Vejamos, um ser de outro mundo aparece, naquele micro-cosmos de Universalidade, e ninguém se atreve a questionar, o quê, porquê e para quê, limitam-se a acreditar naquela história, como se de crianças se tratem? Ou melhor como humanos. Não haverá acto mais claro de humanidade do que ajudar alguém que visivelmente necessita da nossa ajuda, sem questionar o porque... e ainda mais quando é uma história. Quantos de nós questionou a história dos nossos pais e avós?
Assim como as suas personagens, Shyamalan acredita na sua história (ou não fosse ele também uma das personagens), acredita e transforma a narrativa como o cerne de todo o seu filme, de todo o seu Universo. Se em tempos se resumia Shyamalan a “um TWIST”, agora o trabalho de resumo está mais complicado, se já não estava em “Sinais” e principalmente em “A Vila”.
E porque acredita Shyamalan na sua “Story”? Porque é ele que a conta e é ele que é narrado, porque para além de um retrato da sua filmografia é um retrato do próprio Shyamalan e até, num acto “pretencioso” longe da ingenuidade característica, Shyamalan projecta o futuro, de forma figurada, mas mesmo assim muito perto daquilo que poderia acontecer e que após a estreia de “Lady in the Water” tem vindo a acontecer.
Podiamos desde logo referir a personagem do crítico de cinema, mas se recordar-mos o diálogo entre Vick Ran (Shyamalan) e Story, na casa de banho, será fácil perceber as questões em relação ao futuro do autor e claramente aquilo que ele sente a todo o mundo que o circula. Vejamos:
"A boy, in the midwest of this land, will grow up in a home where your book will be on the shelf and spoken of often. He will grow up with these ideas in his head. He will grow into a great orator. He will speak and his words will be heard throughout this land and throughout the world. This boy will become leader of this country and begin a movement of great change. He will speak of you and your words and your book will be the seeds of many of his great thoughts. They will be the seeds of change."
A ninfa (Bryce Dallas Howard) dirige-se desta forma a Vick Ran (Shyamalan), e nada poderia ser mais curioso. Como a sua personagem Shyamalan não vê a sua obra reconhecida, mas acaba por inspirar alguém, a mudança está próxima. E assim será, se deus quiser, “Lady in the Water” estará escondido numa prateleira qualquer, devido às críticas de uma América fechada no mercantismo, mas um dia alguém se inspirará neste filme e os modelos narrativos rígidos serão postos em causa.
Shyamalan inspirará alguém, como foi inspirado pelo universo de Hitchcock e Spielberg... existem dúvidas?