“BABEL” de Alejandro Gonzalez Inarritu
Perdidos em Fragmentos pré-concebidos de Mundo.
“...o cinema possui a especificidade de retratar como nenhum outro média a realidade física. Todos os seus recursos (como, por exemplo a montagem), devem ser usados de modo a fazer fluir no écran a materialidade das coisas, na sua indecibilidade, contingência e complexidade.”
“theory of film, the redemption of physical reality”
Princeton, New Jersey: Princeton University Press,1997
Poderiamos colocar “Babel” lado a lado com a citação acima transcrita, e poderá parecer que tudo bate certo, desde a referência à montagem, a unica especificidade particular do cinema, desde a realidade, desde a referência aos restantes “média”, ao valor obtido através de uma série de observações, desde a possibilidade do imprevisível, até que chocamos na complexidade, a qualidade do que é complexo.
Mas o que é “complexo” afinal?
Utilizado como adjectivo será o “que abrange ou encerra muitos elementos ou partes”, utilizado como substântivo poderá ser “circunstâncias ou actos que têm entre si qualquer ligação ou relação” e utilizado segundo a psicanálise será segundo Freud “o conjunto de representações de forte carga emotiva que se encontram reprimidas no inconsciente do indivíduo e que influenciam a sua vida afectiva”. Tudo parece bater realmente certo com “Babel”, mas também bate certo com “The New World” de Terence Mallick, mas uma ou outra diferença.
Inarritu explora uma narrativa universal, Marrocos, Estados Unidos, México, Japão, na sua actualidade, os dramas de comunicação ou a ausencia dela, os conceito e os preconceitos. E serão os preconceitos, conceito formado antecipadamente que determinam a complexidade de Babel. A complexidade de Babel limita-se ao conceito premeditado, a uma observação superficial e algo simplista de várias pessoas de várias cultura.
O que há de diferente entre mim e o resto do mundo? Tudo, não só a moda, nem a religião nem a língua, mas também a maneira de pensar, de sentir, de sofrer ou de amar. Logo o meu “poder” de observação de “Babel” e do mundo ainda mais, limitado, assim como será o de Inarritu, diremos que será sempre subjectivo assim como será a “complexidade” e a “humanidade” no/do cinema.
A complexidade narrativa de Inarritu, nasce e muito bem na montagem, mas morre na narrativa. Narrativa não enquanto argumento, mas construção apartir de imagem e sons.
De “Babel” guardo algumas interessantes reflexões sobre a comunicação global, não tanto como língua, mas como ciência e tecnologia, num momento em que duas personagens mudas comunicam por um telemóvel por vídeo-chamada. E é a ciência e não a “humanidade” que tem de ser posta em causa, é a o constante declínio do que é a religião, à completa destruição de ideias e conceitos próprios e é a ciência que cria uma completa abstração fria e negra do Homem com o Mundo. Falta a ciência, não como ausencia física de medicamentos ou presença de qualquer tipo de droga, falta um sem numero de questóes e dificuldades de comunicação, falta um sem número de realidade, um sem número de relações da realidade e da abstracção.
Mas é certo que a espaços Inarritu foge do sensassionalismo do preconceito (nada de negativo e muito subjectivo) e em que o principal surge, a relação pai-filho, ou a incomunicabilidade de duas gerações, aqui não está em causa a língua ou as crenças, mas muita ciência escondida.
Para finalizar, e voltando ao “complexo”, a construção da montagem que é complexa como adjectivo e nunca na filmografia de Inarritu talvez fosse tão bem empregue, mas enquanto realização e acto de “pôr-em-cena” o complexo de Inarritu é em grande parte exibicionista e o show-off visual e sonoro, transformam a possivel fascinante viagem è “Torre de Babel” num ciclo de repetições anacrónicas.
“Babel” será em suma, um grupo diferenciado de personagens perdidos num mundo desfragmentado, pela visão de um homem. Mas será tudo assim? Ou há ainda espaço para a reflexão? Eu acredito que existe muito para reflectir, eticamente, tecnicamente e filosoficamente.
Mas por tanto de se falar de incomunicabilidade, não será também estimulante ver o dilema da comunicação em "The New World" de Terrence Mallick? A palavra do lado dos Ingleses e a emoção e ralação com a natureza por partes dos colonos... e não será aqui o grande confronto entre ciência e Homem?