"Cinema Apocaliptico"
por Luís Carneiro
“No one would have believed in the last years of the nineteenth century
that this world was being watched keenly and closely by intelligences
greater than man's and yet as mortal as his own.” – “War of the Worlds” H.G.Welles A visão apocalíptica do mundo é um imaginário que não abandona a mente humana. Se na era cristã esta era vista à luz da religião, entre fiéis e pecadores, na modernidade, dado o conhecimento que se adquiriu, entretanto, sobre o Homem, esta passou a ser vista como vinda e provocada pelo meio que menos dominamos, o desconhecido - o espaço.
Nos tempos em que decorre uma avalanche de filmes que tratam da destruição da terra tem inundado o panorama cinematográfico internacional. “Armageddon”, “Deep Impact”,”Dias da Independência" “Mars attack”, “Mission to Mars”, “Alien” são apenas exemplos da magnitude deste novo género que surgiu e se intensificou nas últimas duas décadas, dentro da ficção cientifica.
Como é óbvio, o refúgio nesta temática remete para uma necessidade social da humanidade que, vendo o caos, a repetição, o tédio e a monotonia invadir a sociedade em que vive, busca no seu mais profundo imaginário uma categoria superior de seres habitantes num mundo melhor do que o terrestre, mais evoluído e ambicioso (até mesmo espécies habitantes do nosso planeta), dispostos a pôr-nos um fim (seja qual for a forma) e, assim, libertar-nos do cataclismo que se vai adensando ao nosso redor.
Estes seres têm, usualmente, diversas formas. Tanto são inertes, como meteoros e meteoritos, cometas, ou vivos, como bactérias, vírus, bestas selvagens ou extraterrestres.
A preocupação não é actual, mas sim crescente. É aqui, então, que surge a obra de
H.G. Wells, “A Guerra dos Mundos”. Publicada nos finais do século XIX, esta tornar-se-ia numa das mais aclamadas obras da literatura fantástica de todos os tempos, inspirando todos os autores que a ela se seguiram.
Aqui é tratada a impavidez do Homem. A sua desatenção para com as coisas mais óbvias da vida. Sentindo-se dono e senhor do universo, a humanidade auto-conduz-se, inconsciente e despreocupadamente para o seu fim. O Homem não se encontra sozinho, mas sim observado por outros seres que não o encaram, claramente, como uma raça amiga, como pensaríamos, mas, pelo contrário, como alvo a abater. Os terrestres são, assim, atacados, exterminados, sendo então despertos para a realidade e para a luta extrema pela sobrevivência no epicentro de um extermínio racial.
É o medo do futuro que emana nestas histórias. O temor pela incerteza do nosso destino.
Atribuo a
Steven Spielberg, nos tempos modernos que decorrem, o mesmo papel que tiveram
H.G. Wells e
Júlio Verne nas suas respectivas épocas, em obras como a já referida “
A Guerra dos Mundos”, “
A Máquina do tempo”, “
O homem invisível”, “
Viagem ao centro da Terra”, entre outros...
Na parte da obra de
Spielberg à qual eu denomino de “
cinema apocalíptico”, nota-se uma certa evolução desde o despertar da consciência dos espectadores para esta problemática, até um desenvolvimento e exposição do que preocupa o realizador e do que quer fazer ver à sociedade, até a uma fase actual de catarse em que o inconsciente do observador sabe já o que está diante dos seus olhos, mas que é apresentado de diferentes perspectivas e intensidades, de acordo com as circunstâncias vividas.
“
Encontros imediatos do terceiro grau”, de 1977, foi o começo da sessão de consciencialização de pequenez e finitude da nossa raça em relação às nossas concepções estabelecidas, iniciada pelo realizador norte-americano. Spielberg, aqui, provoca um choque no Homem. Apresenta-o ao seu imaginário, e condu-lo às suas intenções e aos motivos que o move. A sociedade contemporânea do filme foi obrigada a reconhecer que estes seres os amedrontavam, faziam parte das suas vidas, mesmo que só no seu pensamento, nos seus traumas ou nas suas necessidades metafísicas de libertação. Faz parte da fase de despertar.
Com “
E.T.: o extra terrestre”, de 1982, dá-se a exposição do tema do nosso imaginário. Nele, através de elementos psicológicos, é-nos explicada a atracção-repulsiva que por estas criaturas temos. Ou seja, são-nos incutidos os motivos que nos levam a aproximar deles, de certa forma, a deseja-los, a desejar a sua acção para com a nossa sociedade, para com a nossa vida, mesmo que, no fim, nos conduzam até à morte.
Em “
Jurassic Park”, de 1993, Spielberg quer mostrar que o temor não vem só de fora. Também no nosso planeta, no nosso meio existem monstros que nos assombram, que nos horrorizam e terrificam. Aqui é a gula e a curiosidade extrema do Homem que o conduz ao seu possível e provável final. O Homem, ao trazer de volta os dinossauros do passado, dá-lhes a possibilidade de vingarem a sua extinção provocada pela evolução despreocupada da nossa espécie.
Por fim, “
AI – Inteligência Artificial”, de 2001 e “
A Guerra dos Mundos”, de 2005, surgem-nos numa fase de maturação. Nestes o realizador já busca explicar os seus propósitos por outras vias, particularmente o relacionamento humano, as suas emoções e sensações para com o próximo, mas sempre sendo impedido ou bloqueado por uma ameaça exterior que o impede de concretizar as suas acções e atingir os seus fins e propósitos.
Vejo este cinema (apocalíptico) de
Steven Spielberg como um espelho dos medos, temores e incertezas do Homem, o qual nos é apontado (à semelhança da cena de “
A Guerra dos Mundos”, agora nos cinemas) para que nele nos reflictamos e nos apercebamos do que realmente nos move, e do que realmente nos faz recuar, avançar, sofrer, temer, consciencializar-nos do que realmente somos e não do que julgamos ser, pois tudo vai muito mais além disso.
Luís Carneiro aka sir_blackmore
julho 2005