"O Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira
Manoel de Oliveira aos 96 anos de vida, respira cinema e vive cinema. Falar no “mestre” portuense e português do cinema é falar num longo percurso quer tecnico quer narrativo, baseado na experiência apenas devido à sua longa longevidade, e este não será o seu ultimo filme.
Se pensarmos no seu primeiro filme, “Douro, Faina fluvial” de 1931, facilmente nos apercebemos nas influencias exercidas pela escola russa de montagem assim como um pouco do cinema centro-europeu, onde a montagem exercia o verdadeiro caracter filmico do autor.
Mas o anos passaram e o cinema de Oliveira benbe influencias do cinema nordico, por isso falar em Dreyer e Oliveira na mesma poderá ser um lugar comum, mas não será motivo de negação.
O estilo de Manoel de Oliveira não será unico, mas há que reconhecer todo o mérito de Oliveira quer em Portugal (esquecendo para isso todas as questões institucionais), mas acima de tudo o papel de Oliveira no cinema Mundial, onde o reconhecimento é muito e não apenas pela idade, mas por tudo o que significa para o cinema, ou poderemos dizer, para “um cinema” anti-corrente.
Em “Espelho Mágico”, Manoel De Oliveira filma a obsessão religiosa (religião é constante na sua obra) banhado por um intenso lirismo e teatralidade, é claramente um filme de época com personagens modernas, onde a critica à aristocracia é mais que evidente nem que seja pela obsessão da rica Dona Alfreda (Leonor Silveira) em querer presenciar a anunciação de Nossa Senhora. Tal obsessão é o golpe perfeito para dois ex-presidiários interpretados por Ricardo Trêpa e Luis Miguel Cintra.
O elenco é extremamente competente, as presenças habituais de Trêpa, Cintra e Silveira, preenchem cada complexo e denso plano desta narrativa, repleta de introspecção filosófica sobre o tempo e de um peculiar humor que a espaços resulta na perfeição.
A cinematografia é algo que não se descuida num filme de Oliveira, em boa verdade será um dos aspectos mais importantes na sua obra actual, ou não seja cada um dos seus planos ter a necessidade de ser fortemente apelativo quer visual quer narrativamente, e para isso Manoel de Oliveira conta mais uma vez com o contributo de Renato Berta, que conta no seu historial com quase 100 filmes “fotografados” ao lado de nomes como Alain Resnais, Claude Chabrol e Jean Luc Godard.
Na verdade cada imagem de “Espelho Mágico” é um verdadeiro deleite, cada plano é o “espelho” do tempo, é a reflexão das personagens, do publico (?), ou será apenas o reflexo de um cinema que Oliveira respira e o publico rejeita apenas argumentado “é o mal do cinema português... a realização é muito parada”.
Não é o ultimo é apenas mais um, e venha “Belle Toujours” e seja feito o tributo a Luis Buñuel e Jean-Claude Carrière, e claro que seja mais um tributo a um cinema cada vez mais distante.
NeTo – 7/10
"O Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira
por: Luís Carneiro

“[…] quem se encontrou na terra com algum espírito tem o dever de o usar e tanto melhor exercerá a sua missão quanto mais desinteressadamente o fizer; toda a grande obra supõe um sacrifício; e no próprio sacrifício se encontra a mais bela e a mais valiosa das recompensas” – Agostinho da Silva - Glossas [1945].
A evidência do tempo materializa a ineficácia do perfil autoral do Cineasta. Os condicionalismos espaço-temporais limitam a projecção fílmica de um determinado sujeito intelectual ou empírico num campo aberto à clarividência hipócrita embora a reprima no sentido da criação fictícia ou documental.
Manoel de Oliveira abstrai-se do tempo e do espaço e, como António Reis, multiplica as capacidades de recriação estrutural e de normalização cénica. Aqui o tempo do cineasta move o espectador para o seio do significado da obra, que participa de um acontecimento cine-teatral da colocação dos corpos, vozes e movimentações cinéticas. O espaço off da plateia que assiste torna-se então o espelho consciente das personagens. Esta ambiência catapulta o raciocínio, da tela para a multidão liliputiana dos vulgos receptores da significação imagética que desfila perante o seu olhar.

Oliveira realiza para o grande ecrã. Os seus filmes esmagam as ilusões de quem os experiencía. Os seus filmes vagueiam, hoje, involuntariamente, através do marasmo da vulgaridade mental das massas acometidas ao conforto da insistência em matérias já vezes sem conta referenciadas.
Em “O espelho mágico” a lucidez espiritual do patamar secular alcançado pelo realizador exacerba a argumentada contrafacção de imagens a ritmo de marcha. A maratona do sagrado à volta do mundo, tanto físico como abstracto, e a obsessão que daqui advém concentra as forças sob a esfera de um concentrado do quotidiano bonacheirão, mas perspicaz de uma classe mais baixa.
A insistência na busca do transcendente magnetiza o trabalho do autor, trilho latino de Dryer ou de Pasolini benevolente. O protagonista passeia-se no vértice do ser uno. Mas quem é então este personagem? Embora altivo, a música eleva-o e envolve-o como o vento ou um gesto no manto azul da Virgem.
Daqui o concretizar é trágico e fatal.
Luís Carneiro

Jon Stewart foi um anfitrião de qualidade, polémico e caustico, mas com todas as suas deixas e gags a funcionarem na perfeição, desde a que envolve Dick Chenney e o possivel disparo sobre Bjork enquanto esta se vestia para a Gala, até ao facto da fantástica e pertinente associação entre Martin Scorsese e os seus zero oscars, e a o grupo rap, Three 6 Mafia (Hustle & Flow) ter ontem conquistado um oscar.
Conservadorismo pelo facto de também não deixarem os filmes de baixo orçamento dominarem a cerimónia, tanto “Crash” como “Brokeback Mountain” poderiam e deveriam sair da Cerimónia, com mais uma estatueta cada um, “Crash” por melhor música e “Brokeback Mountain” por melhor fotografia, mas a academia preferiu manter a igualdade pelos seus “blockbusters” mais ou menos falhados “Memórias de uma Gueixa” e “King Kong” (também podemos ver como mero golpe publicitário e de relançamento para novos lucros) com os filmes de Paul Haggis e Ang Lee, não deixando assim marcar uma distanciação entre os filmes independentes e os filmes de produção de grandes estúdios.
Uma ultima palavra para o Oscar honorário a um maverick do cinema que já deveria ter vencido, mas que por muitas razões acabou enterrado e abafado por uma industria parcial, que só agora quando Robert Altman já está num estado de saude debil é que se lembram dos grandes feitos deste grande realizador.
Filme de Abertura da Secção Oficial do Fantasporto, “Coisa Ruim” conta com uma forte e interessante campanha de publicidade, para além do argumento escrito por um jornalista conhecido um pouco por todos, Rodrigo Guedes de Carvalho.
O grande mérito irá na exploração do ritmo, não será um filme de montagem vertiginosa e por ventura existiram muitas vozes que dirão algo que me irrita profundamente, “a realização é o normal do cinema português... muito parada”, mas a verdade é que o ritmo existe e a espaços é explorado de forma sublime com recurso a imagen de forte impacto, típicas de quem domina a linguagem e imagem publicitária. Embora com todos os meios que tinham à disposição muito melhor seria possível alcançar.




