e espacialmente a sua narrativa, alimentando a sua audiência de flashbacks e splitscreens, num espectáculo excessivamente pretencioso para uma narração tão simples o pura, ou afinal não se tratava apenas de uma história de um homem à procura do amor.

Se é verdade que um dos grandes problema do primeiro filme era o alargado número de personagens, agora nesta sequela, Klapisch apercebendo-se disso (ou não) acaba por as reduzir, mas por outro lado alarga as fronteiras espaciais, e agora o problema em manter uma narrativa firma acaba por ser o excesso de espaços por onde a fragmentada acção ocorre.

E tanta preocupação em artificializar a forma da sua narrativa, apenas o levaram a cair e apenas a agarrar-se aos maior numero de "clichés" possiveis. E pena é que o elenco se veja completamente perdido no meio de tanto espaço, esteja a personagem central, Xavier (Romain Duris) que no primeiro filme era sem qualquer tipo de dúvida o grande motivo de interesse.

No meio de tudo isto, Klapisch acaba mesmo por sair muito mal deste retrato de procura desesperada pelo amor que por largos momentos é tão insensível como cansador e imensamente previsível, tornando esta sua obra em algo despropositado no panorama actual do cinema europeu, e se durante todo o filme dúvidas existissem, fica tudo claramente dito pela personagem Xavier, no seu ultimo pensamente em que marca o paralelismo das bonequinhas russas e as suas relações amorosa, np mínimo ridículo.

NeTo - 3/10

"A Residência Espanhola" de Cédric Klapisch (2002)

Acompanhando a viagem de um estudante francês em direcção a Barcelona, onde se prepara a habitar e a estudar ao abrigo do programa educacional "Erasmus", programa que permite a alunos de diferentes países e culturas, estudar num país diferente.
Assim, "A Residência Espanhola" de forma despretenciosa apresenta-nos o fomentar de relações entra vários jovens de diferentes nacionalidades que partilham o mesmo apartamento, numa clara referência à cada vez mais constante globalização mundial, neste caso europeia.

Se é verdade que cada uma das personagens nos transmite algo natural, também não é menos verdade que por breves momentos a coerência narrativa é esquecida e somos entretidos com meros artifícios, por exemplo a constante e insistente música dos Radiohead (e eu que sou fã) que em grande parte era escusada, ainda mais quando o silêncio era o melhor aliado da imagem.
Mas sem qualquer tipo de dúvida que é uma obra divertida e jovem, que acaba por provocar momentos hilariantes e alguns comoventes, provocados por situações de adaptação social e amorosa.

Assim, o verdadeiro interesse acaba por ser o grupo de actores que facilmente se percebe que se divertiu em caracterizar as suas personagens recorrendo ao despretencioso uso e abuso das referências culturais. De todos (e são muitos) elementos do elenco, destaca-se a fantástica interpretação de Romain Duris e a aparição da «Amélie» Audrey Tautou.

Sem ser brilhante, a espaços "A Residência Espanhola", é uma visão simples, natural, divertida, sensível e inteligente, embora Cédric Klapisch se perca no meio de tantas personagens sem nunca conseguir agarrar o ritmo narrativo e muito menos conseguir manter-se firmemente agarrado ao que pareciam ser as suas primeiras intenções.

NeTo - 6/10